sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Review: 🔮 SAPNA - 'SAPNA' (2022) 🔮

★★★★

Proveniente da populosa cidade de Nashville (capital do estado norte-americano do Tennessee) chega-nos o homónimo álbum de estreia (e que estreia!) do power-trio SAPNA, lançado no início do presente mês através do exclusivo formato digital (ainda que com a garantia deixada pela banda de uma futura edição em formato vinil pela Infinite Spin Records calendarizada para o próximo ano). Incensado por um mântrico, meditativo, hipnótico e devocional Psychedelic Doom de caligrafia oriental – capturado pelas labirínticas teias de um circundante, repetitivo e obcecante Drone, e magicado por um arejado, colorido e empoeirado experimentalismo de admirável propulsão astral – ‘SAPNA’ aponta as suas antenas para referências como OM, Mammatus, Ufomammut e White Buzz. A sua sonoridade obscurantista, enfeitiçante, ambiental e ritualista embala o ouvinte numa arrebatadora, absorvente e desorientadora odisseia pelos infindáveis desertos da espiritualidade. Dissolvidos num profundo torpor mental e soterrados num imperturbável estádio de sonambulismo norteado a religioso misticismo, vagueamos e naufragamos pelo etéreo universo de SAPNA. Num constante pêndulo entre a doce letargia que nos faz dormitar e a vulcânica euforia que nos faz estremecer de prazer, a nossa consciência é desenraizada e catapultada de encontro aos jardins celestiais que florescem no negro solo do cosmos bocejante. Na composição deste poderoso fármaco de natureza psicotrópica gravitam entre si uma esfíngica guitarra de idioma alienígena que se avoluma em montanhosos, opressivos, altivos e brumosos riffs – escaldados a fervilhante, corrosiva, arenosa e crocante distorção – de onde são vertidos ácidos, atordoantes, ziguezagueantes e translúcidos solos, vocais espectrais, subterrâneos, messiânicos e espaciais, um baixo obeso de bafo possante, tenso, denso e magnetizante, e uma bateria tanto acintosa e incisiva como calmosa e sedativa que pauta na perfeição os contrastados climas do álbum. A ilustração deífica, sacra e salvífica – apelidada de “Paradiso Canto 31” - que confere rosto a esta transformadora obra, pertence ao clássico pintor francês do século XIX Gustave Doré. São 48 minutos de uma implacável narcose que nos distorce a lucidez e revolve numa inescapável náusea. ‘SAPNA’ é um registo enigmático, esotérico e piramidal que nos embacia, seduz e extasia do primeiro ao derradeiro tema. Banhem-se no seu diluviano misticismo e vivenciem com transbordante devoção todo o ofuscante esplendor de um dos grandes álbuns do ano. Corações ao alto.

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