segunda-feira, 17 de maio de 2021

Review: ⚡ Jack Harlon & The Dead Crows - 'The Magnetic Ridge' (2021) ⚡

★★★★

Três anos depois do seu portentoso álbum de estreia (designado ‘Hymns’, e aqui devidamente desconstruído e imensamente elogiado) ter saído à rua, o exótico quarteto australiano Jack Harlon & The Dead Crows – localizado na artística cidade de Melbourne – ressurge agora com a muito ansiada apresentação do seu novo trabalho ‘The Magnetic Ridge’, oficial e integralmente lançado hoje mesmo nos formatos físicos de vinil (pela mão da editora local Psychedelic Salad Records) CD e cassete (estes com o carimbo editorial do selo norte-americano Forbidden Place Records). Repetindo a bem-sucedida receita usada na génese do primeiro álbum, este imersivo, apaixonante, impactante e criativo ‘The Magnetic Ridge’ vem ensolarado, nutrido e flamejado por um intoxicante, arenoso, lustroso e electrizante Heavy Psych que – de forma indiscreta e fluída – desagua numa bifurcação que separa as paradísicas praias de um deslumbrante, caleidoscópico, hipnótico e purificante Psychedelic Rock banhado a intensa luzência solar, dos encarvoados pântanos embrumados por um intrigante, trevoso, fibroso e aliciante Psychedelic Doom de coloração nocturna. Sintonizado na mesma frequência dos norte-americanos All Them Witches e King Buffalo, dos germânicos Colour Haze, e ainda dos saudosos canadianos Quest for Fire, o segundo capítulo destes místicos cowboys australianos vem ainda embelezado por arejados, meditativos e aromatizados interlúdios de natureza Folky que nos remetem para os solitários desertos do velho oeste. Num perfeito equilíbrio entre a profunda imersão numa morfínica, labiríntica e atordoante hipnose que nos atesta de febril embriaguez, e a enlouquecedora, efervescente e libertadora euforia que nos sobreaquece de um ardor vulcânico e rasga as vestes da lucidez, galopamos as desérticas planícies que se descortinam por entre a densa poeira cósmica deste ‘The Magnetic Ridge’ completamente absorvidos pela sua feitiçaria xamânica. Na sagrada composição de toda esta empolgada, extasiante e embriagada paranoia deambulam livremente duas guitarras endeusadas que se envaidecem na edificação de serpenteantes, venenosos, poderosos e excitantes Riffs distorcidos e encrostados a crocante efeito Fuzz, e na sónica condução de selváticos enxames de uivantes, fugidios, escorregadios e borbulhantes solos, uma voz avinagrada, ecoante, escarpada e liderante que pendula entre a inflamada rispidez e a gélida placidez, um baixo motorizado – soberbamente groovy – de onduladas, oleadas, magnéticas e estéticas linhas pesadamente bafejadas, e uma bateria expressiva – esporeada a duas velocidades contrastadas – que tanto metralha de forma bélica e tempestuosa os momentos de saturada explosividade, como tiquetaqueia com polido requinte as passagens mais bonanceiras do disco. O fantástico artwork de feições necrológicas que confere rosto a este álbum verdadeiramente épico pertence ao inconfundível ilustrador Adam Burke (aka Nightjar Illustration). Se deste regresso de Jack Harlon & The Dead Crows eu muito esperava, tudo ele me deu. ‘The Magnetic Ridge’ é um registo incrivelmente híbrido que tanto nos centrifuga numa psicótica espiral de emoções à flor da pele, como esbate numa entorpecida lisergia oxigenada a LSD. Estamos mesmo na honrosa presença de uma obra genuinamente piramidal que aponta aos mais elevados lugares da listagem que condecorará os melhores álbuns florescidos em 2021. Embarquem destemidamente nesta quimérica odisseia de estimulação sensorial e glorificação espiritual sem destino predefinido e regresso garantido.

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