quarta-feira, 5 de abril de 2023

Review: ☄️ Apodemus - 'Atlas' (2023) ☄️

★★★★

Depois de no outono de 2020 ter exibido e desconstruído o impactante EP ‘Signal’ (review aqui) do electrizante tridente russo Apodemus, sou agora impelido a replicar elogiosas palavras a esta fantástica banda localizada na cidade de Níjni Novgorod, motivado pelo seu novíssimo álbum ‘Atlas’ que desabrochara no final do passado mês de março através do exclusivo formato digital. Resultada de um renhido, fascinante e transpirado jogo de forças entre um hipnotizante, serpenteante, alucinógeno e delirante Heavy Psych (que ocasionalmente se fantasia de um letárgico, reflexivo e cinematográfico Post-Rock) de vistosa caligrafia arábica a fazer recordar os saudosos Blaak Heat Shujaa, e um montanhoso, fibrótico, vulcânico e gorduroso Stoner Metal (que tanto se encrespa e escalda num sulfuroso, fumarento e viscoso banho de lava à boa moda dos clássicos Corrosion of Conformity, como se perde e encontra em rodopiantes bailados Progressivos de indiscreta inspiração trazida dos Elder), a sonoridade cerimonial, imersiva, camaleónica e integralmente instrumental de ‘Atlas’ passeia-se livremente entre uma ardente, sísmica e euforizante turbulência – carburada a todo o vapor – que nos agita e sobreaquece o motor, e uma fresca, oceânica e primaveril placidez – ensolarada a esbatida embriaguez – que nos embevece e adormece. De alma atestada por um edénico misticismo, embalamos – à sónica boleia de nirvânicas, ácidas, longas e psicotrópicas jams – numa poderosa, estonteante, deslumbrante e vertiginosa propulsão consciencial que nos viaja pelas labirínticas linhas de que é feito o tecido do Cosmos. Uma odisseia incisiva, mântrica, messiânica e evolutiva pelos infindáveis desertos que pavimentam a nossa espiritualidade, farolizados e seduzidos por uma guitarra felina que ruge riffs intoxicantes, incandescentes, arenosos e altamente viciantes de onde são expelidos escorregadios, esguios, luzidios e ziguezagueantes solos venenosos, um baixo pérsico de linhas magnéticas, ondulantes, dançantes e eróticas, e uma bateria tribalista – de propensão ritualista – que saltita por entre tambores galopantes e pratos intensamente flamejantes. São 60 minutos de uma esponjosa, odorosa e profética hipnose que nos dissolve e revolve num imenso oceano de borbulhante mescalina. Uma sagrada peregrinação de sentidos centrifugados, trilhada debaixo dos céus incendiados pelo enrubescido Sol poente, com destino ao consagrado Paraíso. Deixem-se empoeirar nas incensadas, fantasmagóricas e coloridas nebulosas que vagueiam pela atmosfera de Apodemus, e catapultar para as profundezas insondáveis do espaço alienígena sem a mais pequena vontade dele regressar. ‘Atlas’ é um verdadeiro trampolim que nos iça para lá do lado eclipsado da Lua. Saltem para as costas deste indomável cometa, lavrem o negro solo cósmico e driblem as coordenadas do espaço-tempo.

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