Primeiramente lançado no já
distante ano de 2012 através dos formatos físicos de CD-R e vinil (entretanto
já esgotados) pela Sulatron Records, o fabuloso registo ao vivo ‘Cellar
Overdose’ dos cosmonautas musicais Electric Moon de bandeira alemã
tricotada no braço recebe agora a merecida reedição pela mão do recém-fundado
selo discográfico germânico Worst Bassist Records (criado pela Lulu
Komet, conhecida ilustradora e baixista de Electric Moon e Zone
Six, como resposta humorada a um comentário depreciativo colocado no Youtube
acerca do seu trabalho enquanto baixista ao serviço de Electric Moon) sob
a forma física de CD e vinil (ambos ultra-limitados à prensagem de apenas 500
cópias disponíveis). Captado ao vivo em 2011 num concerto dado na cidade alemã
de Darmstadt, este álbum ressurge agora à tona do protagonismo depois de
ter sido soterrado na infindável discografia desta banda que continua a
materializar todo a sua inesgotável inspiração em sucessivas visitas ao estúdio
de gravação. ‘Cellar Overdose’ encerra toda a catártica, imersiva
e nirvânica experiência que é vivenciar Electric Moon acima de palco.
Conta a minha experiência pessoal, que se trata mesmo de uma das bandas mais hipnóticas
e marcantes quando comungada nesse registo ao vivo. Uma perfeita combustão de êxtase proveniente da fusão entre um meditativo Space Rock, um anestésico Krautrock e ainda um colorido Psychedelic Rock que se soergue de uma densa, pesada e intensa narcose embrumada a morfina até
uma electrizante, caótica e incandescente euforia que nos sacode e implode pela
incomensurável vastidão do nosso Cosmos interior. De olhar hasteado na vertiginosa
direcção do espaço sideral, e espiritualidade içada pela enigmática influência
que governa o lado eclipsado da Lua, somos viajados pelo forte negrume cósmico onde
chamejantes fornalhas estelares farolizam e magnetizam a nossa atenção. ‘Cellar
Overdose’ é um embriagado, envolvente e sublimado ritual de essência
condimentada a misticismo e reverentes preces apontadas aos astros suspensos
nos mais intangíveis territórios do Universo, onde só a imaginação humana
consegue alcançar e vislumbrar. Uma evolutiva e inventiva odisseia sonora que
nos esgota a lucidez e atesta de embriaguez. Deixem-se embevecer, entorpecer e purificar
ao intoxicante som de uma guitarra alquimista – de idioma alienígena – que se
deixa dissolver e enlouquecer num profundo experimentalismo sónico onde toda
uma frenética profusão de ácidos solos entra em erupção, um baixo hipnotizante
de reverberação pulsante, sombria, torneada e possante que murmura repetidamente
o Riff base sem nunca o perder de vista, e uma bateria estimulante que
tiquetaqueia com uma ritmicidade cintilante, relaxada e ecoante toda esta
quimérica narcose que nos desagua e atraca num perfeito estádio de transe
espiritual. De destacar ainda o prodigioso artwork – de orientação
regida pelo intrigante misticismo cósmico – superiormente detalhado pelo já carismático
ilustrador italiano MontDoom. Este registo ao vivo adjectiva-se como um
poderoso alucinógeno que libertará os ouvintes da gravidade terrestre para o
naufragar pelos inacabáveis e renováveis mares que oxigenam toda a vacuidade de
um Cosmos bocejante. Entrem em órbita de ‘Cellar Overdose’ e
deixem-se capitanear pela mágica e dominante influência que o mesmo destila
através das suas incríveis jams instrumentais. Este álbum servira também
para reacender o meu intratável anseio de rever ao vivo toda a profética
alquimia de Electric Moon. Espero poder saciá-lo (ainda que
temporariamente) muito em breve.
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