sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Review: 🌬️ Holy Void - 'All Will Be Revealed In Time' (2024) 🌬️

★★★★

Proveniente da cidade canadense de Winnipeg (capital da província de Manitoba) chega-nos a odorosa, densa e esponjosa neblina do sexteto Holy Void com a promoção do seu segundo trabalho de longa duração, depois de cinco anos em produção, intitulado ‘All Will Be Revealed In Time’ e lançado sob os formatos LP e digital. Musicado por uma enfeitiçante simbiose que contempla um cativante, caramelizado e apaixonante Alternative Rock, um magnetizante, intoxicante e espacial Psychedelic Rock e um sonolento, melancólico e pachorrento Shoegaze, este segundo álbum de Holy Void estagna o ouvinte nos braços de uma entorpecedora nebulosidade mental de cega brancura que coloca a nu toda a sua permeabilidade emocional. A sua sonoridade hipnótica, misteriosa, anestésica e invernosa – de roupagem gótica – adensa-se nas asas de acinzentados, demorados e esbatidos temas que nos roubam o ar do peito, empalidecem a tez, comovem e embaciam a lucidez. Uma perpétua madrugada orvalhada – de tímida luzência e bruma cerrada – que nos humedece, enregela e esmorece. Um sempiterno crepúsculo mudo e nevado que nos anoitece o espírito e o tinge de açucarada nostalgia. ‘All Will Be Revealed In Time’ é um álbum tristemente belo que nos seduz, sensibiliza, alcooliza e conduz a um imperturbável estádio de pura letargia. Uma agradável caminhada pelo embrumado universo onírico, farolizados por duas bailantes guitarras – mergulhadas no fantasmagórico efeito Reverb – de riffs tocantes e solos uivantes, um murmurante baixo de linhas saltitantes, uma expressiva bateria de galope estimulante, um harmonioso violino de arrepiantes bailados, um murchoso violoncelo de ociosos mugidos e vocais leves, melodiosos e espectrais. Uma fúnebre e solitária digressão pela terra queimada que pavimenta o lado eclipsado do nosso Ser de olhos arremessados na longínqua direcção da resplandecente salvação. ‘All Will Be Revealed In Time’ orquestra a lenta progressão da desesperança ao alento, da nebulosidade à alvura, da obscuridade ao brilho, da prostração à emancipação. Um sublimado sonho musicado em slow-motion onde bocejamos, nos espreguiçamos demoradamente, perdemos e encontramos. Esta é uma obra verdadeiramente libertadora, milagrosa, regeneradora e transcendente. Neste espantoso registo reside um tema imensamente meigo, meloso e divinal que me sorve, derrete e comove sempre que o escuto (“In The End I Am Nothing Anyways”), e em mim ecoa a inabalável certeza de que é dele uma das mais desejadas posições na lista dos melhores álbuns florescidos em 2024. Banhem-se e curem-se na sagrada vacuidade deste venerável sexteto canadense.

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