Da cidade de Austin –
capital do estado norte-americano do Texas – chega-nos o fantástico álbum
de estreia do novo quarteto White Powder. Constituído por talentosos
músicos texanos, pertencentes a outras bandas vizinhas, tais como Gorch Fock,
Tia Carrera, Migas, Black Mercy, Brothers Collateral,
Free Range Bastards, Breedlove, OMGWTFBBQ e Suckling,
este projecto imensamente promissor, gravado no já longínquo ano de 2014, misturado em
2020 e presentemente lançado através da companhia discográfica independente local
Australian Cattle God em formato digital e numa edição física em vinil,
presenteia o ouvinte com uma adorável fusão entre um efervescente, colorido, ventilado
e absorvente Heavy Psych ensopado em LSD e um dançante,
hipnótico, estético e deslumbrante Progressive Rock de estirpe setentista.
A sua sonoridade encantadora, ensolarada, apimentada e transformadora – que conjuga
o carnavalesco exotismo de Santana com o caleidoscópico psicadelismo de Jimi
Hendrix e a exuberante majestosidade de Deep Purple – balanceia-se
entre espaçadas, envolventes e arejadas paisagens sublimemente besuntadas a
lisergia e climatizadas a uma resplandecência idílica, e alucinantes, ardentes
e musculadas cavalgadas nutridas a inflamada euforia e de instrumentos em virtuosa debandada.
Articulado por evolutivas, psicotrópicas e intuitivas Jams de essência
instrumental – com excepção da saborosa versão cover de “Dirty
Work” (tema originário dos clássicos Steely Dan que ganharam
popularidade nos 70’s) que conta com a surpreendente inclusão de vocais
sumarentos e toda uma fascinante colagem tropical de ritmos Funk, R&B
e Pop – este ‘Blue Dream’ adjectiva-se como um registo paradisíaco
e camaleónico, de fácil digestão e inesgotável sedução. Na génese deste
revitalizante sonho acordado, matizado a um azul oceânico e encandeado a um
brilho estival, está uma guitarra profética de Riffs chamejantes, motorizados
e protuberantes que desaguam em solos intoxicantes, ácidos e deambulantes, um
baixo fibrótico de linhas flutuantes, sombreadas e lubrificadas, uma bateria acrobática
de toque desembaraçado, refinado e cintilante, e um teclado litúrgico de intrigantes,
espadaúdos e magnetizantes bailados borrifados a frescas harmonias. De depositar
ainda elogiosas palavras no opulento artwork detalhada e caprichosamente
esculpido pelo imaginativo ilustrador americano Win Wallace, que assim embeleza o primeiro
capítulo de White Powder. É de pálpebras rebaixadas, rosto ruborizado,
sorriso imortalizado, e alma gratificada que me encontro na atordoada ressaca
em mim deixada pela irretocável estreia deste prendado colectivo texano.
Deixem-se dissolver e embevecer neste prazeroso, frutado e resinoso cocktail
que vos embriagará o espírito e recostará num imperturbável estádio de pleno
bem-estar. Uma das mais aliciantes descobertas musicais do ano está aqui, no dançante,
açucarado e contagiante groove de White Powder.
Links:
➥ Bandcamp
➥ Australian Cattle God
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