sexta-feira, 26 de junho de 2020

Review: ⚡ Power Plant - 'Cargo' (2020) ⚡

Da cidade portuária de Szczecin (mapeada na Polónia) chega-nos o portentoso álbum de estreia forjado pelo auspicioso quarteto Power Plant, intitulado de ‘Cargo’ e oficialmente lançado hoje mesmo pela mão do jovem selo discográfico polaco Galactic SmokeHouse através do formato digital e CD. Desancorando o seu navio cargueiro nas quietas águas de um contemplativo, ensolarado, deslumbrado e imersivo Space Rock banhado e bronzeado a desarmante, sublimado e ofuscante psicadelismo, que vai progredindo destemida e triunfantemente até alcançar, lavrar e combater os revoltosos, negros, espessos e tormentosos mares de um fogoso, denso, tenso e impetuoso Stoner Doom de saturação Grunge, a evolutiva, cinematográfica, enfática e expressiva sonoridade de Power Plant pendula entre a edénica bonança e a despótica tempestade, a embaciada letargia e a sedada euforia, a misantrópica negrura e a quimérica luminosidade. De olhar semi-selado e petrificado, semblante desbotado, cabeça pesadamente baloiçante e espírito intensamente atordoado por toda esta intoxicante, fumarenta e enfeitiçante nebulosidade – nasalada pela fresca formação polaca e untada a THC (tetrahidrocanabinol) – somos narcotizados, perturbados e sepultados na obscurantista vacuidade do perpétuo espaço interstelar. Este é um lugar onde a utopia e a distopia se entrelaçam e unificam. Tecido e colorido por duas guitarras dialogantes que tanto se enternecem em maviosos acordes de beleza deífica como se enfurece em titânicos Riffs de bafagem demoníaca e solos trepidantes, ácidos, alucinógenos e rutilantes, escoltado e sombreado por um possante baixo sobrecarregado a uma reverberação sufocante, massiva, altiva e hipnotizante, e tiquetaqueado por uma absorvente bateria de marcha arrojada, dinâmica e compenetrada, ‘Cargo’ é um álbum integralmente climatizado a sedutora, embrumada e redentora soberania que nos ensurdece, entontece e eteriza os sentidos sedentos de experienciar algo assim. São cerca de 46 minutos gravitados por uma empoeirada, profunda e irresistível narcose – amuralhada a sideral misticismo e perfurada pela mais esfaimada vontade de desvendar o ocultismo – que nos mantém de corpo e alma firmemente atrelados à esfíngica liturgia superiormente doutrinada pelos Power Plant. Uma das mais impactantes surpresas sonoras do ano está aqui, na intrigante, diáfana e apaixonante bruma em nós sulfatada e imortalizada por ‘Cargo’. Não vai ser fácil contrariar todo este onírico torpor que nos invadira e entupira do primeiro ao derradeiro tema, e reaver a lucidez que nos fora subtraída e asfixiada pelas propriedades druídicas destes jovens polacos. Estamos na presença de um álbum de natureza mutuamente esmagadora, exploradora, profética e emancipadora que seguramente não deixará nenhum dos ouvintes recostado à indiferença.

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