terça-feira, 31 de dezembro de 2024

❄️ Joni Mitchell @ Fort Macleod, Canadá (1968/1969)

📸 Frank Prazak

🎬 Cinema & TV de Outubro, Novembro e Dezembro

The Art of Racing in the Rain (2019) de Simon Curtis   ★★★★☆
August: Osage County (2013) de John Wells   ★★★★☆
Minari (2020) de Lee Isaac Chung   ★★★★☆
Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969) de George Roy Hill   ★★★★☆
Sing Street (2016) de John Carney   ★★★★☆
Beetlejuice Beetlejuice (2024) de Tim Burton   ★★★☆☆
American Godfathers: The Five Families S01 (2024) de Michael Imperioli   ★★★★☆
12 Angry Men (1957) de Sidney Lumet   ★★★★★
Paths of Glory (1957) de Stanley Kubrick   ★★★★★
Manchester by the Sea (2016) de Kenneth Lonergan   ★★★
The Bridges of Madison County (1995) de Clint Eastwood   ★★★★☆
The Substance (2024) de Coralie Fargeat   ★★★★☆
Super Fly (1972) de Gordon Parks Jr.   ★★★☆☆
Ronin (1998) de John Frankenheimer   ★★★☆☆
Shōgun S01 (2024) de Rachel Kondo & Justin Marks   ★★★★★
From S01 (2022) de John Griffin   ★★★★☆
The Bear S03 (2024) de Christopher Storer   ★★★★★
From S02 (2023) de John Griffin   ★★★★☆
All of Us Strangers (2023) de Andrew Haigh   ★★★☆☆
Hitler and the Nazis: Evil on Trial S01 (2024) de Joe Berlinger   ★★★★☆
Cinema Paradiso (1988) de Giuseppe Tornatore   ★★★★★
The Devil’s Climb (2024) de Renan Ozturk & Drew Pulley   ★★★★☆
The Penguin S01 (2024) de Lauren LeFranc   ★★★★★
Endurance (2024) de Jimmy Chin, Natalie Hewit & Elizabeth Chai Vasarhelyi   ★★★★☆

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Review: 🔮 Magick Brother & Mystic Sister - 'TAROT part II' (2024) 🔮

★★★★

Depois de na passada Primavera nos termos sentado – de espírito receptivo e olhar intrometido – à mesa de Magick Brother & Mystic Sister para uma reveladora, imersiva e transformadora sessão de cartomancia (aqui descrita e admirada), regressamos agora à secreta tenda destes druidas catalães para uma conclusiva leitura do tarot. Esta segunda e derradeira parte deste esotérico ritual que entrega o destino da música de Magick Brother & Mystic Sister à camaleónica simbologia gravada no extenso baralho tarot passeia-se livre, airosa e graciosamente pelos arborizados, verdejantes e florescidos jardins de um colorido, lustroso, alucinógeno e sumptuoso Neo-Psychedelic Rock de caleidoscopia sessentista, um contemplativo, sedoso, aconchegante e odoroso Folk de enevoada ambiência pastoral e um enfeitiçante, intimista, fantasista e relaxante Progressive Rock com vista desabrigada para a noite cósmica. Este capítulo final do oráculo – editado pela grega Sound Effect Records nos formatos LP, CD e digital – conserva toda uma aura sonhadora, oxigenada a deslumbrante misticismo, que hipnotiza e eteriza o ouvinte do primeiro ao último minuto. Uma ataráxica, quimérica e sagrada peregrinação pelos misteriosos, brumosos e inexplorados desertos da alma, farolizada e imanada por uma sonoridade imensamente esfíngica, ascética e absorvente que nos extasia, inebria e transcende aos nirvânicos céus. Envolvam-se na sedutora, sublime e regeneradora profecia de Magick Brother & Mystic Sister soberbamente musicada por mágicos teclados de pirotecnia electrónica, uma enleante cítara de vistosa caligrafia árabe, uma hipnótica bateria de eloquente percussão tribalista, um meditativo baixo de linhas encaracoladas, uma guitarra inspiradora de acordes estéticos e solos elásticos, e uma voz cristalina, ecoante e angelical que lidera a nossa nau espiritual pelos eternos oceanos da vacuidade celestial. ‘TAROT part II’ é um registo mesmérico, hermético e medicinal – de afago mental e condimentada fragância oriental – que nos banha de luz e paz. Um álbum cerimonial, de natureza conceptual e detentor de uma pálida luzência lunar, que nos orvalha, deslumbra e cega de poeira estelar. Está, desta forma, encerrada a intrépida, mas gratificante, odisseia dos barceloneses Magick Brother & Mystic Sister pela alegórica escadaria do baralho tarot. Afortunem-se e desventurem-se nela.

