terça-feira, 11 de maio de 2021

Review: ⚡ Lucid Sins - 'Cursed!' (2021, Totem Cat Records) ⚡

★★★★

Regressado de um longo jejum discográfico de sete anos – que principiara logo após o lançamento do seu álbum de estreia ‘Occultation’ (2014) – o jovem duo escocês Lucid Sins presenteia agora todos os seus discípulos com um novo trabalho de longa duração, designado de ‘Cursed!’ e exteriorizado sob a forma digital, de CD e vinil através do selo discográfico francês Totem Cat Records. Embrumado e assombrado por enfeitiçantes, outonais, pastorais e intrigantes melodias – encarvoadas a um negrume nocturno, melificadas a imersiva melancolia e orientadas a um esotérico ritual – este segundo álbum da talentosa formação enraizada na cidade portuária de Glasgow combina um demoníaco, sombrio, dramático e misterioso Proto-Doom de enigmáticas ressonâncias Black Sabbath’icas, com um fluído, aliciante, extravagante e ornamentado Classic Rock lavrado à boa moda dos britânicos Wishbone Ash, um sumptuoso, deslumbrante, magnetizante e sinuoso Progressive Rock de inspiração setentista, e ainda um rústico, cerimonioso, umbroso e bucólico Neofolk de feições pagãs. A sua sonoridade heterogénea – trajada a adereços tradicionais e condimentada a uma fragância vintage – envolve e revolve o ouvinte numa enfeitiçante, druídica, obscura e intoxicante liturgia de adoração ocultista que o magnetiza, eteriza e namora do primeiro ao derradeiro tema. Contando com a preciosa colaboração de outros músicos locais que, desta forma, enriquecem e amadurecem as ambiciosas composições desta épica obra, ‘Cursed!’ trata-se de um registo tristemente belo que nos dilata as pupilas, empalidece o semblante e embevece o espírito. Na génese deste intenso encantamento impossível de ser quebrado, está uma guitarra lírica que se manifesta em vaidosos, atraentes e assombrosos acordes de onde são esvoaçados solos ziguezagueantes, ácidos e atordoantes, uma bateria soberbamente jazzística de toque polido, flamejante, leve e cintilante, um baixo murmurante de linhas fibradas, trevosas e lubrificadas, um teclado jupiteriano de harmonias exuberantes, polposas e absorventes, um melodramático violino de mugidos uivantes, enfáticos e penetrantes, e ainda vocais sedosos, aristocráticos e pomposos que esculpem com superior vistosidade toda esta joia erudita. A ilustração de natureza surrealista e datada do século XX que confere rosto a esta sublime maldição, aponta os seus créditos autorais ao clássico ilustrador inglês Alan Elsden Odle. Este é um álbum verdadeiramente excepcional – executado a exímia maestria e pincelado a intocável formosura – que em mim imortalizara todo um sentimento de venerada admiração. Dele regresso com os sentidos desmaiados, a respiração travada, alma reconfortada, e ainda a forte convicção de que muito dificilmente este não será – aos meus ouvidos – o melhor álbum do ano. Ensombrem-se e mistifiquem-se nele.

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