sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Review: 🌵 Rose City Band - 'Sol y Sombra' (2025, Thrill Jockey) 🌵

★★★★

Devo começar por revelar que o meu olhar dilata e incendeia sempre que vejo o anúncio do lançamento de um novo álbum desta apaixonante banda norte-americana superiormente capitaneada pelo talentoso multi-instrumentista Ripley Johnson (Wooden Shjips / Moon Duo), e este seu quinto trabalho de longa duração intitulado ‘Sol y Sombra’ – descortinado na íntegra hoje mesmo através dos formatos LP, CD e digital pela mão da Thrill Jockey – não foi excepção. Em todos os álbuns de Rose City Band reside um mélico e anestésico sentimento de pura nostalgia que me absorve, comove e amolece o coração. Uma estranha, mas reconfortante, sensação que me faz sentir saudades do que não vivi. Natural da cidade de Portland (Oregon, EUA), este adorável quinteto passeia-se livre, sossegada e graciosamente a trote de um relaxado, ritmado, quente e condimentado Country Rock de ornamentada moldura Western, caleidoscópica coloração psicadélica, elegante roupagem clássica e atmosfera marcadamente Americana (uma amálgama de géneros musicais onde confluem o Folk, o Country, o Rhythm & Blues e o Rock & Roll) que deleita e jornadeia o ouvinte por entre açucaradas, íntimas e honestas baladas – tanto ensolaradas, quanto anoitecidas – que se serpenteiam pelos longos desfiladeiros da nossa alma. Montados num idoso cavalo sonolento, de ritmo pausado, que trilha o infindável e bronzeado tapete arenoso do deserto, de olhar içado e cravado no inalcançável Sol crepuscular – debruçado sobre as rochosas montanhas que recortam o longínquo horizonte – que vai derretendo numa vasta palete de tons purpúreos que vão amadurecendo, enegrecendo e entregando aos esponjosos braços da noite com vista desabrigada para o frondoso e luminoso jardim cósmico, vagueamos – levemente embriagados e pesadamente apaixonados – pela introspectiva, lenitiva, agradável e imersiva musicalidade de ‘Sol y Sombra’. Uma libertadora, solitária e transformadora passeata pelo velho deserto, onde a natureza está entregue a ela mesma, driblando imponentes saguaros que se espreguiçam na direcção dos céus vítreos, aspirando a fresca e aromatizada brisa, bebericando ardente tequila e naufragando, absortos, nas areias movediças dos nossos pensamentos. De sorriso esculpido no rosto, cabeça bailante e olhar sonhador, embarcamos nesta gratificante viagem de afago mental, principiada na bocejante madrugada do amarelecido verão e com destino incerto para lá do Sol posto, à aliciante boleia de uma voz sussurrante que nos acaricia, um baixo pulsante que nos aquece, uma guitarra ziguezagueante que nos enternece, um arrepiante pedal steel que nos desarma, uma bateria simplista que nos galopa em slow-motion. ‘Sol y Sombra’ é um álbum melancolicamente belo. Um registo terno, gentil e delicado que nos faz sorrir de lágrimas nos olhos. Bronzeiem-se na sua luzência medicinal e reconfortem-se na sua paradisíaca serenidade. Não quero despertar deste sonho sublimemente musicado.

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