sexta-feira, 20 de julho de 2018

Review: ⚡ Spaceslug - 'Eye the Tide' (2018) ⚡

Depois de lançados e devidamente elogiados ‘Lemanis’ em 2016 (review aqui) e ‘Time Travel Dilemma’ em 2017 (review aqui), o tridente polaco Spaceslug acaba agora de presentear todos os seus seguidores com o terceiro e novo álbum ‘Eye the Tide’. Lançado hoje mesmo tanto em formato digital através da sua página oficial de Bandcamp, como em formato físico de CD através da parceria discográfica Oak Island Records / BSFD Records (com as quais a banda reforça o seu vínculo), este ‘Eye the Tide’ representa o tão aguardado e renovado capítulo desta formação sediada na cidade de Wrocław pelos enigmáticos domínios do denso, solitário, profundo e psicotrópico negrume cósmico. Fundamentado num pantanoso, morfínico, nebuloso e melancólico Psych Doom – aureolado e climatizado por um contemplativo, lenitivo, atmosférico e narrativo Post-Rock que se fortalece num galopante, colérico e euforizante Post-Metal – este novo registo de Spaceslug desancora-nos da gravidade terrestre, embacia e narcotiza a nossa lucidez, redefine a nossa orientação consciencial e mergulha-nos nas profundezas da obscuridade astral. A sua sonoridade alucinógena faz-nos escorregar numa abissal narcose da qual não será fácil regressar. Uma homérica odisseia pelos tenebrosos, obscuros, trágicos e revoltosos mares do lado eclipsado da existência humana que nos banham de uma imensa e intensa misantropia. Embarquem nesta sublime descensão às entranhas de um Cosmos falecido e soterrado onde só a solitude impera na companhia de uma guitarra grandiosa que se enegrece, agiganta e envaidece em riffs vultosos, epopeicos e majestosos, e se transvia e excede na admirável construção e condução de solos desvairados, prodigiosos, rutilantes e arrebatadores que combatem toda a cerrada neblina que envolve ‘Eye the Tide’. Balanceiem os vossos corpos absortos à boleia de um baixo magnetizante de pulsante, musculada, tensa e reverberante ondulação, pendulem pesadamente a cabeça de ombro a ombro na instintiva resposta a uma bateria fulgurante movida e nutrida a uma ritmicidade dinâmica e empolgante, e intriguem-se por entre a alma de uma voz tanto doce, melódica e relaxada quanto áspera, ardente e irritada. De louvar ainda o expressivo artwork – ilustrado pelo talentoso e inimitável artista polaco Maciej Kamuda (responsável único pelos trabalhos visuais de toda a discografia da banda) – que tão bem transporta para o campo visual tudo o que a musicalidade de ‘Eye the Tide’ pincela no imaginário do ouvinte. Este é um álbum que nos arrasta consigo numa fascinante viagem evolutiva pela beleza da tristeza que em nós provoca toda uma experiência imersiva. Deixem-se levar e encantar pela torrente de Spaceslug e testemunhem todo o desarmante misticismo emanado por um dos mais hipnóticos e apaixonantes álbuns lançados em 2018.

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