terça-feira, 31 de maio de 2022
segunda-feira, 30 de maio de 2022
Review: 🦄 Soft Ffog - 'Soft Ffog' (2022) 🦄
É proveniente
da Noruega que acaba de dar à costa aquele que é – até à presente data – o meu
álbum favorito de 2022. De denominação homónima e oficialmente lançado pela
recém-formada companhia discográfica norueguesa Is It Jazz? Records (este
é, de resto, o primeiríssimo registo editado pelo jovem selo) através dos
formatos LP, CD e digital, este fabuloso álbum de estreia do virtuoso quarteto
escandinavo Soft Ffog tricota um celestial, matemático, entusiástico e
piramidal Jazz Fusion (ornamentado com vistosos adereços Avant-garde)
de mãos dadas a um nevrálgico, nervudo, sisudo e apoteótico Prog Rock de imperiosos empolamentos.
Deslindada de um labiríntico novelo onde se enfileiram desafiantes, impressionantes
e audaciosas composições, a inventiva, extravagante, opulenta e expansiva sonoridade
de ‘Soft Ffog’ pendula entre nirvânicas paisagens de arejada, miraculosa
e orvalhada acalmia (ensolaradas a um brilho diamantino e condimentadas com cheirosas especiarias Canterbury’escas)
e turbulentos sismos de grande magnitude que acordam e agigantam monstruosos,
fibrosos e demolidores tsunamis de endorfinas. Munidos de um vastíssimo
leque de influências – como por exemplo King Crimson, Soft Machine,
Deep Purple, Nucleus, Pat Metheny, Terje Rypdal e Return
to Forever – estes quatro discípulos do Jazz brindam o ouvinte com
uma sumptuosa, esdrúxula e aparatosa sinergia que o manterá firmemente atrelado a esta consumada obra-prima
do primeiro ao derradeiro tema. Surfado por uma sofisticada guitarra que se enrijece,
dilata e enegrece em Riffs excepcionais, enfeitiçantes, galvanizantes e esculturais,
e se endoidece nos alucinantes rabiscos de solos ziguezagueantes, trepidantes,
abstractos e cerebrais, sombreado por um baixo retorcido de linhas elásticas, pululantes,
trovejantes e magnéticas, açoitado por uma bateria verdadeiramente sensacional
de chamejantes baquetas a domesticar todo um fervoroso, selvático, ciclónico e
vertiginoso bacanal, e sublimado por um mágico sintetizador de serpenteios enleantes e melodias refrescantes,
etéreas, fabulares e embriagantes, ‘Soft Ffog’ é um álbum autenticamente
fenomenal que tanto me faz desmaiar prazerosamente numa onírica e enleante letargia,
como sobreaquecer e implodir numa espasmódica e eruptiva euforia. Petrificados e embalados
numa perpétua escadaria percorrida em espiral, que nos conduz vertiginosamente
pelos artifícios de uma atordoante montanha-russa, somos resvalados pelas
costuras fronteiriças da insanidade. Este é um álbum seráfico e titânico, onde um
violento caos superiormente domado coabita com uma gentil finura acolchoada a quimérica
ternura. Alcanço o final deste imaculado registo completamente esgotado e derrotado
pela sua mastodôntica altivez. Percam-se e encontrem-se nele.
