segunda-feira, 22 de junho de 2020

Review: ⚡ Lamp of the Universe - 'Dead Shrine' (2020) ⚡

Oremos. Alcançada e recentemente superada a admirável marca de duas décadas de existência enquanto projecto a solo, o talentoso multi-instrumentista neozelandês Craig Williamson parece não desacelerar a sua inesgotável e louvável capacidade criativa ao serviço de Lamp of the Universe, e o seu novíssimo 15º registo discográfico é bem demonstrativo disso. Oficialmente lançado hoje mesmo pela mão da discográfica local Projection Records através do formato digital e de duas edições ultra-limitadas em formato físico de vinil, ‘Dead Shrine’ vem irrigado, oxigenado e endeusado por um profético, divinal, espiritual e edénico Acid Folk matizado por um místico, enfeitiçante, deslumbrante e caleidoscópico Psychedelic Rock de propensão astral que nos desobstrói os trilhos do transe religioso e canaliza a alma na direcção de um imersivo, purificante, magnetizante e meditativo ritual de culto dedicado ao hinduísmo. A sua sonoridade de toada mântrica, aliciante, intrigante e nirvânica tem o raro dom de nos eterizar, sublimar e canonizar o espírito, recostando-nos num olimpo sensorial perfumado a desarmante beatitude e melificado a incessante ataraxia. De olhar envidraçado, narinas dilatadas, semblante descorado, corpo serpenteante e consciência içada nas inacabáveis profundezas de um Cosmos bocejante e embaciado, somos convidados a comungar a sagrada doutrina deste eremítico guru. Dissolvidos numa labiríntica hipnose que nos adormece membros e sentidos, e mumifica num imperturbável estádio de febril letargia, testemunhamos a desapropriação e deserção do Eu numa constante levitação climatizada a sedada euforia. No leme de toda esta onírica digressão pela inexplorada intimidade do nosso Cosmos interior, está uma voz sidérica e messiânica de reconfortantes, inspiradoras e tocantes palavras, uma abençoada cítara de frondosos, esfíngicos, excêntricos e requintados bailados, uma alucinógena guitarra embrumada pelo atordoante efeito wah-wah que vomita solos borbulhantes, efervescentes e intoxicantes, uma trovadora viola acústica de balsâmicos contos fabulares, um baixo sussurrante de linhas bafejadas a uma reverberação ondulante, um mágico sintetizador de mil coros celestiais que adensa todo um misticismo de idioma alienígena, e uma bateria tribalista e embalante de ritmicidade constante, esponjosa e hipnotizante. O artwork piramidal – superiormente detalhado por uma vistosa e prismática textura de estética faraónica – é da autoria do ilustrador britânico Dale Simpson que traduzira para o universo visual tudo aquilo que a musicalidade de ‘Dead Shrine’ floresce e estabelece no nosso imaginário. Estamos na ilustre presença uma obra de essência deífica e vocação ritualística capaz de embevecer e converter em seus devotos peregrinos todos aqueles que nela se abrigarem. Deixem-se guiar e consagrar pela transformadora resplandecência de ‘Dead Shrine’, e eternizem-se na sua enigmática, diáfana e temulenta tranquilidade. Corações ao alto. O nosso coração está e permanecerá em Lamp of the Universe.

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