quarta-feira, 29 de abril de 2020

Review: ⚡ Anjo Gabriel - 'Anjo Gabriel' (2020) ⚡

Da outra margem do Oceano Atlântico chega-nos o tão esperado regresso da talentosa formação brasileira Anjo Gabriel com a apresentação do seu novo álbum de designação homónima e gravação analógica, que acaba de ser lançado exclusivamente em formato digital através da sua página de Bandcamp oficial. Natural da cidade do Recife – situada no nordeste do Brasil – este quarteto com sensivelmente uma década de existência e que não prescinde do acréscimo de outros músicos e consequentes instrumentos de forma a enriquecer a sua exótica musicalidade, tem em ‘Anjo Gabriel’ a natural extensão da orientação sonora que tem farolizado toda a discografia da banda sul-americana. Fundamentada num deslumbrante, colorido, veraneio e contagiante Psychedelic Rock de aroma tropical em harmoniosa, erótica e calorosa parceria com um ondeante, lenitivo, meditativo e hipnotizante Krautrock de brisas orientais, e ainda um extravagante, orquestral, cerebral e delirante Progressive Rock de coreografia carnavalesca, a labiríntica, sinuosa, caprichosa e enérgica sonoridade deste frutado registo vem trajada, maquilhada e condimentada por um criativo experimentalismo sem fronteiras que o inibam ou balizem. De alma arrebatada e atenção atrelada à sofisticada, aparatosa, revivalista e perfumada musicalidade de ‘Anjo Gabriel’, somos envolvidos, seduzidos e canalizados pelas frondosas selvas brasileiras onde os nossos sentidos se perdem e encontram num ofuscante, imersivo e atordoante caleidoscópio. Na génese deste arábico, aliciante e principesco misticismo está uma guitarra faraónica de Riffs serpenteantes, religiosos, majestosos e intrigantes e trepidantes, ácidos, alucinados e transbordantes solos que facilmente me remetera para o psicadelismo burlesco do ícone latino Carlos Santana, um imponente baixo de reverberação flutuante, espessa e dançante, uma bateria circense de galopante, acrobática e provocante ritmicidade – brilhantemente sombreada por uma ritualística percussão de natureza e destreza tribalista – um carismático órgão de luxuosos bailados, um mágico sintetizador que exorciza as estrelas, e um enigmático theremin de idioma alienígena. Num plano secundário ‘Anjo Gabriel’ é também visitado por um Oud de envolvência pérsica, um violino de enfeitiçantes uivos, um didgeridoo de hálito monocórdico, e um messiânico coro vocal. Este é um álbum tremendamente complexo que combina contrastadas substâncias. Uma obra de elaboradas composições que nos escancara toda uma parafernália de inexperimentadas sensações. Empoeirem-se nos aromáticos condimentos desta vibrante, animada e inebriante formação brasileira e experienciem como puderem toda esta abstrata detonação de puro prazer. Um dos álbuns mais estimulantes do ano está seguramente aqui, na triunfante renascença do Anjo Gabriel.

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