Desde que me conheço que
sinto uma intratável afeição por sonoridades melancólicas. E isso explica o
fascínio que sentira por Shades logo
na primeira audição que lhe dedicara. Este dueto natural da cidade portuguesa
de Tomar traz-nos o lado soturno,
contemplativo e outonal da música Folk.
‘Splitting
the Light’ é o seu álbum de estreia – lançado em solo primaveril – que
encerra uma verdadeira ode à soturnidade. Emocionantemente dedilhada por duas lamuriosas
guitarras acústicas que se entrelaçam e desatam em obscuros, plangentes e
hipnóticos acordes, a sonoridade bucólica de Shades tem o dom de nos respirar, inebriar, tombar o rosto de
encontro ao peito, cerrar as pálpebras e enlutar a alma. A sua essência
pesarosa convida-nos a vivenciar um poderoso e perdurável estado de inércia que
nos adorna e embacia a lucidez do primeiro ao último tema. É demasiado fácil recostarmo-nos
confortavelmente na penumbra à boleia da triste narrativa de ‘Splitting the Light’, e
deixar que esta nos conduza pelas suas distensíveis paisagens cataclísmicas, solitárias
e desoladoras. Entreguem-se detidamente à bela solitude de Shades e comunguem a doce paralisia que vos amenizará e anestesiará
do primeiro ao último acorde. Um dos álbuns portugueses mais envolventes do ano
está aqui, na entristecida e acinzentada natureza de ‘Splitting the Light’.
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