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➥ Is It Jazz? Records
domingo, 29 de maio de 2022
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Review: ☥ Peth - 'Merchant of Death' (2022) ☥
Com o
epicentro localizado na cidade de Jonestown (Texas, EUA), chegam-nos
as densas, tensas e trevosas ressonâncias detonadas pela impiedosa estreia da
recém-formada banda Peth. Designado ‘Merchant Of Death’ e
lançado hoje mesmo através da companhia discográfica italiana Electric Valley
Records nos formatos LP e digital, este primeiro álbum do jovem quarteto
texano vem encarvoado, consumido e demonizado por um montanhoso, ocultista,
ritualista e fogoso Proto-Doom de arrepiantes ecos Black Sabbath’icos,
Pentagram’icos e Wicked Lady’eanos, um excitante,
venenoso, furioso e atordoante Heavy Psych locomovido e efervescido à boa
moda de Sweat Lodge, Petyr e Ball, e ainda um elaborado, arenoso,
lustroso e oleado Hard Rock de indiscreta evocação setentista que
aponta influências a Wishbone Ash, ZZ Top e White Dog. A
sua sonoridade electrizante, enfeitiçante, perversa e intoxicante – distorcida a
um crepitante, vulcânico e faiscante Fuzz – sobrevoa, num bater
de asa buliçoso e com olhar inquisidor, os oito temas que compõem o disco. São
40 minutos motorizados por um intenso e vibrante deslumbramento luciférico que
prontamente nos converte em seus devotos discípulos. Mumificados e aprisionados
num sarcófago, somos arremessados para o abismo do lado eclipsado da religiosidade
e ceifados pelas fantasmagóricas diabruras de duas guitarras Iommi’escas
e siamesas que se agigantam em rochosos, mastodônticos, espadaúdos e umbrosos Riffs
de onde são desaguados e centrifugados solos ácidos, ziguezagueantes,
trepidantes e alucinados, pelo ardente e palpável bafo de um fibroso baixo bombeado
a linhas pujantes, coesas, magnéticas e serpenteantes, pelo incansável galope
de uma fogosa bateria açoitada a um ritmo incessante, desembaraçado, desenfreado e empolgante,
e ainda pelos intrigantes vocais Ozzy’escos que se
bifurcam em tonalidades azedas, vampíricas e esbranquiçadas e outras bolorentas,
cadavéricas e urticantes. De destacar ainda a inesperada presença de uma versão
cover da inquietante “Run the Night” (originária dos clássicos
britânicos Wicked Lady) superiormente interpretada pela turma texana. É
à sombra do hieróglifo egípcio Ankh que estes mercantilistas da morte
hasteiam toda uma sísmica, selvática e litúrgica magia negra de preces encaminhadas
para as divindades pagãs. De empoeiradas texanas calçadas, chapéus de aba larga poisados nas cabeças baloiçantes
e cervejas Lone Star ao alto, juntem-se ao exorcizante ritual de Peth.
Um dos meus álbuns favoritos do ano está aqui, na fervilhante, virulenta e provocante
fuligem de ‘Merchant of Death’. Revolvam-se e profanem-se nele.
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➥ Electric Valley Records
quinta-feira, 26 de maio de 2022
Review: ⛧ Moura - 'Axexan, espreitan' (2022) ⛧
Depois do insanável
impacto que o homónimo álbum de estreia tivera em mim (descrição do evento aqui),
devo admitir que fora com transbordante entusiamo que recebera em mãos o
novíssimo álbum do sexteto espanhol Moura, batizado de ‘Axexan, espreitan’,
e que tem o seu lançamento oficial calendarizado para o dia de amanhã através
dos formatos LP, CD, cassete e digital com o insuspeito carimbo editorial da Spinda
Records. Reavivando crenças, costumes e ritos ancestrais da velha Galícia,
este segundo álbum do criativo e maturado colectivo localizado no extremo norte de Espanha
vem orvalhado e embruxado por um rico sortido sonoro de onde facilmente se apalada
um sonhador, novelesco e trovador Folk de raiz tradicional, um bailante,
quimérico e deslumbrante Progressive Rock de traje medieval, um druídico,
colorido e caleidoscópico Psychedelic Rock de clima estival e ainda um anestésico,
absorvente e sidérico Krautrock de afago sensorial. Conduzidos, incensados
e seduzidos pelas envolventes narrativas que habitam os oito temas do disco, somos
submersos no borbulhante caldeirão de Moura onde ferve todo um
revivalista Folclore trazido de tempos imemoriais, caídos há muito em
desuso. Com vista a revitalizar a preciosa herança popular da Galícia anciã,
Moura desenterra e principia toda uma transformadora, intrigante e embriagante
profusão de mágicos rituais Wicca que nos aprisionam num hipnotismo
mesmérico de espectral docilidade e fantasmagoria bruxuleante. Na erudita
caligrafia musical de ‘Axexan, espreitan’ vive uma purificante, minuciosa
e cativante diversidade instrumental de onde sobressaem os cerimoniais, populosos
e lustrosos coros vocais – entoados na sua língua nativa – de tonalidades desiguais,
os ousados bailados das guitarras pagãs que se embandeiram em majestosos Riffs
e efervescem em ácidos solos de tintura psicadélica, os esvoaçantes mugidos
nasalados pelos virtuosos teclados, os uivos ziguezagueantes de um principesco violino,
as quentes reverberações de um baixo protuberante e as jazzísticas
incursões de uma bateria habilidosa aliada a uma percussão tribalista. São 41 minutos orlados por uma deífica
luzência rolhada que nos desconexa da realidade e dissolve numa devota
cerimónia ocultista. Uma fumarenta liturgia xamânica lavrada a espirituosas composições
de beleza fabular que farão salivar o mais exigente dos ouvintes. Um feliz
matrimónio entre a heterogeneidade dos temas e a ofuscante qualidade que lhes é
transversal. Depois de comungados e imoderadamente reverenciados estes dois maravilhosos
álbuns de Moura, estou já de olhos postos na sua tão ansiada estreia ao
vivo em território português, que terá lugar no emblemático festival SonicBlast.
