quinta-feira, 11 de maio de 2023

Review: 🩸 Blood Ceremony - 'The Old Ways Remain' (2023) 🩸

★★★★

Acordados de uma longa hibernação discográfica, os canadianos Blood Ceremony estão finalmente de regresso com o lançamento do epopeico ‘The Old Ways Remain’ pela insuspeita mão da britânica Rise Above Records. Embruxado por um místico, aliciante, provocante e mesmérico Occult Rock de influências comungadas em clássicas referências como Coven e Black Widow, climatizado por um medieval, ácido, poético e outonal Psychedelic Folk de descendência e exuberância celta que desenterra e ressuscita velhas lendas do folclore, e colorido por um radioso, dançante, contagiante e cheiroso Psychedelic Pop de iridescente tintura sessentista, este quinto registo de longa duração representa o momento mais alto da esotérica formação enraizada na cidade de Toronto. Sobrevoado por uma sonoridade verdadeiramente enfeitiçante, irresistível e apaixonante que nos galanteia e incendeia de inefável ataraxia, e povoado por absorventes, eloquentes e crípticas histórias do mundo ancestral que nos respiram e embalsamam o olhar com uma imperturbável expressão sonhadora, ‘The Old Ways Remain’ é um álbum imensamente charmoso, sublime e ambicioso que não deixará ninguém indiferente. Um imersivo ritual de magia negra – com ousadas diabruras, ritmos excitantes e apimentadas fervuras – que nos faz cair e diluir na sua encantadora tentação. Aventurem-se pelos esfíngicos, labirínticos e frondosos bosques de Blood Ceremony e participem – de corpos desnudos, gargalhadas ecoantes e incansáveis corpos saltitantes à volta da fogueira – neste misterioso culto de adoração pagã, superiormente presidido por uma voz messiânica de pele melodiosa, translúcida e sedosa, uma serpenteante flauta transversal de aura fabular que se conduz e seduz por majestosos, hipnóticos e graciosos sopros, uma guitarra erudita, deliciosamente swingada a esplendorosos, vivazes e ostentosos riffs de onde florescem exuberantes solos, um baixo murmurante de reverberação filamentosa, vagueante e flexuosa, uma bateria acrobática e tribalista de ritmicidade desembaraçada, buliçosa e enlevada, e um romanesco teclado de odorosos, frescos e esponjosos bailados litúrgicos. Num plano secundário, é-me importante ainda trazer à luz do elogio as fugazes, mas vistosas, aparições de um violino trovador de soturnos mugidos, um esdrúxulo saxofone de histéricos bramidos e um estético pedal steel de arrepiantes arranjos. ‘The Old Ways Remain’ é uma inspirada e caprichada obra de verniz vintage que nos remete para tempos e vivências imemoriais, caídos há muito em desuso. Percam-se e encontrem-se por entre os seus belos contos primorosamente musicados, e testemunhem com inapagável fascinação toda a desarmante vitalidade deste triunfante regresso de Blood Ceremony.

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