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sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

🐝 DeWolff - 'Muscle Shoals' (2024, Mascot Records)

🪐 Blood Incantation - 'Absolute Elsewhere' (2024, Century Media)

Review: 🌬️ Holy Void - 'All Will Be Revealed In Time' (2024) 🌬️

★★★★

Proveniente da cidade canadense de Winnipeg (capital da província de Manitoba) chega-nos a odorosa, densa e esponjosa neblina do sexteto Holy Void com a promoção do seu segundo trabalho de longa duração, depois de cinco anos em produção, intitulado ‘All Will Be Revealed In Time’ e lançado sob os formatos LP e digital. Musicado por uma enfeitiçante simbiose que contempla um cativante, caramelizado e apaixonante Alternative Rock, um magnetizante, intoxicante e espacial Psychedelic Rock e um sonolento, melancólico e pachorrento Shoegaze, este segundo álbum de Holy Void estagna o ouvinte nos braços de uma entorpecedora nebulosidade mental de cega brancura que coloca a nu toda a sua permeabilidade emocional. A sua sonoridade hipnótica, misteriosa, anestésica e invernosa – de roupagem gótica – adensa-se nas asas de acinzentados, demorados e esbatidos temas que nos roubam o ar do peito, empalidecem a tez, comovem e embaciam a lucidez. Uma perpétua madrugada orvalhada – de tímida luzência e bruma cerrada – que nos humedece, enregela e esmorece. Um sempiterno crepúsculo mudo e nevado que nos anoitece o espírito e o tinge de açucarada nostalgia. ‘All Will Be Revealed In Time’ é um álbum tristemente belo que nos seduz, sensibiliza, alcooliza e conduz a um imperturbável estádio de pura letargia. Uma agradável caminhada pelo embrumado universo onírico, farolizados por duas bailantes guitarras – mergulhadas no fantasmagórico efeito Reverb – de riffs tocantes e solos uivantes, um murmurante baixo de linhas saltitantes, uma expressiva bateria de galope estimulante, um harmonioso violino de arrepiantes bailados, um murchoso violoncelo de ociosos mugidos e vocais leves, melodiosos e espectrais. Uma fúnebre e solitária digressão pela terra queimada que pavimenta o lado eclipsado do nosso Ser de olhos arremessados na longínqua direcção da resplandecente salvação. ‘All Will Be Revealed In Time’ orquestra a lenta progressão da desesperança ao alento, da nebulosidade à alvura, da obscuridade ao brilho, da prostração à emancipação. Um sublimado sonho musicado em slow-motion onde bocejamos, nos espreguiçamos demoradamente, perdemos e encontramos. Esta é uma obra verdadeiramente libertadora, milagrosa, regeneradora e transcendente. Neste espantoso registo reside um tema imensamente meigo, meloso e divinal que me sorve, derrete e comove sempre que o escuto (“In The End I Am Nothing Anyways”), e em mim ecoa a inabalável certeza de que é dele uma das mais desejadas posições na lista dos melhores álbuns florescidos em 2024. Banhem-se e curem-se na sagrada vacuidade deste venerável sexteto canadense.

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terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Thelonious Monk - 'It's Monk's Time' (1964)

