sexta-feira, 18 de maio de 2018

Review: ⚡ Bombino - 'Deran' (2018) ⚡

O talentoso e inspirador músico tuaregue Bombino acaba de lançar o seu sexto álbum ‘Deran’ pela mão do selo discográfico independente Partisan Records nos formatos físicos de CD e vinil. Sou um velho entusiasta deste aclamado sultão natural da cidade africana de Agadèz (اغادیز) localizada no coração da República do Níger e tê-lo vivenciado em palco no já distante ano de 2012 (review aqui) só intensificara toda a admiração que por ele nutro. Este fascinante nómada de guitarra empunhada, olhar selado, pé calejado, véu índigo e pele tisnada concebe e floresce um ardente, hipnotizante, tribalístico e imensamente contagiante Desert Blues – de soberbas e indiscretas aproximações rítmicas à música Reggae e Funk – que nos intriga, instiga e obriga a dançá-lo de forma detida, extrovertida e extravagantemente. A sua sonoridade de envolvência sagrada – padronizada por um encantador etnicismo e de tonalidade sépia – leva-nos a sobrevoar todo um cintilante e bronzeado tapete desértico, dos mais altos minaretes das mesquitas aos distensíveis mares arenosos de dunas ondulantes, aveludadas, ruborizadas e fervilhantes que se desdobram e espreguiçam pelo firmamento adentro. ‘Deran’ representa o sexto e novo capítulo desta deslumbrante digressão messiânica – debaixo de um Sol vigilante, corado e de bafo quente – que facilmente converterá em seu apóstolo quem na sua doutrina sonora comungar. Desmaiem as pálpebras, pendulem o corpo e enlevem a alma ao edénico e redentor som de uma guitarra endeusada e xamânica que com os seus acordes líricos, místicos e ostentosos, assim como com os seus solos serpenteantes, adoráveis, sublimes e alucinantes nos inebria e afogueia de prazer, uma voz crua, destemperada e liderante que – apoiado e em comunhão com outras tantas – vocaliza e simboliza toda uma invencível rebelião, um baixo de sussurros reverberantes – orientado a linhas pulsantes, sombreadas, dinâmicas e bailantes – que se passeia e mareia numa harmoniosa e ostentosa manifestação, uma percussão mexida, abrasadora e verdadeiramente provocante – guarnecida e conduzida a uma ritmicidade emotiva, erótica e magnetizante – que incentiva e vivifica todo o álbum. ‘Deran’ é um álbum de natureza empolgante – tocado e cantado em dialeto tuaregue – que nos atiça e agita do primeiro ao derradeiro tema. Um verdadeiro oásis espiritual de absorção auditiva. Embrenhem-se e perfumem-se na sua religiosa, ataráxica e donairosa majestosidade de ‘Deran’ e experienciem com plena veneração, entrega e comoção um dos mais incontornáveis, afáveis e maravilhosos discos de 2018. Dancem-no até à exaustão.

Sem comentários: