domingo, 26 de abril de 2020

Review: ⚡ Kanaan - 'Double Sun' (2020) ⚡

Depois de em 2018 ter sido lançado o seu impactante álbum de estreia ‘Windborne’ (Review aqui) e de já em meados do passado mês de Fevereiro ter sido apresentado o seu segundo trabalho ‘Odense Sessions’ (Review aqui), eis que o talentoso tridente norueguês Kanaan acaba de presentear toda a sua crescente legião de fieis discípulos com a aparição do seu terceiro registo de longa duração. Denominado de ‘Double Sun’ e devidamente promovido através do insuspeito selo discográfico dinamarquês El Paraiso Records (com o qual a banda vai reforçando o seu vínculo editorial) nos formatos físicos de CD e vinil, esta nova obra inspiradora da jovem formação nórdica traz-nos um admirável equilíbrio das essências desiguais que nortearam os seus dois discos antecessores. Lavrado, bordado e desenvolvido por um sofisticado, cerebral e elaborado cocktail sonoro de onde facilmente se identifica e saboreia um exótico, purificante e enigmático Jazz Fusion de inspiração apontada aos fabulosos britânicos Soft Machine e à lendária multinacional Mahavishnu Orchestra, um deslumbrante, sublime e serpenteante Prog Rock de ares revivalistas que se balanceia entre a carnavalesca exuberância de uns King Crimson e a onírica majestosidade de uns YES, um ensolarado, primaveril e perfumado Psychedelic Rock de inebriante radiância que resvala na envolvência cinematográfica do Post Rock, e ainda um hipnótico, imersivo e meditativo Krautrock – ainda que de presença mais destemida e vincada na ponta final do álbum – sintonizado na mesma frequência que os clássicos germânicos NEU! e CAN, este trabalho toca as fronteiras da tão ambicionada perfeição. A sua musicalidade de desígnios complexos pendula entre etéreas passagens de uma refrescante, paisagista e extasiante lisergia, e espalhafatosos momentos de sónico, eufórico e selvático experimentalismo. Na génese desta apaixonante conjugação entre a frenética tempestuosidade e a pacífica mansidão, imperam os virtuosos egos de uma guitarra erudita que se passeia por cristalinas paisagens temperadas a quimérica letargia e outras chamejadas pelo vulcânico efeito Fuzz, um baixo motorizado a linhas errantes, livres, viçosas e ondeantes, e uma bateria circense de toque cintilante, polido, preciso e entusiasmante. ‘Double Sun’ é um primoroso álbum de beleza e destreza consumadas. Um registo governado por um simbiótico misticismo onde cada um dos instrumentos tem total liberdade de movimentos – naufragando num criativo rasgo de catártica e extravagante comoção – sem que percam o seu apurado sentido de orientação. É, indubitavelmente, o meu disco de eleição produzido por este luxuoso power-trio sediado em Oslo. Recostem-se relaxadamente, apertem os cintos e preparem-se para vivenciar a acrobática sinuosidade de uma delirante montanha-russa que vos baralhará os sentidos e descarrilará a lucidez. Estamos na distinta presença de uma caprichosa iguaria pronta a saciar a sede dos ouvidos mais exigentes. Um dos mais épicos discos de 2020 está seguramente aqui, na portentosa detonação criativa de Kanaan. Empoderem-se nele.

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