💣 Lemmy Kilmister

Review: 🔥 Madera Raíz - 'Ceremonia' (2024) 🔥

★★★★

Três anos depois de lançado (e aqui imoderadamente elogiado) o seu ardente álbum de estreia denominado ‘No les queda tanto Tiempo’, o electrizante power-trio argentino Madera Raíz – residente na vibrante cidade-capital de Buenos Aires – apresenta-nos agora o seu inesperado e sensacional segundo trabalho apelidado ‘Ceremonia’ e editado através do exclusivo formato digital com carimbo autoral. Electrificado por um serpenteante, oleoso, libidinoso e provocante Heavy Blues de afrodisíaco balanço boogie, tonificado por um torneado, musculoso, viçoso e sombreado Hard Rock de titânico galope setentista, e colorido por um delirante, caleidoscópico, sónico e intoxicante Psychedelic Rock de efervescência sessentista, este entusiasmante álbum forjado no fogo pelo tridente argentino colhe inspiração nos clássicos Pappo’s Blues, AeroblusRory Gallagher’s Taste, Cactus, Jimi Hendrix e ZZ Top, assim como em referências da contemporaneidade como Radio Moscow, Ambassador, Joy, Amplified Heat, Prisma Circus e Cachemira. A sua sonoridade imensamente estimulante, fluída, apimentada e dançante obriga o ouvinte – numa explícita manifestação de puro e incontido prazer – a cravar os dentes nos lábios, revirar os olhos, baloiçar a cabeça num constante ricochete de ombro em ombro e ondular o corpo num compenetrado bailado. Foi um sério caso de amor à primeira audição. ‘Ceremonia’ é uma vulcânica combustão de endorfinas que nos contagia, impressiona e inebria sem qualquer comedimento. Um poderoso alucinógeno de imersivo psicadelismo e extravagante erotismo que nos embevece, endoidece e excita do primeiro ao último minuto. Escaldem-se nas multicoloridas lavaredas cuspidas por uma fantástica guitarra Hendrix’eana que se bamboleia em reptilianos, roliços, movediços e jupiterianos riffs abrasados a rugosa, arenosa e crocante distorção, e ziguezagueia em sinuosos, trepidantes, estonteantes e virtuosos solos de acidez psicotrópica, obscureçam-se na densa, tensa e palpável reverberação de um baixo fibroso carburado a magnetizantes, encaracoladas, carnudas e possantes linhas desenhadas a negrito, entrem em erupção à instigante emancipação de uma endiabrada bateria esporeada a acrobática leveza e exótica destreza, e percam-se no feitiço de uma liderante voz condimentada a uma aspereza felina que monta e agarra firmemente as rédeas deste endemoninhado rodeo sem nunca cair da sela. Este é indubitavelmente um dos meus álbuns favoritos do ano. Um registo irresistivelmente suculento e escandalosamente viciante que nos deixa de olhar incendiado e boca salivante. Uma impetuosa, ciclónica e vertiginosa montanha-russa de emoções à flor da pele que nos varre e centrifuga sem qualquer misericórdia. Bebam este urticante trago de Blues selvagem – irrepreensivelmente executado por Madera Raíz – e cambaleiem, felizes, temulentos e trôpegos, pelas misteriosas, sinuosas e escorregadias ruas de ‘Ceremonia’.

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quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Review: 🦉 Sublunar Express - 'Peeling the Horizon' (2024) 🦉

★★★★

Cinco anos após o lançamento do seu homónimo álbum de estreia (aqui trazido e examinado), o trio canadiano Sublunar Express – natural da cidade de Montreal (no Québec) – apresenta agora o tão aguardado sucessor intitulado ‘Peeling the Horizon’ e editado através dos formatos LP (disponível em ultra-limitadas edições matizadas a estonteante combustão de caleidoscópica coloração pela mão da californiana Wet Records), CD (numa apelativa edição autoral) e digital. Com a fornalha repleta de carvão incandescente, chaminé fumegada a intensa pretura e as janelas levemente embaciadas, este comboio locomovido a vapor continua a sua musicada jornada pelos confins da enigmática noite nevada que nunca se entrega à luz do dia. Numa admirável viagem explorativa pelos encantados universos de um fantástico, reflexivo, lenitivo e cinematográfico Post-Rock a fazer recordar os americanos Giant Squid, um intrigante, esponjoso, umbroso e arrogante Post-Punk que homenageia os seminais Joy Division, um musculado, reptiliano, ousado e provocante Proto-Punk na senda dos incendiários The Stooges, e ainda de um anestésico, melancólico, embrumado e onírico Shoegaze de húmidos ecos Slowdive’anos, este camaleónico, misterioso, inusitado e exótico ‘Peeling the Horizon’ desdobra no imaginário do ouvinte toda uma paisagem apocalíptica oxigenada a insanidade, luto, descrença e desumanidade. A sua esdrúxula, acinzentada, diferenciada e heterogénea sonoridade – magicada a experimentalismo, perfumada a misticismo e climatizada a sentimentalismo – tanto nos anoitece, amolece e adormece nas profundezas da soturnidade, como nos dilata as pupilas, empalidece o rosto e absorve numa espasmódica dança macabra, compenetrada e indiferente ao que nos rodeia. Musicada por uma intoxicante guitarra de imponentes, ardentes, absorventes e vistosos riffs e solos desenvencilhados, giratórios e embriagados, um baixo viscoso, pulsante, ondulante e polposo, uma expressiva, diligente e criativa bateria capaz de modelar e compassar todos estes contrastes climáticos, e uma profusão de vocais lúcidos, vampíricos, etéreos e espectrais (aos quais se juntam ainda as efémeras, mas enriquecedoras, colaborações de um saxofone de estética “noir” serpenteado a sopros gritados, um sibilino duduk que se adensa em mugidos aveludados e uma divina voz feminina de pele cristalina que sobrevoa a névoa da madrugada), esta memorável viagem neste expresso nocturno causa no íntimo do ouvinte um eclipse verdadeiramente transformador, miraculoso e emancipador. Sonhem de olhos bem arregalados à mesmérica influência de Sublunar Express sem a mais pequena vontade de dele despertar. De realçar ainda o imersivo artwork de natureza distópica, superiormente ilustrado pelo artista espanhol Joan Llopis Doménech (com o qual a banda reforça a sua confiança). Este é um álbum norteado a volatilidade, estranheza e imprevisibilidade que nos fascina e surpreende em cada esquina. Cabe tudo nos seus dilatantes 38 minutos de duração. Cabem todos nesta sui generis, bizarra e cabaresca expedição pelos sinuosos carris de ‘Peeling the Horizon’.

