quinta-feira, 15 de julho de 2021

Review: ⚡ Vulebard - 'La Tinta de los Males' (2021) ⚡

★★★★

Da cidade de Quilmes – localizada na província da capital Buenos ires – chega-nos o impossível álbum de estreia do talentoso quinteto argentino Vulebard. Denominado ‘La Tinta de los Males’ e oficialmente lançado no início do presente ano sob a exclusiva forma digital, esta imponente, ostentosa e eloquente obra-prima musical combina um dramático, erudito e enfático Prog Rock de estilo clássico com um charmoso, lascivo e fogoso Blues Rock de gravata apertada, e ainda um cerebral, inventivo e experimental Jazz Rock em entusiástica combustão. Governado por ousadas, ricas e aprumadas composições que se principiam com perfumados, cinematográficos e arejados prelúdios de clima fabular, crescem numa labiríntica, afrodisíaca e fascinante teia sonora que depressa captura e mumifica toda a nossa atenção, e culminam numa orgiástica, enlouquecedora e selvática explosão de instrumentos em aparatosa colisão, ‘La Tinta de los Males’ é um álbum verdadeiramente divinal que me maravilhara do primeiro ao derradeiro tema. São 48 minutos lavrados a desarmante maestria e oxigenados a uma irresistível atmosfera cabaresca que nos meneia a cabeça, descortina o sorriso, e instala no nosso olhar uma inapagável expressão sonhadora. Alternando entre amorosas, bonanceiras e cheirosas baladas que se espraiam relaxadamente, e portentosas, pitorescas e gloriosas galopadas de esporas ensanguentadas, este primeiro trabalho de longa duração de Vulebard tem o raro dom de nos enfeitiçar, embevecer e atiçar num ciclónico crescendo de emoções transbordadas. Na génese de toda esta orquestra superiormente norteada estão duas distintas guitarras de formosos, imperiosos e flamejantes Riffs de onde esvoaçam uivantes, vivazes e ziguezagueantes solos, um magnético baixo de bafejos cálidos, inchados e ondeantes, uma radiosa voz de pele simpática, melódica e jovial, um místico sintetizador de mugidos cósmicos, empoderados e claustrofóbicos, um piano, Rhodes e Hammond de bailados harmoniosos, faustosos e carismáticos, um educado saxofone noir de sopros aveludados, melancólicos e gritados, e uma bateria soberbamente circense – de percussão acrobática, imaginativa e jazzística – que reclama para si mesma todo o protagonismo no momento em que se aventura na laboriosa concepção de um espalhafatoso, prodigioso e triunfante solo. ‘La Tinta de los Males’ é um incrível registo de contornos épicos que me deixara boquiaberto e de ouvidos salivantes ao longo de todo o seu corpo temporal. Um álbum de simetria escultural, de destreza irretocável e beleza inolvidável, que conquistara a tão invejada perfeição. Um dos trabalhos mais impactantes e caprichosos de 2021 está aqui, na virtuosa sagacidade destes argentinos. Comunguem-no sem moderação e com vibrante devoção.

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