domingo, 10 de março de 2019

Review: ⚡ The Picturebooks - 'The Hands of Time‘ (2019) ⚡

Estes dois amigos inseparáveis – artisticamente apelidados de The Picturebooks – estão de regresso com o tão aguardado lançamento do seu quinto álbum intitulado ‘The Hands of Time’ e promovido pela mão da gravadora independente e multinacional Century Media Records sob a forma física de CD e vinil. Munidos de uma bateria minimalista, uma guitarra canonizada pelo poeirento espírito do velho e saudoso Blues e uma voz galã, este apaixonante power-duo natural da cidade alemã de Gütersloh mas de alma atracada nos carismáticos desertos norte-americanos presenteia todos os seus ouvintes com uma embriagante e dançante dosagem de Garage-Blues e de Rhythm & Blues. A sua sonoridade árida, sépia e ensolarada – bronzeada e melificada por um fascinante Blues de inspiração tanto rudimentar como contemporânea que conjuga na perfeição a essência pantanosa e ferrugenta de um mítico Muddy Waters com a agradável e eloquente atmosfera Western’eana de uns Calexico e ainda com a sedutora e instigadora extravagância de uns Black Keys – remete-nos para as empoeiradas artérias do deserto de Mojave a trote de uma clássica motorizada, de cabelos despregados ao sabor da brisa desértica e olhar esbatido no temulento firmamento afogueado por um intenso Sol de bafagem ardente e perfumada. É de olhar selado, sorriso perpetuado no rosto e corpo detidamente entregue a movimentos serpenteantes que nos deixamos envolver na batida pesada e insistente de uma bateria tribalista que dispensa a rutilante ardência dos pratos e galopa por entre os seus rumorosos timbalões de grandes dimensões, uma guitarra afrodisíaca de tonalidade tórrida que se envaidece na orientação de radiosos, deliciosos e elegantes acordes de ritmicidade contagiante, e uma uivante e voluptuosa voz oleada e temperada pela música Soul que nos provoca toda uma saturada combustão de prazer. ‘The Hands of Time’ é um álbum de simetria e cadência irresistíveis que nos faz experienciá-lo de cabeça rodopiante, dedos a estalar e pés a martelar o solo. Este trata-se indubitavelmente do meu álbum favorito produzido por este dueto de motards que desde há 10 anos satisfaz todos aqueles que – tal como eu – há muito venderam a alma ao Blues. Verdadeira pornografia via auditiva. Deixem-se embevecer e enlouquecer pelo tremendo poder de sedução que este novo álbum de The Picturebooks irradia, e sintam o forte e fecundante odor a gasolina bafejado pelos canos de escape destes cowboys germânicos à conquista em duas rodas do inspirador deserto norte-americano. Estamos seguramente na presença de um dos mais aclamados registos lançados até ao momento neste já abastado ano musical de 2019. Empoeirem-se nele.

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