terça-feira, 10 de abril de 2018

Review: ⚡ Shine - 'Moon Wedding' (2018) ⚡

Da Polónia chega-nos o poderoso álbum de estreia de Shine, um quarteto muito promissor enraizado na cidade sulista de Bielsko-Biała. Lançado unicamente em formato digital no final do passado mês de Março através da sua página oficial de Bandcamp, este ‘Moon Wedding’ vem nutrido e robustecido de um tenebroso, prepotente, lamacento e ostentoso Stoner-Doom manchado e sobrecarregado de THC (Tetraidrocanabinol). A sua sonoridade verdadeiramente intrigante, monolítica, obscura e magnetizante – assombrada por uma densa, intensa e psicotrópica nebulosidade, e locomovida a uma lenta e carregada ritmicidade – tem o dom de nos possuir, eclipsar e soterrar nas profundezas da misantropia, deixando-nos completamente entregues a uma inércia que nos anestesia membros e sentidos. É de olhar empedernecido e semi-cerrado, cabeça detidamente entregue a uma pesada dança pendular de ombro a ombro, semblante taciturno, e alma completamente embebida numa doce, prazerosa e lisérgica narcose que inalo e comungo todo o fumarento, esverdeado e luciférico bafo de Shine. São cerca de 39 minutos – distribuídos pelos cinco temas que o ensombram – governados e aureolados por um morfínico ritual que nos insensibiliza, extasia e canaliza para uma delongada, sonolenta e arrebatada odisseia pelas artérias da nossa espiritualidade. Deixem-se enlutar pela conturbada, negra e saturada radiância exalada de ‘Moon Wedding’ ao supremo som de duas guitarras titânicas que se amuralham em riffs umbrosos, turvos, sinistros e majestosos, e se desvairam em ululantes, alucinógenos, hipnóticos e ziguezagueantes solos, um baixo massivo de reverberação possante, tensa e musculada, uma bateria ardente e explosiva de galope encorpado, forte e arrastado, e ainda uma voz distorcida, avinagrada, ecoante e ofuscada que nos dilacera e absorve a lucidez. Este é um álbum atormentado por uma veemente ambiência infernal que nos amortalha e enfeitiça do primeiro ao derradeiro minuto. Um registo portador de uma alma entorpecida, melancólica e endiabrada que vos hibernará e imortalizará num perfeito e imperturbável estádio de redentora sedação. ‘Moon Wedding’ deve ser rodado, ouvido e venerado na penumbra, de corpo relaxado e rosto tombado sobre o peito. Interiorizem toda a sua lenitiva exalação e sintam-se embaciar e levitar aos inebriantes, lúgubres e brumosos céus de Shine. Já tinha saudades de um disco assim.

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