segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Review: ⚡ Madera Raíz - 'No les queda tanto Tiempo' (2021) ⚡


★★★★

Oriundo da vibrante cidade-capital de Buenos Aires chega-nos o muitíssimo aguardado álbum de estreia do electrizante power-trio argentino Madera Raíz, acabado de ser retirado do forno sob a exclusiva forma digital e carimbado com selo de autor. Herdeiros da sagrada musicalidade deixada e perpetuada pelo lendário Pappo, este tridente de instrumentos engatilhados e olhar fulminante ostenta um provocante, oleado, ritmado e inflamante Heavy Blues de balanço Boogie e tração setentista, aliado a um efervescente, bombástico, caleidoscópico e ardente Heavy Psych de roupagem crivada por negros adereços Proto-Doom’escos e toxicidade a perder de vista. A sua sonoridade picante, entusiástica, afrodisíaca e rutilante – sintonizada nas mesmas frequências de clássicas referências como Black Sabbath, ZZ Top, Cactus e Pappo’s Blues – é remexida, fervida e servida em dançantes chamas. Com uns velozes 32 minutos de duração – fragmentados em quatro temas originais e uma versão cover da primitiva e largamente imitada “Spoonful” (originalmente escrita por Willie Dixon e gravada pela primeira vez em 1960 por Howlin' Wolf) captada num concerto ao vivo em 2019 com tremulantes, avinagrados e enfeitiçantes vocais femininos a encerrar o disco em apoteose – ‘No les queda tanto Tiempo’ é um registo escaldante que nos sobreaquece, bronzeia e pontapeia de embriagada euforia. Na composição deste espirituoso bourbon efervescem uma jupiteriana guitarra de umbrosos, pesados, defumados e poderosos Riffs consumidos pela urticante distorção, de onde gritam e esvoaçam alucinantes, ácidos, selváticos e trepidantes solos em sónica evasão, um baixo musculado de reverberação baloiçada, tensa, densa e ondulada, uma bateria acrobática, enfática e pujante de timbalões escoiçados e pratos flamejantes, e uma voz liderante – de entoação aristocrática e ínfimos rugidos de textura escarpada – que emerge e se agiganta nesta fumarenta ebulição instrumental. Num plano secundário – no que à constância de protagonismo diz respeito – são ainda trazidos pela brisa do velho oeste os sopros arenosos, odorosos e penetrantes de uma harmónica, e perscrutam-se também ecos do virtuoso espanhol Paco de Lucía num Flamenco dissimulado e de ornamentos cuidadosamente escalados pelo encordoamento de uma guitarra acústica. Este é um trabalho do tamanho das minhas expectativas a ele dedicadas. Embalem na enlouquecedora vertigem desta aparatosa montanha-russa que irá pôr à prova a solidez estrutural da vossa sanidade mental, e vivenciem com vulcânico empolgamento de erupções à flor da pele todo este furacão de endorfinas superiormente domesticado pela talentosa formação alviceleste.

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