segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Review: ⚡ BleakHeart - 'Dream Griever' (2020) ⚡

★★★★

Da populosa cidade de Denver (capital do estado norte-americano do Colorado) chega-nos o intrigante álbum de estreia do jovem quarteto BleakHeart. Denominado de ‘Dream Griever’ e muito recentemente lançado pela mão da editora discográfica local Sailor Records nos formatos físicos de CD, cassete e vinil, esta portentosa obra causara em mim um tremendo impacto. Composta por um vaporoso, melancólico, distópico e brumoso Shoegaze de enfeitiçante sublimidade que se desenvolve, obscurece, enrijece e revolve num poderoso, misantrópico, atmosférico e umbroso Doom Metal de inflamante ferocidade, a sua sonoridade outonal, nocturna e pastoral – a fazer(-me) recordar a inglesa Rose Kemp e os californianos Giant Squid – balanceia o ouvinte entre a anestésica, sidérica e introspectiva prostração e a trevosa, vigorosa e emancipadora comoção. De olhar eclipsado, espírito hipnotizado, sentidos embaciados e cabeça pesadamente pendulada de ombro a ombro, somos assombrados pelas narcotizantes, enlutadas e lacrimosas baladas cor de noite que nos são fascinantemente sussurradas por uma voz espectral, translúcida e celestial, tricotadas por duas guitarras excruciantes de acordes sepulcrais, dramáticos e hipocondríacos, galopadas por uma troante bateria de batida forte, pausada e atordoante, e ainda passeadas por um lírico teclado que com as suas notas refrescantes, enternecedoras e saltitantes empresta a ‘Dream Griever’ toda uma caliginosa, solitária e chuvosa atmosfera Film Noir. Este é um álbum embrumado a doce melancolia. Um registo tristemente belo que decerto não deixará nenhum dos seus ouvintes recostado à indiferença. Não vai ser fácil desentorpecer da lúgubre toxicidade por ele nebulizada, e despertar deste profundo estádio de firme sonambulismo que nos climatizara, abalara e governara do primeiro ao derradeiro minuto. Recostem-se confortavelmente na penumbra, respirem profunda e vagarosamente, desmaiem as pálpebras sobre o olhar envidraçado, e mergulhem sem regresso assegurado no elegíaco obscurantismo de BleakHeart. Um dos trabalhos mais imersivos, marcantes e reflexivos do ano está aqui. Encarvoem-se nele.

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