Na segunda metade da década
de 60 o Psychedelic Rock era semeado
e estabelecido na então boémia cidade de San
Francisco, Califórnia (EUA). Bandas como Grateful Dead, Jefferson
Airplane, Big Brother & the
Holding Company (com a Janis Joplin
de microfone empunhado), Quicksilver
Messenger Service e Santana representavam alguns dos
principais colonizadores do chamado San Francisco Sound que levaria toda
a juventude contestatária local (hippies)
a vivenciar nos parques bem como nos clubes nocturnos da cidade um sublime
estado de êxtase nunca antes testemunhado. San Francisco perpetuava, assim, o
honroso desígnio de cidade-ventre do Psychedelic
Rock (rivalizando com o Psicadelismo Pink
Floyd’eano sediado em Londres), variante da música Rock que viria a
conhecer novas ramificações como o Heavy
Psych Rock natural de uns Blue Cheer
ou Shiver (bandas oriundas da cidade de San
Francisco). Com o espreguiçar do tempo, o Psych
Rock foi escoando até ao sul do estado californiano, empobrecendo
musicalmente a cidade de San Francisco, e tem, nos dias de hoje, uma forte, especial e
destacada presença na cidade de San
Diego (cidade que considero ser a actual Meca do Heavy Psych) onde bandas como Earthless,
Joy, Harsh Toke, Monarch e Sacri Monti transpiram saúde e
qualidade. Ainda assim San Francisco parece ter preservado uma especial
atmosfera sonora que hoje climatiza bandas como Om, Acid King, Sleepy Sun, Assemble Head in Sunburst Sound, The Mermen e os
recém-nascidos Banquet (dos quais
falarei de seguida).
Com o lançamento oficial agendado
para o dia de hoje (26 de Fevereiro)
pelo – cada vez mais influente – selo romano Heavy Psych Sounds, este “Jupiter Rose” trata-se de uma elegante e
arrebatadora obra-prima do Heavy Psych
californiano que tem tudo para marcar presença no pelotão final dos melhores
discos de 2016. A sua sonoridade intensamente explosiva, eufórica e alucinante é
libertada sem qualquer moderação, fazendo deste “Jupiter Rose” uma verdadeira
injecção de adrenalina que nos endoidece do primeiro ao último tema. O seu estonteante
e excitante Heavy Psych banhado pelo
erosivo efeito fuzz provoca em nós múltiplos
e descontrolados espasmos de prazer elevando-nos ao puro êxtase. Tentem deter
as duas guitarras endiabradas que à velocidade da luz se transcendem em solos
tremendamente entusiásticos, desvairados e vertiginosos, criadores de uma
hipnótica e deslumbrante espiral que nos consome e estarrece, e se envaidece com
admiráveis riffs de natureza sedutora.
Atentem as velozes, possantes e deliciosamente ritmadas linhas de um baixo
dançante que, firmemente agarrado ao véu das duas guitarras, se ostenta destacadamente
neste caótico e delirante carrossel. Soltem as cabeças na resposta a uma fogosa
e incitante bateria de balanceamento ofensivo que se supera numa performance
verdadeiramente redentora. E como se tudo isto já não bastasse para nos sacudir
violentamente ao longo dos sete temas que dão corpo a “Jupiter Rose”, ainda
somos surpreendidos por uma voz jovial, radiosa e berrante que espevita
desmedidamente o instrumental. Este é, para mim e até ao momento, o que de melhor
saiu em 2016 e a ressaca do mesmo promete perdurar durante muito, muito tempo
em mim. Testemunhem esta maciça detonação de prazer que vos obrigará a despir os
corpos e transcender pela envolvente e infinita vastidão cósmica.
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