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🔥 High On Fire - 'Blessed Black Wings' (2005)

🌊 Ellis Munk Ensemble - 'San Diego Sessions' (2020)

🍃 Tom Penaguin - "Housefly Leg" (2024)

🌞 Siena Root - 'Different Realities' (2009)

🔊 Keith Richards // The Rolling Stones (1971)

📸 Alec Byrne

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

🖤 Billy F. Gibbons // ZZ Top

Apoteosi - Prima Realta' & Frammentaria Rivolta (1975)

Review: 👻 Vast Pyre - 'Vast Pyre' (2024) 👻

★★★★

De Eisenach – cidade localizada no centro da Alemanha – chegam-nos as encorpadas, vampíricas, tirânicas e malfadadas ressonâncias do tempestuoso tridente Vast Pyre com a sísmica detonação do seu homónimo álbum de estreia, editado pela italiana Argonauta Records nos formatos CD e digital. Prostrados, embriagados, de pálpebras tombadas e espírito enlutado sopitamos à exposição da nefasta radiação expelida pelas fumarentas narinas de um monolítico, pantanoso, resinoso e esfíngico Stoner Doom de forte fragância psicotrópica e sónica propulsão cósmica. Com inspiração colhida nos universos esotéricos de Electric Wizard, Sleep, MonolordUfomammut e Spelljammer, a massiva, altiva, abrasiva e sinistra sonoridade de ‘Vast Pyre’ agiganta-se numa predatória, mastodôntica e intimidante avalanche que nos persegue, atropela e sepulta nas abissais profundezas de uma herética negrura que circunda e sufoca todas as chamas da nossa religiosidade. Uma mesmérica, transformadora e profética hipnose que nos mumifica, cega, aterroriza e carrega por paisagens demoníacas, derrotadas, amaldiçoadas e distópicas, esvaziadas de vida e esperança, onde a diáfana luz jamais ousa tocar e a fantasmagórica bruma vagueia sem nunca dispersar. São 50 minutos de uma chamejante, viscosa e impactante pretura que nos enlameia e incendeia sem misericórdia. Sombreiem-se numa guitarra arrogante que se avulta em rastejantes, hipnóticos, despóticos e intrigantes riffs – escaldados a queimante, cáustica e urticante distorção – de onde são chorados uivantes, ácidos, pálidos e penetrantes solos, estremeçam à intensa boleia de uma sísmica bateria explodida a uma ritmicidade agressiva, empolada, musculada e altiva, e vagueiem de olhos vendados, passos hesitantes e respiração travada pelas arrasadas planícies de ‘Vast Pyre’ farolizados pelos liderantes vocais – ora límpidos, azedos e destemperados (disseminados por um eco espectral), ora escarpados, sujos e gritados (de temperatura infernal). Este é um álbum situado entre a açucarada melancolia e a entorpecida euforia. Um trabalho hermético, sisudo, soturno e dramático – pesada e vagarosamente locomovido – que nos agarra, sacode e implode. A imponente obra visual que dá rosto a este registo verdadeiramente avassalador dos germânicos aponta os seus créditos autorais ao inconfundível e renomado pintor polaco Zdzisław Beksiński que a criara em 1972. Desventurem-se pelas tumbas cósmicas de Vast Pyre e encarvoem-se na sua asfixiante, claustrofóbica e atemorizante obscuridade.

