sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Review: ⚡ Madmess - 'Rebirth' (2021) ⚡

★★★★

Na primavera de 2019 testemunhava e descrevia a sónica colisão de um asteroide de grandes dimensões e chamado ‘Madmess’ com o planeta Terra (fenómeno aqui transposto para a escrita), e hoje – ainda impregnado num estado de transbordante fascinação e febril torpor – vejo-me forçado a desdobrar elogiosas e apaixonadas palavras sobre o novíssimo álbum deste electrizante power-trio português que acaba de me proporcionar uma das mais prazerosas, longínquas e aventurosas evasões conscienciais de que tenho memória. Intitulado ‘Rebirth’ e devidamente carimbado com o selo da companhia discográfica londrina Hassle Records nos formatos digital, CD e vinil, este segundo e portentoso trabalho de Madmess – formação que alterna a sua morada de residência entre as cidades de Porto e Londres – vem incensado por um intoxicante, cinematográfico, imersivo e viajante Heavy Psych com vista para as estrelas, de mãos dadas com um labiríntico, sinuoso, glorioso e místico Heavy Prog de nutridas composições. A sua sonoridade desmedidamente deslumbrante, alucinógena e purificante – que pendula entre uma orvalhada, reflexiva e enregelada letargia, e uma vulcânica, vibrante e selvática euforia – rasga as amarras da gravidade terrestre e – montado num luminoso cometa que perfura o negro tecido cósmico – embala o ouvinte numa enlouquecedora vertigem, driblando o magnetismo de planetas solitários, empoeirando a alma nas fantasmagóricas nebulosas que deambulam pela imensa vacuidade, mergulhando no ofuscante brilho de abrasivas fornalhas estelares, e resvalando nas costuras fronteiriças de um Universo bocejante. Toda uma fantástica odisseia tridimensional – de libertação sensorial e consagração espiritual – que nos exulta e catapulta à delirante boleia de uma guitarra messiânica – gaseificada a crepitante distorção – que se robustece na majestosa ascensão de mastodônticos, incandescentes, fumegantes e ciclónicos Riffs, e endoidece numa efervescente inundação de solos ziguezagueantes, ácidos, venenosos e atordoantes, um possante baixo de ventosa reverberação canalizada em linhas ondeantes, espessas, escuras e hipnotizantes, uma impetuosa bateria de explosividade superiormente domesticada a um toque rutilante, acrobático, enfático e retumbante, e vocais muito esporádicos – de pele sideral, lustrosa e espectral – que apenas inflamam o derradeiro tema desta irretocável obra-prima do psicadelismo actual. O seráfico artwork que confere rosto a esta xamânica monção de aromas psicotrópicos aponta os seus créditos autorais à talentosa ilustradora/tatuadora portuguesa Lory Cervi, e vem recordar que somos seres espirituais a vivenciar uma experiência humana ao invés de seres humanos a vivenciar uma experiência espiritual. São cerca de 45 minutos naufragados e centrifugados num colorido, arrebatado e caleidoscópico rebuliço capaz de nos distorcer a sóbria percepção do espaço-tempo. Um registo verdadeiramente afrodisíaco que percorre e entope as zonas mais erógenas do nosso cérebro. Vai ser demasiado fácil enquadrar estas quiméricas jams de sublimes roteiros intergalácticos por entre os mais medalhados álbuns florescidos neste jardim musical de 2021.

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