terça-feira, 21 de novembro de 2023

Review: ⚡ Travo - 'Astromorph God' (2023) ⚡

★★★★

Depois da estreia ‘Ano Luz’ (aqui descrita) e do imersivo ‘Sinking Creation’ (aqui descrito), os bracarenses Travo estão de regresso com o seu novíssimo álbum denominado ‘Astromorph God’ e editado através da coligação ibérica entre a portuguesa Gig.Rocks e a espanhola Spinda Records nos formatos LP, CD e digital. Baseada num electrizante cocktail que combina um eruptivo, flamejante, efervescente e eruptivo Heavy Psych de irreverente atitude Garage com um propulsivo, vertiginoso, aparatoso e incisivo Space Rock de alta tensão, a camaleónica, criativa e ciclónica sonoridade de ‘Astromorph God’ ziguezagueia pelos serpenteios enleantes dos norte-americanos Elder, é varrida pelas rajadas psicotrópicas dos franceses SLIFT e contagiada pelo ecletismo sónico dos australianos King Gizzard & the Lizard Wizard. Contando ainda com discretos laivos de Rock Progressivo, este terceiro registo do quarteto português tanto banha e euforiza o ouvinte num fumegante vulcão em constante erupção, como o narcotiza e deixa à deriva na perpétua vacuidade cósmica. De dentes cravados no lábio inferior, coração galopante, olhar fulminante e cabeça furiosamente rodopiante embalamos na enlouquecedora vertigem espacial de Travo que nos dispara numa redentora eclosão sensorial. Uma injecção de pura adrenalina que nos satura de ebulição e arremessa a alta rotação pelas autoestradas do território alienígena. Uma atordoante, ofuscante e iridescente pirotecnia onde orbitam duas guitarras intoxicantes que manobram riffs infecciosos, fogosos e caleidoscópicos, e vomitam solos centrifugantes, ácidos e gritantes, um baixo elástico de reverberação escaldante, espessa e ondeante, uma bateria sísmica de ritmicidade bombástica, enfática e alucinante, um sintetizador de enfeitiçantes sirenes cósmicos, e vocais avinagrados, diabrinos e espectrais que pendulam entre níveos murmúrios siderais e coléricos rugidos infernais. A ilustração que confere um rosto robótico a esta arrasadora bomba de endorfinas – a fazer lembrar a sui generis e inventiva arte do helvético H. R. Giger – aponta os respectivos créditos autorais ao artista de rua portuense IMUNE. São 43 minutos transpirados e cadenciados a uma desenfreada correria. ‘Astromorph God’ é um grito implosivo que se propaga até às costuras fronteiriças do Cosmos interior. Psicadelismo de alta voltagem e em curto-circuito que põe à prova a resistência dos alicerces da nossa sanidade mental. Regressamos de ‘Astromorph God’ sem fôlego, de rastos e derrotados pela incontida descarga de energia que o mesmo liberta sem dó nem piedade. Um dos mais sérios candidatos a melhor álbum português do ano está aqui. Electrifiquem-se nele.

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