Recém-transfigurados
de duo para trio, os germânicos Vast Pyre acabam de editar o seu segundo
trabalho de longa duração intitulado ‘Bleak’ e lançado pela companhia
discográfica italiana Argonauta Records através dos formatos LP, CD,
cassete e digital. Um ano após o lançamento do seu homónimo álbum de estreia (aqui
descortinado e enaltecido), a formação alemã – domiciliada na cidade de Eisenach
– detona e liberta agora uma nova e selvática avalanche de total escuridão na
nossa direcção. Eclipsado e assombrado por um titânico, opressivo, invasivo e misantrópico
Doom Metal, de carregadas e malfadadas feições Electric Wizard’eanas,
que nos profana e enluta a alma, ‘Bleak’ é um álbum sobrenatural, impiedoso,
caliginoso e implacável. Ardente, densa, tensa e contundente, a sonoridade de Vast
Pyre vagueia a duas velocidades pelas lodacentas, nevoentas e invernais trevas.
Num constante movimento pendular entre a pesada e embriagada morosidade que nos
hipnotiza, eteriza e soterra nas abissais profundezas da narcose, e a turbulenta
celeridade que nos pontapeia e incendeia numa euforia contida e dispara numa
vertiginosa propulsão pela vibrante coloração astral, este novo álbum do
tridente germânico é integralmente governado por uma sufocante atmosfera
infernal. Carbonizados pelas negras lavaredas de ‘Bleak’, caminhamos, apáticos
e sonâmbulos, numa enfeitiçante peregrinação de orientação demoníaca que nos
gela o coração. São 44 minutos intoxicados por uma perniciosa, tenebrosa e
irrespirável pretura que nos consome na sombra do profano. Cinco imersivos contos
de horror superiormente musicados por uma guitarra sacerdotal que se agiganta
em vigorosos, monolíticos, esfíngicos e trevosos riffs de rajadas ciclónicas e lamentos dramáticos –
chamejados por uma distorção resinosa, corrosiva e rugosa – de onde esvoaçam melancólicos,
tortuosos, oleosos e fantasmagóricos solos, um baixo intimidante de reverberação
encorpada, sisuda e arrastada, uma bateria potente de batidas massivas, queimantes
e altivas, e uma vampírica voz de expressão pálida, gélida, límpida e ecoante
que ocasionalmente se enfurece e enrijece em rugidos ácidos e cavernosos. De
destacar ainda a bela e bizarra portada caprichosamente ilustrada pelo inconfundível
e renomado pintor polaco Zdzisław Beksiński onde o nosso
olhar naufraga durante todo este esotérico ritual liderado por Vast Pyre.
Este é um álbum verdadeiramente angustiante que nos cega, rouba o ar do peito e
mumifica. Um registo distópico, tétrico e obscuro, de paisagens aterradoras e desoladoras,
onde nos perdemos e descoloramos. Um inescapável pesadelo do qual não
acordamos.
Links:
➥ Facebook
➥ Instagram
➥ Bandcamp
➥ Argonauta Records

Sem comentários:
Enviar um comentário