Da paradisÃaca região, rural e balnear, de Sunshine Coast (pertencente ao estado de Queensland na Austrália) chega-nos o portentoso álbum de estreia do jovem tridente ofensivo Emu. Fervido num vulcânico caldeirão onde são cozidos e revolvidos um electrizante, abrasivo, altivo e pujante Heavy Rock de roupagem clássica, um libidinoso, melÃfluo, ardente e lustroso Heavy Blues com indisfarçável hálito de bourbon, e um intoxicante, fogoso, tormentoso e alucinante Heavy Psych de borbulhante efervescência, este primeiro passo discográfico (que, na verdade, mais se assemelha a um admirável salto olÃmpico) do enérgico power-trio australiano de olhar fulminante, semblante carregado e nariz fumegante incendeia o ouvinte com um escaldante e euforizante banho de polposo, torneado e musculoso psicadelismo. Um autêntico emulsificante que funde vários sub-géneros musicais num só. De inspiração colhida tanto no fértil território setentista (onde são facilmente reconhecidos os ecos de bandas clássicas como Grand Funk Railroad, Cream, Cactus, Taste, James Gang, Montrose, Sir Lord Baltimore, Captain Beyond, Dust, Toad, Budgie e Three Man Army), assim como em referências da contemporaneidade (tais como Corrosion of Conformity, Love Gang, Bison Machine, The Dues, Cloud Catcher, War Cloud e Stew), este fibroso, reptiliano e aparatoso ‘Emu’ agiganta-se na nossa frente como um indomável ciclone que tudo absorve, sacode e rodopia. Embriagados, aturdidos e integralmente enfeitiçados pela sua enfática, ácida, oleada e psicotrópica sonoridade, somos levados nas costas de uma poeirenta, pesada e barulhenta manada de bisontes. Uma cavalgada infernal açoitada por uma guitarra divinal que se robustece na gloriosa ascensão de montanhosos, lubrificados, carnudos e serpenteantes riffs electrificados a chamejante, gaseificada, rugosa e crocante distorção, e endoidece na virtuosa condução de ziguezagueantes, acidificados, fugidios e estonteantes solos de afrodisÃacos meneios Jimi Hendrix’eanos, um baixo sisudo, sÃsmico e parrudo de bafagem pulsante, quente, pesada e sufocante, uma bateria acrobática, bombástica e galopante de esporas ensanguentadas e rédeas afogueadas, e uma voz melodiosa, urticante, liderante e oleosa que se passeia envaidecida e graciosamente por entre as esvoaçantes faúlhas cuspidas por este incandescente braseiro em incansável combustão. ‘Emu’ de contornos titânicos, totalmente forjado à minha imagem, que tanto se reveste de matéria rochosa quanto aquosa, encarna um génio tão tempestuoso quanto bonanceiro, e se pauta a uma cadência tão pausada quanto vertiginosa. Um registo verdadeiramente provocante, apaixonante e sensacional, que me faz cravar os dentes nos lábios, fechar as pálpebras com força, centrifugar a cabeça e erguer os punhos cerrados ao alto. Um intenso vendaval de endorfinas que é aspirado pelas nossas narinas e tudo estremece e embevece cá dentro. Este homónimo disco de estreia de Emu – um dos mais fortes candidatos a levantar o troféu de melhor álbum do ano – acaba de sair à rua de mãos dadas à editora No Groove No Good Records e sob as formas de vinil e digital (com a promessa de, num futuro próximo, vir a ser também lançado numa extravagante edição multicolorida em formato LP com o carimbo da companhia discográfica local Black Farm Records). A bonita ilustração desta verdadeira iguaria de feições vintage mas com a presença bem vincada de uma aura sofisticada aponta os seus créditos de autor ao talentoso e afamado artista australiano Henry Bennett.
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