Na primavera
de 2019 testemunhava e descrevia a sónica colisão de um asteroide de grandes
dimensões e chamado ‘Madmess’ com o planeta Terra (fenómeno aqui
transposto para a escrita), e hoje – ainda impregnado num estado de transbordante fascinação
e febril torpor – vejo-me forçado a desdobrar elogiosas e apaixonadas palavras sobre
o novíssimo álbum deste electrizante power-trio português que acaba de me
proporcionar uma das mais prazerosas, longínquas e aventurosas evasões conscienciais
de que tenho memória. Intitulado ‘Rebirth’ e devidamente carimbado
com o selo da companhia discográfica londrina Hassle Records nos
formatos digital, CD e vinil, este segundo e portentoso trabalho de Madmess
– formação que alterna a sua morada de residência entre as cidades de Porto e Londres
– vem incensado por um intoxicante, cinematográfico, imersivo e viajante Heavy
Psych com vista para as estrelas, de mãos dadas com um labiríntico,
sinuoso, glorioso e místico Heavy Prog de nutridas composições. A sua
sonoridade desmedidamente deslumbrante, alucinógena e purificante – que pendula
entre uma orvalhada, reflexiva e enregelada letargia, e uma vulcânica, vibrante
e selvática euforia – rasga as amarras da gravidade terrestre e – montado num luminoso
cometa que perfura o negro tecido cósmico – embala o ouvinte numa
enlouquecedora vertigem, driblando o magnetismo de planetas solitários,
empoeirando a alma nas fantasmagóricas nebulosas que deambulam pela imensa
vacuidade, mergulhando no ofuscante brilho de abrasivas fornalhas estelares, e
resvalando nas costuras fronteiriças de um Universo bocejante. Toda uma fantástica
odisseia tridimensional – de libertação sensorial e consagração espiritual – que
nos exulta e catapulta à delirante boleia de uma guitarra messiânica –
gaseificada a crepitante distorção – que se robustece na majestosa ascensão de mastodônticos,
incandescentes, fumegantes e ciclónicos Riffs, e endoidece numa efervescente
inundação de solos ziguezagueantes, ácidos, venenosos e atordoantes, um possante
baixo de ventosa reverberação canalizada em linhas ondeantes, espessas, escuras
e hipnotizantes, uma impetuosa bateria de explosividade superiormente
domesticada a um toque rutilante, acrobático, enfático e retumbante, e vocais muito
esporádicos – de pele sideral, lustrosa e espectral – que apenas inflamam o derradeiro tema desta irretocável
obra-prima do psicadelismo actual. O seráfico artwork que confere rosto
a esta xamânica monção de aromas psicotrópicos aponta os seus créditos autorais
à talentosa ilustradora/tatuadora portuguesa Lory Cervi, e vem recordar que somos
seres espirituais a vivenciar uma experiência humana ao invés de seres humanos
a vivenciar uma experiência espiritual. São cerca de 45 minutos naufragados e centrifugados
num colorido, arrebatado e caleidoscópico rebuliço capaz de nos distorcer a sóbria
percepção do espaço-tempo. Um registo verdadeiramente afrodisíaco que percorre
e entope as zonas mais erógenas do nosso cérebro. Vai ser demasiado fácil
enquadrar estas quiméricas jams de sublimes roteiros intergalácticos por
entre os mais medalhados álbuns florescidos neste jardim musical de 2021.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ Hassle Records
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