Da
cidade-capital de Tóquio (Japão) chega-nos o apaixonante 11º
álbum de estúdio superiormente magicado pelo reputado quarteto nipónico MONO,
denominado ‘Pilgrimage of the Soul’ e lançado muito recentemente pela
mão do independente selo discográfico berlinense Pelagic Records através
dos formatos digital, CD e vinil. Com 22 anos de frutífera existência –
repletos de uma respeitável discografia que os imortalizara como uma das mais marcantes
referências dentro do universo Post-Rock – os MONO atingiram o
pináculo da sua maturidade musical, e têm neste seu novo registo aquele que é
muito provavelmente o meu trabalho favorito da banda. De âncora recolhida e
velas içadas ao sabor de um emotivo, cinematográfico, reflexivo e melancólico Post-Rock
de natureza instrumental e beleza orquestral, ‘Pilgrimage of the Soul’ navega
pelas pacíficas águas de um interminável oceano vigiado e farolizado pela noite
cósmica. De olhar enfeitiçado e embrumado por uma inquebrável expressão
sonhadora, um sorriso genuíno que nos incha e ruboriza as bochechas, e ainda
uma inextinguível sensação de plena ataraxia que nos massaja e prazenteia o
espírito sedento por experienciar algo assim, somos magnetizados, embebidos, comovidos
e canonizados pelo nirvana celestial que alvorece toda a extensão deste
mirífico álbum. Este é um maravilhoso registo – de aura esperançosa, catártica
e miraculosa – que perpetua o ouvinte num sedativo estádio de profunda
introspecção. Mumificados pela fascinante teia instrumental de MONO,
somos embriagados e namorados por duas guitarras de idioma astral que dedilham
dramáticos, estéticos, reconfortantes e melódicos acordes – condimentados a
profética sensibilidade e desdobrados numa triunfante escadaria em espiral – e
desabrocham uivantes, rutilantes, delirados e ecoantes solos que nos
desorientam nesta evolutiva e transformadora odisseia pelo Cosmos inexplorado,
um baixo discreto de linhas ondeantes, densas, sombreadas e murmurantes, e uma expressiva
bateria de pratos flamejantes e timbalões pulsantes que confere ritmo a esta admirável evasão consciencial. Num plano de
complementaridade ao quarteto-base, é-me ainda essencial enaltecer todo um populoso coro de instrumentos convidados que contempla os mugidos tristemente belos
dos violinos e violoncelos, os veludosos sopros do trompete, trombone e da
corneta, e ainda as saltitantes notas choradas por um piano verdadeiramente
enternecedor. São 58 minutos oxigenados a ofuscante deslumbramento que nos eclipsa os
sentidos e transcende a alma até aos braços do transe espiritual. ‘Pilgrimage
of the Soul’ é um álbum precioso, divino e lustroso – de esplendor
imaculado – que decerto não deixará nenhum dos ouvintes recostado à
indiferença. Permitam-se sorver e anoitecer pela frágil e anestésica ternura de
MONO, e renascer num inquietante turbilhão de epidémica e transbordante
esperança. A utopia aqui tão perto. Empoeirem-se nela.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ Pelagic Records
Sem comentários:
Enviar um comentário