quarta-feira, 3 de junho de 2020

Review: ⚡ Centre El Muusa - 'Centre El Muusa' (2020) ⚡

Da inesperada Estónia chega-nos uma das mais agradáveis e veneráveis surpresas sonoras do ano. Refiro-me ao homónimo álbum de estreia apresentado pelo quarteto Centre El Muusa que fora lançado no último suspiro do anterior mês de Maio sob a forma física de CD (limitado a 500 cópias disponíveis) e que no final do presente mês de Junho terá uma edição igualmente limitada em formato de vinil pela mão do já consagrado selo discográfico germânico Sulatron Records. Empoeirada e enfeitiçada por um hipnótico, meditativo, imersivo e ritualístico Krautrock a fazer recordar o xamanismo diluviano doutrinado pelos norte-americanos The Myrrors, e um anestésico, nebuloso, odoroso e sidérico Neo-Psych de produção Lo-Fi e sotaque sessentista, a exótica sonoridade de ‘Centre El Muusa’ é ainda aureolada e sobrevoada por um intuitivo, abstracto e criativo experimentalismo electrónico de intrigante atmosfera Sci-Fi. Baloiçando entre edénicas, sublimes, tranquilas e bucólicas paisagens tingidas a doce lisergia que nos ensopam e adormecem os sentidos, e extravagantes, catárticos, enfáticos e labirínticos carnavais de embaciada explosividade instrumental que nos perseguem e endoidecem, somos firmemente embalados numa deslumbrante vertigem e escoados na brumosa intimidade do imaginativo universo de Centre El Muusa. Na génese desta intensa e demorada hipnose – oxigenada e condimentada a uma febril narcose – está uma intoxicante guitarra de Riffs lenitivos, arábicos, serpenteantes e repetitivos de onde espreitam e derramam solos uivantes, ofuscantes, ácidos e inflamantes, um baixo murmurante de linhas magnetizantes, empoladas, ritmadas e ondulantes, uma bateria tribalista de cadência espaçada, ecoante, penetrante e relaxada, um sideral teclado de refrescantes, adoráveis, afáveis e pululantes harmonias, e ainda um perfumado sintetizador de idioma alienígena que vaporiza, colora e eteriza todo este temulento deslumbramento. Farolizados por um transe religioso, somos canalizados para uma fantástica odisseia pelos perpétuos desfiladeiros da nossa espiritualidade. Deixem-se soterrar e embrenhar no denso torpor deste Cosmos bocejante, e experienciar um dos mais poderosos sedativos de interiorização via auditiva. Não vai ser fácil despertar e escapar do compenetrado estado de sonambulismo, em nós instaurado pela toxicidade dos estonianos Centre El Muusa, e resgatar a lucidez que nos fora sufocada e sonegada pela efervescência druídica de um álbum inteiramente regado e oxigenado a mescalina.

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