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sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

💋 DeWolff - "Natural Woman" (2024)

🥁 Tony Williams

🌹 Paz Lenchantin

©️ Nathan Whittaker

Review: 👁️ Sacred Buzz - 'Radio Radiation' EP (2024) 👁️

★★★★

Da cidade-capital de Berlim chega-nos o perfumado, ritmado e atraente EP de estreia do jovem quarteto Sacred Buzz, intitulado ‘Radio Radiation’ e editado pela companhia discográfica irlandesa Fuzzed Up & Astromoon Records nos formatos cassete (disponível em duas edições coloridas e limitadas à produção de 70 unidades), vinil de 7" (ultra-limitado à prensagem de apenas 50 cópias entretanto já esgotadas em apenas 35 minutos) e digital. Musicado por um multicolorido sortido de onde facilmente sentimos o condimentado paladar de um agitado, dançante e transpirado Garage Rock locomovido a intensa rotação, um caleidoscópico, apimentado e exótico Psychedelic Rock de inspiração colhida nos delirantes 60’s, um hipnotizante, esponjoso e enfeitiçante Krautrock de ritmicidade tiquetaqueada a alta precisão, e um escaldante, enérgico e provocante Proto-Punk que nos inebria de nebulosa alucinação, ‘Radio Radiation’ atira o ouvinte para o meio de uma vibrante pista de dança iluminada por uma viva profusão de coloração pulsante, lotada de brilhantes corpos banhados em suor e movidos em slow-motion a compenetrados serpenteios. Compartimentado em seis faixas de curta duração, mas atestadas de imensa emoção, e de uma longíssima faixa bónus climatizada por um arejado e relaxado experimentalismo ambiental a rivalizar com toda a vertigem que o antecede, este espirituoso EP traz-nos a consumível, irresistível e euforizante irreverência de bandas como Dead Moon, King Gizzard & The Lizard Wizard, The Murlocs, ORB, The Socks, Sunder, Fuzz, Magic Machine, The Gorlons, Wine Lips, The Heavy Minds e Travo. Uma açucarada, cativante e excitada efervescência de inflamado, desnorteado e extravagante psicadelismo, surfada por uma guitarra devaneante de queimante distorção, um teclado intrigante de mugidos empolados, uma bateria estimulante de incansável galope, um baixo magnetizante de reverberação ondeante, e uma voz diabrina de tez avinagrada. Libertem-se de toda a timidez e bamboleiem à lasciva boleia de Sacred Buzz numa diluviana erupção de incontida satisfação. ‘Radio Radiation’ é uma psicotrópica radiação à qual nos sintonizamos – de ouvidos salivantes, pupilas dilatadas e com inquebrável fascinação – do primeiro ao derradeiro minuto. Uma extasiante comoção que nos electrifica sem moderação. Ziguezagueiem-se nele.

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segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

🛕 Sweet Smoke - "Baby Night" (1970)

🌅 Eloy - "Between the Times" (1976)

