terça-feira, 4 de outubro de 2022

Review: ⚓️ Mythic Sunship - 'Light/Flux' (2022) ⚓️

★★★★

É justo começar por referir que os dinamarqueses Mythic Sunship são uma das minhas bandas contemporâneas de eleição, e, portanto, foi com um sentimento de frustração que reagi ao inesperado cancelamento da sua actuação (por motivos de saúde) na passada edição do SonicBlast Fest, adiando para data indefinida a minha estreia no que diz respeito a experienciá-los ao vivo. Com mais de uma década de produtiva existência onde plantaram e colheram duas mãos cheias de álbuns, o quinteto escandinavo acaba de nos presentear com o lançamento do seu décimo trabalho, intitulado ‘Light/Flux’ e promovido sob a alçada do renomado selo discográfico nova-iorquino Tee Pee Records através os formatos físicos de LP e CD. Navegando pelas tranquilas águas de um pastoral, contemplativo, imaginativo e ambiental Psychedelic Rock com vista para a perpétua noite astral, e pelas areias movediças de um extravagante, sedutor, libertador e deslumbrante Avant-Garde Jazz (in)disciplinado por um exótico experimentalismo, a fluída, etérea e lânguida sonoridade de ‘Light/Flux’ acaba invariável e ocasionalmente por desaguar nas paradisíacas praias do seu autoproclamado Anaconda Rock, caracterizado por Riffs volumosos, musculosos e serpenteantes que nos caçam, abraçam e asfixiam. De olhar semi-selado, revestido a uma embriagada expressão sonhadora, sorriso inquebrável, corpo baloiçante e espírito enternecido por um transbordante estádio de perfeito bem-estar, somos envolvidos, sublimados e canalizados pelos nirvânicos trilhos de Mythic Sunship sem a mais pequena vontade deles regressar. São 43 minutos onde as distâncias entre a gélida e vaporosa dormência e a vulcânica e gasosa efervescência se encurtam, embalando o ouvinte numa extasiante hipnose de beleza crepuscular. Farolizados pelos estonteantes ziguezagues rabiscados por um irreverente saxofone de sopros gritantes, luminosos, sedosos e mirabolantes, pelos cativantes diálogos travados entre duas guitarras aquosas e ecoantes que se perseguem em admiráveis, esvoaçantes, encaracolados e inesgotáveis solos de toxicidade a perder de vista, pelos polposos murmúrios bafejados por um ondeante baixo de linhas magnéticas, sombreadas, oleadas e elásticas, e ainda pelo imersivo tic-tac de uma bateria soberbamente jazzística que trauteia entre o quente brilho dos pratos, o acrobático rufar da tarola e o galope tribal dos timbalões, somos engolidos pela negra boca do Cosmos e deixados à deriva na infindável vacuidade. ‘Light/Flux’ é um álbum de natureza anestésica, arejada, dilatada e sidérica que nos enleia e inebria com a sua reconfortante, quimérica e enfeitiçante maviosidade. Recostem-se confortavelmente e dissolvam-se tranquilamente no universo de um álbum sem fundo, oxigenado a incontáveis propriedades terapêuticas.

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