segunda-feira, 27 de maio de 2019

Review: ⚡ Travo - 'Ano Luz' (2019) ⚡

Nos últimos dez anos Portugal testemunhara um crescimento exponencial no que ao aparecimento e sustento de novas bandas ligadas ao lado underground da música Rock diz respeito, e hoje vive-se toda uma cúmplice conjugação entre a diversidade e a qualidade, saciando até os mais exóticos gostos dos ouvidos lusitanos. E é nesse contexto de amor e vaidade próprios que a música Rock nacional ostenta que aponto os holofotes para o quarteto bracarense Travo e verto para o universo lírico tudo aquilo que o seu recém-nascido álbum de estreia em mim provocara. Lançado no passado dia 25 de Maio através da sua página de Bandcamp e unicamente em formato digital, ‘Ano Luz’ encerra um eloquente sortido sonoro de onde sobressai um deslumbrante, atmosférico e envolvente Psych Rock de indiscretas aproximações a um narrativo Post-Rock de natureza cinematográfica, um meditativo, hipnotizante e imersivo Krautrock e ainda um viajante, alienígena e entusiasmante Space Rock. A sua musicalidade de propensão astral tem o dom de enfeitiçar e exorcizar a nossa espiritualidade, desprendendo-a da gravidade consciencial e derramando-a pela vasta vacuidade de um Cosmos sonolento e solitário. Uma digressão evolutiva pelos maravilhosos firmamentos celestiais, onde chamejantes fornalhas estelares farolizam e magnetizam a nossa atenção, e índigos e gélidos cometas golpeiam de luz todo o intenso negrume que encobre a infinidade espacial. Deixem-se embalar e fascinar por toda esta odisseia galáctica à adorável boleia de duas guitarras endeusadas que se atam em extasiantes, sublimes e cativantes riffs, e desatam em delirantes, ácidos, alucinógenos e atordoantes solos, um baixo compenetrado e carregado a linhas murmurantes, leves, fluídas e oscilantes, uma ardente bateria de ritmicidade destravada, expansiva e descomplicada, um mágico sintetizador de idioma alienígena que perfuma e sulfata toda esta atmosfera com uma embriagante e intrigante dosagem de experimentalismo e exotismo sónico, e ainda uma harmoniosa, espectral e sedosa voz – de contornos proféticos e poéticos a fazer lembrar José Cid ao volante do seu mítico ‘10.000 anos depois entre Vénus e Marte’ – que apenas floresce já no último suspiro do derradeiro tema que encerra este magnífico ‘Ano Luz’. De destacar e aclamar ainda o fantástico artwork de créditos apontados ao artista português Guilherme Dourart que interpretara com perfeita exatidão tudo o que a música de Travo concebe e alimenta no imaginário do ouvinte: a gloriosa e redentora eclosão da alma pela vertiginosa verticalidade do universo, deixando para trás um corpo completamente inanimado e arrebatado. Este é um álbum verdadeiramente comovente que tanto nos paralisa e eteriza de uma doce e febril inércia, como nos atesta e infesta de uma intensa e incontida euforia. Sintam-se dissolver e perecer nas profundezas siderais de ‘Ano Luz’, e converter em destemidos astronautas do vosso Cosmos interior. Um autêntico bálsamo para todos os nossos membros e sentidos.

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2 comentários:

flip disse...

Fantástica review, e fantástica banda, concordo com tudo !

flip disse...

Fantástica review, e fantástica banda, concordo com tudo ! Um brilhante futuro avizinha-se para estes rapazes !