segunda-feira, 1 de março de 2021

Review: ⚡ Mt. Mountain - 'Centre' (2021) ⚡

★★★★

O fantástico quinteto australiano Mt. Mountain – uma das minhas bandas contemporâneas de eleição – acaba de lançar o seu muito ansiado quarto álbum, batizado de ‘Centre’, carimbado pela discográfica londrina Fuzz Club Records, e devidamente exteriorizado sob a forma digital, de CD-R e vinil. A par do que acontece com os seus antecessores, este novo registo de longa duração, esculpido e envernizado pelo talentoso colectivo domiciliado na cidade de Perth, vem arejado por um reconfortante, meditativo, imersivo e deslumbrante Krautrock de misticismo oriental e afago espiritual, matizado por um magnetizante, ensolarado, extasiante e aromatizado Psychedelic Rock de texturas caleidoscópicas, e ainda tecido por um ritualístico, aliciante, embriagante e labiríntico Drone que de forma discreta mas constante se regenera e de nós apodera. A sua sonoridade envolvente, sedativa, evolutiva e reluzente – resultante de um ponto de intersecção que mistura o hipnotismo sensorial dos nipónicos Kikagaku Moyo com o psicadelismo tropical dos dinamarqueses Causa Sui – climatiza, seduz e eteriza o ouvinte num leve e mélico torpor que o conduz a um pleno e imperturbável estádio de obcecante encantamento. Inundado pela radiante, edénica e transbordante harmonia, e sufocado pela doce letargia que nos embala numa inescapável hipnose, ‘Centre’ ostenta toda uma calmante, pálida e purificante luminescência que em nós instaura uma inextinguível claridade interior. De corpo recostado e relaxado no Jardim do Éden, espírito depurado e consolado pelo seráfico sonho sublimemente musicado de Mt. Mountain, e ainda de olhar içado e cravado nas longínquas fornalhas estelares que pulsam por entre a trevosa intimidade do Cosmos bocejante, somos farolizados, massajados e mergulhados de forma complacente nas profundezas translúcidas das suas composições ao sabor de duas guitarras ataráxicas que – movidas a fina e detalhada sensibilidade – se cruzam numa vistosa tapeçaria delineada a acordes gentis, atraentes, melancólicos e primaveris, e descruzam na orgásmica libertação de solos serpenteantes, lustrosos, cremosos e dançantes, um baixo murmurante de linhas flutuantes, insistentes, sedutoras e pululantes, uma bateria soberbamente jazzística que – de toque polido, luminoso, preciso e tilintante – embarca numa marcha rítmica verdadeiramente cativante, um mágico sintetizador de agradáveis melodias condimentadas a frescura astral e fragância meridional, e ainda uma voz espectral, aveludada, açucarada e estival que se passeia leve e graciosamente por toda a atmosfera aureolada de ‘Centre’. Este é um álbum apaixonadamente ternurento e hospitaleiro – encerado e ensaboado a um aquoso resplendor de coloração diamantina – que, do primeiro ao derradeiro tema, me conservara num perpétuo estado de êxtase. Esperneiem-se nas suas espaçosas melodias, saboreiem todas as suas deliciosas secreções e testemunhem a deserção da vossa alma rumo ao inefável transe. No final deste místico ritual não vai ser nada fácil aceitar o esgotamento da força gravitacional que nos manteve atrelados a ‘Centre’ numa compenetrada dança orbital, e pisar de novo o sóbrio solo da consciência terrena. Banhem-se na intensa luzência desta paradisíaca obra de beleza consumada, e vivenciem de forma devota e enfeitiçada todo o sagrado esplendor daquele que indubitável e posteriormente será medalhado como um dos melhores álbuns brotados em 2021.

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