sexta-feira, 29 de abril de 2022

Review: 🌲 Pershagen - 'Hilma' (2022) 🌲

★★★★

Depois de lançados os álbuns ‘Den Siste Av Mitt Namn’ (análise aqui) e ‘Tarfala’ (análise aqui), o fascinante quarteto sueco Pershagen descortina agora o seu terceiro álbum de estúdio, denominado ‘Hilma’ e exteriorizado hoje mesmo na íntegra sob a forma digital e vinil (este último bipartido em duas edições contrastadas, limitadas a 500 cópias cada) com o carimbo do selo discográfico local Lövely Records. Replicando os ingredientes que apaladaram os seus antecessores, ‘Hilma’ vem orvalhado por um melancólico, bucólico, sublime e cinematográfico Post-Rock, um arejado, reflexivo, lenitivo e ensolarado Psychedelic Rock de aura Western, e ainda discretos elementos de um poético, anestésico e outonal Folk de húmido clima nórdico. Conduzido a onírica placidez, ataráxica fluidez e ternurenta delicadeza, esta nova obra da formação sueca pincela no imaginário do ouvinte musgosas, montanhosas, verdejantes e idosas florestas que emergem na fantasmagórica e vaporosa intimidade da brumosa madrugada que se vai dissolvendo e rendendo à diluviana luz do dia. Todo um nirvânico voo – de olhar deslumbrado, espírito embevecido e sentidos emudecidos – sobre os místicos, fantasiosos e druídicos bosques escandinavos que se desdobram pela infinidade adentro. Inalem a reconfortante e revitalizante frescura de Pershagen à extasiante boleia de duas guitarras etéreas que se ensoberbecem em aquosos, comoventes e cheirosos acordes – sublinhados de perto pelos arrepiantes uivos de um desértico pedal steel que nos traz o cálido e afogueado crepúsculo do velho oeste – de onde serpenteiam bailantes, ecoantes e translúcidos solos, um baixo movediço de linhas vagueantes, encaracoladas, sombreadas e magnetizantes, e uma bateria jazzística superiormente tiquetaqueada a ofuscante resplandecência, fina argúcia e desarmante elegância. São 40 minutos oxigenados por um quimérico torpor que nos hasteia uma sensação libertadora, desenha o sorriso no rosto, massaja o cérebro e perpetua no olhar uma expressão sonhadora. Este é um disco tristemente belo. Um registo balsâmico – de atmosfera inebriante, apaixonante e desorientadora – que não deixará ninguém recostado à indiferença. Não vai ser fácil ascenderem à tona deste profundo sonho e quebrarem todo um febril estádio de transe espiritual. Embaciem-se e diluam-se nele.

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