quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Review: ⚡ Misleading - 'Missing' (2022) ⚡

★★★★

O irreverente quarteto português Misleading está de regresso – e em grande forma, devo antecipar – com o lançamento do seu segundo trabalho de longa duração denominado ‘Missing’ e exorcizado através do imediato formato digital (com a possibilidade de download gratuito através da sua página de Bandcamp oficial) e de uma futura edição física em CD pela mão do pequeno selo discográfico mexicano LSDR Records (calendarizada para o mês de Abril). Como acontecera com o seu antecessor, este novo álbum de Misleading vem ensombrado e atormentado por um intoxicante, selvático, canábico e alucinante Heavy Psych de mãos dadas a um pantanoso, misantrópico, distópico e nebuloso Psych Doom. A sua atordoante, nauseabunda, febril e magnetizante sonoridade – desdobrada a sónicas jam’s e locomovida a alta rotação – catapulta o ouvinte numa libertadora, vertiginosa e enlouquecedora impulsão que o sepulta nas abissais profundezas do negro solo cósmico. Simultaneamente eufórica e morfínica, esta endiabrada, esverdeada, fumarenta e centrifugada alquimia – de toxicidade a perder de vista e superiormente musicada pelos negros druidas portugueses – envolve e revolve o espírito de quem a comunga num dramático, herético e vampírico ritual de intrigante vocação pagã. No trevoso, luciférico e lodoso âmago deste ‘Missing’ gravitam uma psicótica guitarra de perversos, nocivos e distorcidos Riffs estriados por esvoaçantes, ácidos e efervescentes solos que se atropelam e dilaceram, um baixo pérsico de bafejos latejantes, saturados e hipnotizantes, uma bateria ofensiva, galopante e incisiva, ferozmente metralhada a um coice Punk, um sintetizador alienígena que vaporiza toda a atmosfera do álbum com uma aura ocultista, psicotrópica e ritualista, e ainda evanescentes vocais de ares decrépitos, crípticos e medonhos. De espalhar ainda elogiosas palavras pelo aliciante uso de samples cirurgicamente retirados de obras cinematográficas e pelo bizarro artwork – de feições esotéricas a fazer recordar uma carta de tarot – que fora cuidadosamente ilustrado pela artista Echo Echo. São 53 minutos de uma viagem desorientadora pelo lado eclipsado da religiosidade. Percam-se na infernal fantasmagoria celebrada e desprendida pelos tempestuosos Misleading, e soterrem-se na sua inflamada, sinistra e conturbada negrura com requintes de malvadez.

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