Review: ⚜ Jupiter Fungus - 'Garden Electric' (2024) ⚜

★★★★

Está desvendado o segredo mais bem guardado do Prog Rock grego. ‘Garden Electric’ é o fabuloso álbum de estreia de Jupiter Fungus: um projecto sediado na cidade costeira de Piraeus, editado pela companhia discográfica Sound Effect Records nos formatos LP, CD e digital, liderado por duas cabeças pensantes e musicado por cinco prendados executantes. Numa cativante, inspirada, requintada e gratificante homenagem à dourada década de 1970, esta banda helénica aventura-se nos infindáveis territórios do pomposo, sublime, magnânimo e glorioso Progressive Rock, percorrendo os verdejantes, deslumbrantes e arborizados trilhos desbastados por clássicas referências do género tais como Eloy, Jethro Tull, Pink Floyd, Genesis, Camel, King Crimson, YES, Styx, Van Der Graaf Generator, Gentle Giant, Renaissance, Nektar e Gryphon. Esculpido, polido e envernizado por uma sonoridade elegante, lunar, fabular e apaixonante – repleto de fragâncias sedutoras e atmosferas sonhadoras – que nos remete para soterrados tempos medievais, este epopeico ‘Garden Electric’ embruma o ouvinte num edénico misticismo que o eteriza do primeiro ao derradeiro tema. À boleia de arranjos odorosos, principescos, romanescos e misteriosos que nos fazem sonhar acordados, embarcamos, vigilantes e curiosos, numa adorável, introspectiva e inolvidável caminhada pelos virginais bosques – de moldura mediévica e formosura nocturna – à pálida luzência da Lua. Jupiter Fungus descortina todo um fascinante universo onírico brilhantemente orquestrado por uma poética flauta de refrescantes, sedosos e enleantes serpenteios, uma estética guitarra de açucarados, refinados e provocantes riffs de onde são escoados vistosos, tocantes e copiosos solos, um compenetrado baixo de meneios dançantes, magnéticos e pulsantes, enfeitiçantes teclados de bailados rodopiantes, aparatosos e delirantes, uma primorosa bateria de toque cintilante, acrobático, enfático e flamejante, e uma aristocrática (e ocasionalmente robótica) voz de pele límpida (embora episodicamente turva), emotiva e educada. Dedico ainda elogiosas considerações ao sensacional artwork – superiormente desenhado pelo flautista da banda Fotis Xenikoudakis – onde os nossos olhos mergulham e naufragam nas suas incessantes marés de labiríntico, vistoso e primoroso detalhe. ‘Garden Electric’ é um álbum lindíssimo, oxigenado a imaculada sensibilidade, iluminado por uma aura fabular e instrumentalizado a fina virtuosidade. Um registo de admirável maturidade que se vai agigantando em nós com o acumular de renovadas audições. Percam-se e encontrem-se nos meandros desta caprichada obra capaz de agradar tanto a gregos como a troianos.

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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

🎩 Frank Zappa, 1971

🌪 Chelsea Wolfe // Amplifest

Review: 👌 WIZRD - 'Elements' (2024) 👌

★★★★

Conheci o quarteto norueguês WIZRD em 2022 – aquando do lançamento do seu belo álbum de estreia ‘Seasons’ (aqui analisado) – e a atracção sentida não só foi cega como imediata. Foi, portanto, com imoderado entusiasmo que muito recentemente recebi as notícias da chegada do seu novo é segundo álbum intitulado ‘Elements’ e editado pela mão da insuspeita companhia discográfica norueguesa Karisma Records nos formatos LP, CD e digital. Formada no conservatório de Jazz da cidade de Trondheim, esta banda natural da capital Oslo faz da fusão entre a boa disposição do Indie Rock, os serpenteios enleantes do Prog Rock e a estonteante desarrumação do Jazz-Rock a sua estrela polar. Dotado de composições refrescantes, cerebrais e apaixonantes, este sublime ‘Elements’ é um álbum de essência exótica e tez camaleónica, em constante mutação, que nos mantém de fascinação incansavelmente estimulada do primeiro ao derradeiro minuto. Norteado por uma sonoridade inventiva, eclética, estética, melódica e expressiva, este registo de WIZRD saltita entre furiosas, ciclónicas e buliçosas danças instrumentais que nos amotinam num euforizante bacanal e relaxantes, esponjosas e enfeitiçantes passagens pastorais que colocam a nu toda a nossa permeabilidade emocional. A fogosa aspereza e a invernosa delicadeza de mãos dadas numa montanha-russa. Equilibrem-se acima do piso escorregadio de ‘Elements’ e dancem ao estimulante som de uma guitarra erudita que se manifesta em formosos, detalhados e angulosos acordes de onde se desatam apressados, trepidantes e espevitados solos velozmente percorridos em espiral, um baixo sombreado de bafo denso, tenso e ardente, uma bateria malabarista de acrobacias verdadeiramente alucinantes, imaginativas e mirabolantes, teclados exuberantes de mugidos cósmicos, bailados hipnóticos e sirenes alienígenas, e vocais joviais, viçosos e espectrais cantarolados em inglês e norueguês. Este é um álbum colorido, divertido, diversificado e imprevisível que nos surpreende a cada esquina das suas intrincadas composições. Um registo detentor de uma destemida criatividade capaz de saciar o desejo de requinte dos ouvintes mais exigentes. Uma suculenta iguaria gourmet que nos faz salivar, sorrir, lacrimejar e abrilhanta o olhar. Neste irrepreensível ‘Elements’ encontrei e namorei uma das mais belas e reconfortantes canções que ouvira em toda a minha vida: a comovente, sonhadora, inspiradora e absorvente “Fire & Flames” que me enternecera, embevecera e libertara num chorado grito de completa expurgação. Embarquem no rodopiante caudal de WIZRD e vivenciem todo o seu aparatoso carnaval sonoro superiormente dirigido a ferocidade, virtuosismo, dinamismo e sensibilidade. Um dos meus álbuns favoritos do ano está aqui, na inspirada magia musicada destes talentosos músicos nórdicos. Deslumbrem-se nele.

