Do leste europeu chega-nos a
e soberana e rosnante lisergia transpirada pelo poderoso power-trio estoniano Mang
Ont com o lançamento do seu segundo trabalho de longa duração ‘Maa Sarv’. Apresentado no início do presente
mês de Janeiro numa edição de autor sob a forma física de CD e cassete (este
último ultra-limitado a apenas 50 cópias existentes), este novo álbum desprende
na nossa direcção toda uma monolítica, titânica e portentosa avalanche decibélica
– tomada e cauterizada pelo vulcânico efeito fuzz – que nos persegue ao longo de todo o seu corpo temporal. Orientado
por um nebuloso, saturado, febril e rumoroso Stoner Doom de hálito fumarento e psicotrópico que – aliado a um
meditativo, etéreo e lenitivo psicadelismo de admirável propensão celestial – nos
hipnotiza, asfixia, narcotiza e arremessa na profunda intimidade e vacuidade de
um Cosmos deserto, inóspito e tenebroso, este ‘Maa Sarv’ tem a
capacidade de nos entorpecer o olhar, rebaixar as pálpebras e tombar o semblante
de encontro ao peito. Soterrados na sua espessa, intensa e sísmica reverberação
sonora, somos canalizados e viajados numa envolvente hipnose que nos preenche
de morfina via auditiva. Revolvam-se pausada e detidamente num perfeito estádio
de sonambulismo ao místico som de uma guitarra intoxicante que se hasteia em tensos,
corpulentos, embaciados e obscurecidos riffs,
e se supera em ecoantes, gélidos, alucinógenos e atordoantes solos, um baixo melancólico
conduzido a linhas bafejantes, tonificadas, onduladas e ressonantes, e uma
bateria ardente de ofensivas vigorosas, dinâmicas e impetuosas. Num contexto
secundário, é-me ainda importante destacar e elogiar os vocais distorcidos,
avinagrados, frígidos e espectrais que se desprendem das mais sepultadas trevas
para se enfatizarem à tona desta abissal narcose. Chego ao final dos 46 minutos
que balizam os três temas do álbum completamente alcoolizado e arrebatado pela
sua poderosa toxicidade. ‘Maa Sarv’ é um disco adornado e nebulizado
por uma anestésica e encantadora atmosfera que nos sorve a lucidez e petrifica num
perfeito estádio de embriaguez. Vivenciem de forma detida e compenetrada toda
esta imersiva odisseia de corpo embriagado e algemado pela inércia, e
consciência libertada e derramada pela vertiginosa infinidade que se desdobra
nos firmamentos do negrume estelar. Indubitavelmente o registo mais coeso e impactante
da ainda parca e modesta discografia de Mang
Ont que causara em mim toda uma duradoura ressaca difícil de afugentar.
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