domingo, 15 de dezembro de 2019

Review: ⚡ Electric Moon - 'Cellar Overdose' (2012/2019) ⚡

Primeiramente lançado no já distante ano de 2012 através dos formatos físicos de CD-R e vinil (entretanto já esgotados) pela Sulatron Records, o fabuloso registo ao vivo ‘Cellar Overdose’ dos cosmonautas musicais Electric Moon de bandeira alemã tricotada no braço recebe agora a merecida reedição pela mão do recém-fundado selo discográfico germânico Worst Bassist Records (criado pela Lulu Komet, conhecida ilustradora e baixista de Electric Moon e Zone Six, como resposta humorada a um comentário depreciativo colocado no Youtube acerca do seu trabalho enquanto baixista ao serviço de Electric Moon) sob a forma física de CD e vinil (ambos ultra-limitados à prensagem de apenas 500 cópias disponíveis). Captado ao vivo em 2011 num concerto dado na cidade alemã de Darmstadt, este álbum ressurge agora à tona do protagonismo depois de ter sido soterrado na infindável discografia desta banda que continua a materializar todo a sua inesgotável inspiração em sucessivas visitas ao estúdio de gravação. ‘Cellar Overdose’ encerra toda a catártica, imersiva e nirvânica experiência que é vivenciar Electric Moon acima de palco. Conta a minha experiência pessoal, que se trata mesmo de uma das bandas mais hipnóticas e marcantes quando comungada nesse registo ao vivo. Uma perfeita combustão de êxtase proveniente da fusão entre um meditativo Space Rock, um anestésico Krautrock e ainda um colorido Psychedelic Rock que se soergue de uma densa, pesada e intensa narcose embrumada a morfina até uma electrizante, caótica e incandescente euforia que nos sacode e implode pela incomensurável vastidão do nosso Cosmos interior. De olhar hasteado na vertiginosa direcção do espaço sideral, e espiritualidade içada pela enigmática influência que governa o lado eclipsado da Lua, somos viajados pelo forte negrume cósmico onde chamejantes fornalhas estelares farolizam e magnetizam a nossa atenção. ‘Cellar Overdose’ é um embriagado, envolvente e sublimado ritual de essência condimentada a misticismo e reverentes preces apontadas aos astros suspensos nos mais intangíveis territórios do Universo, onde só a imaginação humana consegue alcançar e vislumbrar. Uma evolutiva e inventiva odisseia sonora que nos esgota a lucidez e atesta de embriaguez. Deixem-se embevecer, entorpecer e purificar ao intoxicante som de uma guitarra alquimista – de idioma alienígena – que se deixa dissolver e enlouquecer num profundo experimentalismo sónico onde toda uma frenética profusão de ácidos solos entra em erupção, um baixo hipnotizante de reverberação pulsante, sombria, torneada e possante que murmura repetidamente o Riff base sem nunca o perder de vista, e uma bateria estimulante que tiquetaqueia com uma ritmicidade cintilante, relaxada e ecoante toda esta quimérica narcose que nos desagua e atraca num perfeito estádio de transe espiritual. De destacar ainda o prodigioso artwork – de orientação regida pelo intrigante misticismo cósmico – superiormente detalhado pelo já carismático ilustrador italiano MontDoom. Este registo ao vivo adjectiva-se como um poderoso alucinógeno que libertará os ouvintes da gravidade terrestre para o naufragar pelos inacabáveis e renováveis mares que oxigenam toda a vacuidade de um Cosmos bocejante. Entrem em órbita de ‘Cellar Overdose’ e deixem-se capitanear pela mágica e dominante influência que o mesmo destila através das suas incríveis jams instrumentais. Este álbum servira também para reacender o meu intratável anseio de rever ao vivo toda a profética alquimia de Electric Moon. Espero poder saciá-lo (ainda que temporariamente) muito em breve.

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