terça-feira, 9 de novembro de 2021

Review: ⚡ Baron Crâne - 'Les Beaux Jours' (2021) ⚡

★★★★

Proveniente de França chega-nos o extraordinário novo álbum do talentoso power-trio parisiense Baron Crâne, intitulado ‘Les Beaux Jours’ e lançado através dos formatos digital, CD e duplo vinil em meados do passado mês de Outubro pela mão da jovem companhia discográfica francesa Mrs Red Sound. Neste colorido, odoroso e texturizado sortido sonoro emergem e sobressaem um majestoso, carnudo, sisudo e sinuoso Prog Rock de carregadas feições King Crimson’eanas, um aventuroso, labiríntico, burlesco e aparatoso Jazz Fusion a fazer lembrar a multinacional Mahavishnu Orchestra, e um musculoso, oleado, vultoso e vertebrado Hard Rock motorizado à boa moda de Deep Purple. Contando ainda com a veraneia ritmicidade de um contagiante Funk n’ Reggae tropical, a caleidoscópica pirotecnia de um exótico Psychedelic Rock, e a indesmontável equação de um esquizofrénico Math Rock, a emaranhada, ornamentada e piramidal sonoridade de ‘Les Beaux Jours’ passeia-se de forma envaidecida – e por vezes enraivecida – pelos sete temas de essências desiguais que compõem esta elaborada obra-prima. Levemente acariciado por embaciadas, etéreas e relaxadas passagens de beleza bucólica e clima melancólico, e pesadamente galopado pelos instrumentos ofegantes em redentora debandada, este quarto trabalho de longa duração de Baron Crâne representa o pináculo da sua apurada maestria musical. Na constituição desta musicada depuração dialogam entre si uma guitarra dominante que se agiganta em Riffs propulsivos, altivos, mastodônticos e incisivos de onde esvoaçam solos trepidantes, ácidos, delirados e gritantes, um baixo ronronante de linhas marulhantes, densas, tensas e protuberantes, e uma entusiástica bateria jazzística de fogosas, explosivas, criativas e engenhosas investidas. Num plano secundário – no que à sua predominância diz respeito – vagueiam ainda pela atmosfera circense do álbum um esdrúxulo saxofone de sopros vistosos, charmosos e berrantes, uma poética flauta de uivos sedosos, airosos e lunares, e ainda duas vozes contrastadas – uma a fazer recordar os ardentes rugidos do saudoso Chris Cornell, e outra mais delicada e de condimento celestial – que repartem a sua liderança pelos dois únicos temas que escapam à hegemonia instrumental. De estender os aplausos ao peculiar artwork de colagens pensadas e executadas pela artista parisiense Nora Simon. São 50 minutos de fascinante imprevisibilidade e desarmante tenacidade que nos mantêm os sentidos em alerta. Um registo mutuamente claustrofóbico e emancipador, agressivo e lenitivo, desatado e entrançado. Percam-se e encontrem-se neste caótico jogo de espelhos. Vai ser demasiado fácil reencontrá-lo por entre os mais condecorados álbuns lançados este ano.

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