Domiciliado na cidade
de Wiesbaden (Hesse, Alemanha), o jovem power-trio
germânico Fooks Nihil acaba de desabrochar uma das mais agradáveis
surpresas sonoras do presente ano. Integralmente lançado hoje mesmo nos
formatos físicos de CD e vinil pela mão da histórica editora local Unique
Records, este seu fabuloso álbum de estreia vem ensolarado, afagado e
apaladado por um deslumbrante, luminoso, cheiroso e apaziguante Psychedelic
Rock de roupagem sessentista e clima West-Coast, um reconfortante,
bucólico, caleidoscópico e extasiante Indie Rock tingido a dourado revivalismo
californiano, e ainda um ritmado, pastoril, bem-disposto e troteado Country
Rock de doce fragância primaveril. Resultante de uma bem-sucedida
intersecção que combina carismáticas influências germinadas na segunda metade
dos irreverentes 60’s tais como The Byrds, Crosby, Stills
& Nash e Neil Young, a purificante, singela e apaixonante sonoridade
de ‘Fooks Nihil’ prende uma nostálgica ambiência sublimemente
musicada que me remete para as aventurosas e inimitáveis explanações líricas de
Jack Kerouac (um dos mais influentes líderes do revolucionário movimento
literário comummente apelidado de Geração Beat, e o meu escritor de
eleição). De olhar levemente embriagado, pálpebras semi-cerradas, sorriso destapado
por entre bochechas rosadas, e cabeça detidamente entregue a um pausado movimento
pendular que a ricocheteia de ombro a ombro, somos sedados, maravilhados e levados
pelas sinuosas estradas, bronzeadas pelo chamejante Sol poente e temperadas pela
fresca brisa salgada suspirada pelo Oceano Pacífico, que percorrem toda a costa
californiana. De ouvidos salivantes, sentidos sedados e alma intensamente fascinada,
o ouvinte é diluído num sempiterno estádio de purificante nirvana que o massaja
e prazenteia do primeiro ao derradeiro tema. São 40 minutos tricotados e
adornados a uma ternura verdadeiramente paradisíaca e enternecedora. Uma diluviana
catarse que me recostara a um verdadeiro oásis sensorial e saciara um espírito ávido
por experienciar algo assim. De velas içadas ao sabor de uma guitarra sonhadora
que se manifesta em envolventes, sumptuosos e eloquentes acordes de beleza
fabular e ácidos, efervescentes e delirados solos de elevada toxicidade, um hipnótico
baixo murmurado a linhas flutuantes, graciosas e dançantes, uma primorosa bateria
esporeada a um toque brilhante, polido e pensado, um majestoso teclado de
ostentosos, intumescidos e gloriosos bailados, um uivante Pedal Steel de
arrepiantes, melosos e atordoantes arranjos, e uma voz verdadeiramente harmoniosa,
amistosa e sedutora – perseguida de perto por um espectral coro vocal – que
capitaneia toda esta maravilhosa obra, ‘Fooks Nihil’ zarpa rumo
aos melhores dos melhores álbuns nascidos em 2020. De destacar ainda o
prismático artwork cuidadosamente ilustrado pela artista Joyce
Abrahams que delineia e maquilha na perfeição o rosto desta irretocável
obra-prima. Percam-se e encontrem-se por entre a lívida luzência e deífica magnificência
que farolizam todo o corpo temporal desta imaculada estreia, e testemunhem com
inesgotável admiração a ataráxica lubricidade transpirada por estes três talentosos
jovens alemães. Um dos meus álbuns favoritos do ano está aqui. Empoeirem-se na
sua etérea e diamantina sagacidade.
Links:
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➥ Unique Records
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