quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Review: ⚡ Mang Ont - ‘Maa Sarv’ (2019) ⚡

Do leste europeu chega-nos a e soberana e rosnante lisergia transpirada pelo poderoso power-trio estoniano Mang Ont com o lançamento do seu segundo trabalho de longa duração ‘Maa Sarv’. Apresentado no início do presente mês de Janeiro numa edição de autor sob a forma física de CD e cassete (este último ultra-limitado a apenas 50 cópias existentes), este novo álbum desprende na nossa direcção toda uma monolítica, titânica e portentosa avalanche decibélica – tomada e cauterizada pelo vulcânico efeito fuzz – que nos persegue ao longo de todo o seu corpo temporal. Orientado por um nebuloso, saturado, febril e rumoroso Stoner Doom de hálito fumarento e psicotrópico que – aliado a um meditativo, etéreo e lenitivo psicadelismo de admirável propensão celestial – nos hipnotiza, asfixia, narcotiza e arremessa na profunda intimidade e vacuidade de um Cosmos deserto, inóspito e tenebroso, este ‘Maa Sarv’ tem a capacidade de nos entorpecer o olhar, rebaixar as pálpebras e tombar o semblante de encontro ao peito. Soterrados na sua espessa, intensa e sísmica reverberação sonora, somos canalizados e viajados numa envolvente hipnose que nos preenche de morfina via auditiva. Revolvam-se pausada e detidamente num perfeito estádio de sonambulismo ao místico som de uma guitarra intoxicante que se hasteia em tensos, corpulentos, embaciados e obscurecidos riffs, e se supera em ecoantes, gélidos, alucinógenos e atordoantes solos, um baixo melancólico conduzido a linhas bafejantes, tonificadas, onduladas e ressonantes, e uma bateria ardente de ofensivas vigorosas, dinâmicas e impetuosas. Num contexto secundário, é-me ainda importante destacar e elogiar os vocais distorcidos, avinagrados, frígidos e espectrais que se desprendem das mais sepultadas trevas para se enfatizarem à tona desta abissal narcose. Chego ao final dos 46 minutos que balizam os três temas do álbum completamente alcoolizado e arrebatado pela sua poderosa toxicidade. ‘Maa Sarv’ é um disco adornado e nebulizado por uma anestésica e encantadora atmosfera que nos sorve a lucidez e petrifica num perfeito estádio de embriaguez. Vivenciem de forma detida e compenetrada toda esta imersiva odisseia de corpo embriagado e algemado pela inércia, e consciência libertada e derramada pela vertiginosa infinidade que se desdobra nos firmamentos do negrume estelar. Indubitavelmente o registo mais coeso e impactante da ainda parca e modesta discografia de Mang Ont que causara em mim toda uma duradoura ressaca difícil de afugentar.

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