Seis anos
volvidos desde o lançamento do seu fantástico EP de estreia (aqui
trazido e enaltecido), os texanos Smokey Mirror estão finalmente de
regresso com um dos álbuns mais aguardados do ano. Metamorfoseada de trio para
quarteto e com um elenco parcialmente renovado, a banda natural da cidade de Dallas combina
o restauro e regravação de velhos temas da banda presentes no EP – conferindo-lhes
assim uma nova roupagem – com outros novos, ainda por estrear, no seu impactante
e homónimo álbum de estreia que sai agora à rua através dos formatos fÃsicos LP e CD pela mão da discográfica londrina Rise Above Records. Cozinhada
num ruborizado, apimentado e fumegante caldeirão, abraçado por crepitantes
lavaredas, de paladar Tex-Mex e em borbulhante ebulição, onde se
mexe e remexe um bailante, lubrificado, torneado e aliciante Heavy Blues
de afrodisÃaco balanço boogie, um tonificado, fogoso, rugoso e encorpado
Hard Rock de motores turbulentos, e um eufórico, efervescente, erodente
e intrépido Heavy Psych de colorida fritura pirotécnica, a entusiástica sonoridade
de ‘Smokey Mirror’ vem sintonizada na mesma frequência de clássicas referências
como Josefus, Blue Cheer, Cactus, James Gang, Captain
Beyond, Toad e Grand Funk Railroad, bem como de outras
contemporâneas como Joy, Radio Moscow, Crypt Trip e Love
Gang. Contando ainda com carnavalescos elementos de um hipnótico e ondeante
Prog Rock e um exótico e enleante Jazz-Rock, este exuberante,
explosivo e empolgante álbum dos texanos transporta o ouvinte para a vibrante azáfama
nocturna no interior de um velho, fumacento e poeirento saloon, por
entre copos de cerveja transbordante, punhos cerrados ao alto, sorrisos
festivos e contagiantes, e corpos transpirados e bailantes. Um electrizante, faiscante
e embriagante bacanal de moldura setentista que nos embala na selvática
vertigem à alucinante boleia de duas guitarras predatórias que se entrançam em
estonteantes redemoinhos de ciclónicos, catatónicos e viciantes riffs revestidos
a abrasiva e urticante distorção, e destrançam na caótica e desenfreada debandada de venenosos,
ziguezagueantes e buliçosos solos, um baixo deliciosamente groovy que se
balanceia por entre calorosas, sinuosas e pulsantes linhas de textura palpável,
uma extravagante bateria de apurada tecnicidade jazzÃstica que tanto se meneia entre
o polido e cintilante tilintar dos pratos e o arenoso e ronronante rufar da tarola,
como se incendeia numa furiosa detonação de flamejante comoção com acrobacias verdadeiramente
mirabolantes, e ainda vocais escabrosos, ácidos e espinhosos que completam na
perfeição toda esta tumultuosa inflamação. Smokey Mirror é um sÃsmico
vulcão em gorgolejante e inesgotável erupção que nos faz surfar polposos rios de lava incandescente. Um registo tremendamente apaixonante e arrebatado, dinamitado por
uma louca selvajaria psicotrópica de temperatura infernal, e ocasionalmente massajado
por mornas passagens de etérea sedução e reconforto sensorial. Alcanço a extremidade final deste fulminante rastilho completamente aturdido e convencido de que muito dificilmente
este álbum será vencido na sangrenta disputa pelo primeiro lugar da listagem onde se perfilam os melhores álbuns
nascidos em 2023.
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