segunda-feira, 8 de maio de 2023

Review: 🧨 Smokey Mirror - 'Smokey Mirror' (2023) 🧨

★★★★

Seis anos volvidos desde o lançamento do seu fantástico EP de estreia (aqui trazido e enaltecido), os texanos Smokey Mirror estão finalmente de regresso com um dos álbuns mais aguardados do ano. Metamorfoseada de trio para quarteto e com um elenco parcialmente renovado, a banda natural da cidade de Dallas combina o restauro e regravação de velhos temas da banda presentes no EP – conferindo-lhes assim uma nova roupagem – com outros novos, ainda por estrear, no seu impactante e homónimo álbum de estreia que sai agora à rua através dos formatos físicos LP e CD pela mão da discográfica londrina Rise Above Records. Cozinhada num ruborizado, apimentado e fumegante caldeirão, abraçado por crepitantes lavaredas, de paladar Tex-Mex e em borbulhante ebulição, onde se mexe e remexe um bailante, lubrificado, torneado e aliciante Heavy Blues de afrodisíaco balanço boogie, um tonificado, fogoso, rugoso e encorpado Hard Rock de motores turbulentos, e um eufórico, efervescente, erodente e intrépido Heavy Psych de colorida fritura pirotécnica, a entusiástica sonoridade de ‘Smokey Mirror’ vem sintonizada na mesma frequência de clássicas referências como Josefus, Blue Cheer, Cactus, James Gang, Captain Beyond, Toad e Grand Funk Railroad, bem como de outras contemporâneas como Joy, Radio Moscow, Crypt Trip e Love Gang. Contando ainda com carnavalescos elementos de um hipnótico e ondeante Prog Rock e um exótico e enleante Jazz-Rock, este exuberante, explosivo e empolgante álbum dos texanos transporta o ouvinte para a vibrante azáfama nocturna no interior de um velho, fumacento e poeirento saloon, por entre copos de cerveja transbordante, punhos cerrados ao alto, sorrisos festivos e contagiantes, e corpos transpirados e bailantes. Um electrizante, faiscante e embriagante bacanal de moldura setentista que nos embala na selvática vertigem à alucinante boleia de duas guitarras predatórias que se entrançam em estonteantes redemoinhos de ciclónicos, catatónicos e viciantes riffs revestidos a abrasiva e urticante distorção, e destrançam na caótica e desenfreada debandada de venenosos, ziguezagueantes e buliçosos solos, um baixo deliciosamente groovy que se balanceia por entre calorosas, sinuosas e pulsantes linhas de textura palpável, uma extravagante bateria de apurada tecnicidade jazzística que tanto se meneia entre o polido e cintilante tilintar dos pratos e o arenoso e ronronante rufar da tarola, como se incendeia numa furiosa detonação de flamejante comoção com acrobacias verdadeiramente mirabolantes, e ainda vocais escabrosos, ácidos e espinhosos que completam na perfeição toda esta tumultuosa inflamação. Smokey Mirror é um sísmico vulcão em gorgolejante e inesgotável erupção que nos faz surfar polposos rios de lava incandescente. Um registo tremendamente apaixonante e arrebatado, dinamitado por uma louca selvajaria psicotrópica de temperatura infernal, e ocasionalmente massajado por mornas passagens de etérea sedução e reconforto sensorial. Alcanço a extremidade final deste fulminante rastilho completamente aturdido e convencido de que muito dificilmente este álbum será vencido na sangrenta disputa pelo primeiro lugar da listagem onde se perfilam os melhores álbuns nascidos em 2023.

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