É ainda de espírito arrebatado
e lucidez embaciada que escrevo estas palavras. ‘Eight Fragments Of An
Illusion’ é o terceiro trabalho de longa duração brilhantemente concebido
pela simbiótica colaboração entre o alemão Ulrich Schnauss e o
dinamarquês Jonas Munk (Causa Sui), que fora muito recentemente
lançado através dos formatos digital, CD e vinil pela mão da editora independente
Azure Vista Records, enraizada na nórdica cidade de Odense (Dinamarca)
e essencialmente especializada na disseminação do universo da música electrónica. Orvalhado
por um sonho sublimemente musicado de onde se revelam um embrumado, melancólico,
bucólico e embriagado Shoegaze sintonizado na mesma frequência dos ingleses Slowdive, e um misterioso, cósmico, hipnótico e ocioso Dream
Pop na linha dos escoceses Cocteau Twins, este novo registo do duo vem
embrulhado numa experimental alquimia electrónica que cultiva no solo do ouvinte
todo um apaziguante, sedativo e reconfortante sentimento de doce nostalgia capaz
de o embalar, mitigar e enfeitiçar do primeiro ao derradeiro minuto. A sua sonoridade arejada,
espaçada e ambiental – desenvolvida em slow-motion, e magicada por uma
textura melodiosa, paradisíaca, mística e aquosa – desdobra no nosso imaginário
todo um cinematográfico crepúsculo de fluorescência colorida e desfocada que se
entrega demoradamente aos negros e aveludados braços da noite. Submersos e
prazerosamente desmaiados nas profundezas deste vívido sonho açucarado, somos
absorvidos, embevecidos e namorados pelas líricas e fantásticas composições caprichosamente deambuladas
e ecoadas por um sintetizador alienígena de mugidos etéreos, ébrios e angelicais
que embrumam de frescas, fluídas e cheirosas harmonias os oito temas que
compartimentam esta obra divinal, e pelos delicados, ternurentos e deslumbrados
acordes copiosamente florescidos de uma guitarra estética, opalina e profética que surfa
com desarmante formosura toda a pacífica ondulação electrónica. ‘Eight
Fragments Of An Illusion’ é um admirável registo repleto de uma monção de aromas
frutados, suaves ventos tropicais, e uma transformadora calma que nos gravita e
agita. Um quimérico álbum ofuscado a intensa beatitude e climatizado a uma ataráxica
envolvência que em nós instaura toda uma permeabilidade sensitiva. Banhem-se
nas nirvânicas águas da introspecção, e recebam uma terapêutica massagem
cerebral de afago espiritual. Não vai ser nada fácil – ou sequer desejado – despertar
de todo este radioso psicadelismo bocejante e aceitar que a utópica ilusão terminara, dando lugar ao desconfortável e atordoante silêncio que reinará na ressaca da
sua audição. Esta é a banda-sonora perfeita para emoldurar finais de tarde ensolarados.
Links:
➥ Ulrich Schnauss Facebook
➥ Jonas Munk Facebook
➥ Azure Vista Records
➥ Bandcamp
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