Do deserto californiano
(mais concretamente – e como o seu nome assim o sugere – da região semi-abandonada
de Bombay Beach) chega-nos este Western sublimemente musicado
pela formação texana Sheverb. Consequência da sua permanência de um mês nestas
ruínas à beira-mar plantadas, ‘Once Upon a Time in Bombay Beach’ espelha
todo o misticismo desértico que o quinteto natural de Austin inalara e assimilara.
Lançado no final do passado mês de Agosto sob a exclusiva forma digital através
do seu Bandcamp oficial, este renovado trabalho de Sheverb vem
velejado por um imersivo, arejado, ornamentado e inventivo Surf Rock, bronzeado
por um deslumbrante, veraneio, tropical e tranquilizante Psychedelic Rock
e ainda condimentado por um dançante, fogoso, libidinoso e contagiante Tex-Mex
Music que prontamente nos remete para os poeirentos cenários cinematográficos
desdobrados e capitaneados pelo carismático realizador italiano Sérgio Leone. Situada numa intersecção que combina a melodiosa brisa desértica de uns Spindrift
com o afrodisíaco exotismo de fragância latina transudado pelos Mariachis
norte-americanos Calexico e a revitalizante bafagem oceânica respingada pelos
clássicos The Ventures, a ensolarada, profética, estética e aromatizada sonoridade
de ‘Once Upon a Time in Bombay Beach’ planta e fertiliza no
imaginário do ouvinte um arenoso, fervilhante e veludoso tapete desértico de
dimensão a perder de vista, onde imponentes saguaros se espreguiçam na vertiginosa
direcção de um Sol esbatido e bocejante, cowboys solitários se passeiam de
olhares desconfiados e coldres desapertados, e uivantes coiotes deambulam com discrição
pelos intangíveis firmamentos que se renovam pela eternidade fora. De texanas
calçadas, esporas aguçadas, gatilhos cintilantes e instrumentos empunhados, Sheverb
convida-nos a vivenciar meditativas baladas de beleza crepuscular e desenfreadas
cavalgadas à rédea solta. Na composição desta adorável orquestra Ennio
Morricone’sca estão duas druídicas guitarras que se cruzam na
condução de serpenteantes Riffs e descruzam na libertação de intoxicantes
solos, uma hipnotizante bateria de ritmicidade galopante, um baixo murmurante compenetrado
em linhas vagueantes, e ainda um estimulante trompete de sopros pomposos que
confere a toda esta mágica atmosfera uma elegância de feição mexicana. É-me
ainda importante e enfatizar e endeusar o mirífico artwork superiormente
ilustrado pela talentosa artista de nacionalidade australiana Lauren Massy
que com inesgotável capricho fabricara o pórtico perfeito para esta sagrada
peregrinação pelos trilhos e desfiladeiros do deserto espiritual. Deixem-se
embrenhar, entontecer e alucinar à boleia da mescalina sonora de ‘Once
Upon a Time in Bombay Beach’ e sintam-se dar à costa de um verdadeiro
oásis sensorial. Um dos meus álbuns favoritos do ano está aqui, nesta espirituosa
liturgia de veneração desértica. Degustem este mezcal sem qualquer moderação,
cambaleiem para fora do saloon, enfrentem Sheverb num duelo
desigual, e caiam derrotados aos pés das cinco silhuetas sombreadas pelos pistoleiros texanos. É este o incontornável destino reservado a todos aqueles que neste álbum decidirem ingressar.
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