O talentoso multi-instrumentista
Grant Beyschau (mais conhecido como baterista da banda The Myrrors)
acaba de estrear o seu primeiro álbum a solo ao leme do auspicioso projecto
denominado de Tambourinen. Lançado em formato físico através da parceria
discográfica entre a inglesa Cardinal Fuzz (responsável pela distribuição
em solo europeu) e a norte-americana Centripetal Force Records
(responsável pela distribuição em solo americano), ‘Wooden Flower’
prende um imersivo, bucólico e meditativo ritual de afago e consagração
espiritual que combina um repetitivo, hipnótico, morfínico e lenitivo Drone
de inescapáveis teias, com um dançante, exótico, mântrico e enfeitiçante Krautrock
de aura oriental, e ainda um embriagante, prismático, caleidoscópico e deslumbrante
Psychedelic Rock de colorida extravagância numa xamânica amálgama que
nos nutre a fascinação do primeiro ao derradeiro tema. A sua sonoridade rústica,
obscurantista, intimista e litúrgica – tricotada a padrões étnicos e matizada a
místico experimentalismo – edifica no imaginário do ouvinte todo um sagrado
esplendor desértico, de pés descalços enraizados nas sedosas, cremosas e
bronzeadas dunas e olhar diluído na corada radiância emanada de um Sol
crepuscular que se debruça no arenoso firmamento. De espírito devoto a este
eremita sediado no Arizona, somos afunilados numa labiríntica hipnose
oxigenada a introspecção que nos desagua num pleno estádio de imperturbável
transe religioso. Composto por uma guitarra druídica que se manifesta em envolvente
e catárticos acordes e solos psicotrópicos e afrodisíacos, um baixo ondulante
de linhas empoladas e magnetizantes, uma bateria tribalista de expansiva e
criativa ritmicidade, um mágico sintetizador que ausculta os astros, e um aparatoso
saxofone de uivantes, ciclónicos e dilacerantes sopros. São 30 minutos de uma
diluviana alquimia que nos adormece os sentidos e escancara as portas da
percepção. Percam-se nesta infinita escadaria em forma de espiral que vos
encaminhará para o tão almejado nirvana. ‘Wooden Flower’ é uma
obra verdadeiramente divina que facilmente nos converte em seus zelosos peregrinos.
Um trabalho de natureza primitiva e beleza consumada que da idílica acalmia à pitoresca
rebaldaria nos transcende aos céus da ataraxia. De olhar eclipsado, cabeça
baloiçante e espírito iluminado, deixem-se flutuar, enternecer e canonizar pelas edénicas torrentes
de Tambourinen, e experienciar com transbordante fé um dos álbuns mais
messiânicos de 2020.
Links:
➥ Bandcamp
➥ Cardinal Fuzz
➥ Centripetal Force
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