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terça-feira, 3 de dezembro de 2024

† Ozzy Osbourne // Black Sabbath (1971)

📸 Lee Marshall // Circus magazine

🏄‍♀️ SonicBlast 2025

Review: 🐙 Heavy Trip - 'Liquid Planet' (2024) 🐙

★★★★

Em 2020 sofria um impiedoso knockout disferido pelo vibrante power-trio canadiano Heavy Trip – que surpreendia o meu mundo com o lançamento do seu impactante álbum de estreia (review aqui) – e agora esta enérgica formação com residência na cidade de Vancouver está de regresso com uma imponente tempestade cósmica que destrona o seu antecessor, denominada ‘Liquid Planet’ e que poderá ser testemunhada através dos formatos LP e digital. Electrificada por um enfeitiçante, frenético, sónico e alucinante Heavy Psych capaz de nos desaparafusar a cabeça do tronco, que se robustece num musculoso, fogoso, impressionante e poderoso Heavy Rock de pesadas ressonâncias setentistas, e obscurece num rugoso, implacável, dominante e montanhoso Proto-Doom de narinas fumegantes, a euforizante, convulsiva, altiva e intoxicante sonoridade deste segundo álbum de Heavy Trip colhe influências de bandas como Sleep, Earthless, Acid King, Blown Out, RYTE, Domadora, Mammatus, Petyr e Tia Carrera. Uma buliçosa efervescência de flamejante adrenalina que nos escalda, endoidece e dispara na estonteante vertigem astral. São 40 minutos de um saturado delírio que nos rasga as vestes da lucidez e contagia de extasiante embriaguez. Um descontrolado cometa em chamas que percorre as veias da nossa espiritualidade e em nós provoca um intenso sismo emocional. Recostem-se confortavelmente, respirem fundo, fechem os olhos e sintam-se eclodir a toda a velocidade pelos inexplorados territórios alienígenas à irresistível boleia de uma guitarra escandalosamente assombrosa – condimentada por uma distorção abrasiva e exorcizada a um diabólico e desarmante virtuosismo que faria o próprio Jimi Hendrix salivar – que hasteia mastodônticos, caravânicos, ciclónicos e resinosos riffs de calor vulcânico e forte odor canábico, e desprende todo um psicotrópico e caleidoscópico vendaval de ácidos, venenosos, vertiginosos e orgásmicos solos capazes de nos causar um relampejante curto-circuito cerebral, de um baixo motorizado que se contorce e distende em linhas bailantes, elásticas, hipnóticas e possantes, e de uma bombástica bateria metralhada a ritmos propulsivos, eruptivos, incisivos e retumbantes. O fantástico artwork – que confere rosto a esta violenta turbulência psicotrópica – aponta os seus créditos de autor ao inconfundível e mítico ilustrador Arik Roper. Deixem-se esporear, sacudir, afoguear e desvairar ao provocante, frenético, afrodisíaco e viciante som de Heavy Trip, e alcancem o seu final com as mãos apoiadas nos joelhos, extenuados, ofegantes, de cabeças rodopiantes e corpos manchados de fuligem celestial. ‘Liquid Planet’ é um portentoso álbum de contornos épicos capaz de acordar vulcões, erguer tsunamis, soltar avalanches e centrifugar furacões. Um registo titânico – de instrumentos em alucinada e desenfreada debandada – que nos atropela e excita sem qualquer moderação. Na brumosa ressaca desta experiência sobre-humana perscruto uma longínqua voz interior que me diz tratar-se mesmo do melhor álbum ano, e, muito dificilmente, não o será.

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