Até lá, repetidas romarias ao sagrado altar de Axexan, espreitan’
serão cumpridas.
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➥ Spinda Records
terça-feira, 24 de maio de 2022
Review: 🎪 G.O.L.E.M. - 'Gravitational Objects of Light, Energy and Mysticism' (2022) 🎪
Da bela Itália
– Shangri-La, aos meus ouvidos, do mais refinado Progressive Rock
florescido no frondoso jardim setentista – chega-nos a sumptuosa e auspiciosa estreia
do quinteto G.O.L.E.M. (acrónimo de Gravitational Objects of Light,
Energy and Mysticism), através dos formatos LP, CD e digital pela mão do
selo independente local Black Widow Records. De olhos postos em emblemáticas
influências autóctones – como Premiata Forneria Marconi, Banco del
Mutuo Soccorso, Le Orme e Museo Rosenbach – e içados na longínqua
direcção de incontornáveis referências britânicas do género – como Deep
Purple, King Crimson, Genesis e Gentle Giant –, esta promissora
banda sediada no norte de Itália descortina um exuberante, pomposo, glorioso
e intrigante Prog Rock de essência clássica em simbiótica consonância
com um musculoso, lubrificado, adornado e charmoso Hard Rock de brilho vintage.
A sua sonoridade teatral, dourada, empolada e tradicional – de desafiante composição
orquestral – hasteia-se e galanteia-se com ostentosa candura e cheirosa
frescura, deixando o ouvinte embalsamado num inquebrável estádio de intensa
fascinação. São 44 minutos aureolados por um melódico, deslumbrante,
inquietante e quimérico requinte raiado por toda uma mágica profusão de dramáticos,
poéticos, enfáticos e opulentos teclados rodopiados em esvoaçantes bailados e
embrumados pela fantasmagoria electrónica, uma voz caramelizada, gentil e
acetinada – de tonalidade melódica e entoação aristocrática – que se pavoneia
com irresistível distinção, um baixo baloiçante de linhas fibrosas, majestosas e
pulsantes, e uma bateria jazzística embalada a altiva destreza e inventiva
subtileza. Este é um álbum verdadeiramente preclaro, sublime e comovente – de natureza
mística e fabular – que me envolvera, revolvera e conquistara de forma pronta e
inclemente. Um aventuroso e aliciante romance – caprichosamente sonhado e superiormente
musicado – que aprisiona o ouvinte nos seus meandros. Deixem-se ofuscar pelo diluviano
brilhantismo de G.O.L.E.M. e testemunhem toda a honra e toda a glória de
um álbum que muito dificilmente não estará perfilado por entre os mais medalhados
do ano.
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➥ Black Widow Records
segunda-feira, 23 de maio de 2022
sábado, 21 de maio de 2022
sexta-feira, 20 de maio de 2022
quinta-feira, 19 de maio de 2022
Review: 🛸 Sageness - 'Tr3s' (2022) 🛸
Depois de lançados
o homónimo (review aqui) e o seu sucessor ‘Akmé’ (review
aqui), o psicotrópico power-trio espanhol Sageness –
natural da cidade nortenha de León – está de regresso com o terceiro
capítulo da sua odisseia interplanetária, intitulado de ‘Tr3s’,
gravado ao vivo, misturado e masterizado no estúdio português Hertzcontrol
Studio, e que poderá ser inalado através dos formatos LP, CD e digital sob
a alçada editorial da australiana Psychedelic Salad Records e da polaca Interstellar
Smoke Records. Incensado e capitaneado por um embriagado, intoxicante,
fumegante e embrumado Heavy Psych – desdobrado em formato de envolvente Jam
instrumental e com vista panorâmica para as chamejantes fornalhas estelares que
cintilam na noite astral – este fantástico, alucinógeno e cinematográfico ‘Tr3s’
tem o dom de nos desancorar da gravidade terrestre, amplificar a consciência e viajar
pelas rodovias cósmicas, empoeirando a alma nas vistosas, coloridas e
fantasmagóricas nebulosas que deambulam livremente pela infinita tela negra,
driblando populosas cinturas de rochosos asteroides, escorregando pelos anéis
de Saturno e caindo dentro da profunda garganta de centrifugantes buracos
negros que enlouquecem as coordenadas do espaço-tempo. A sua sonoridade colorida,
sinestésica, mântrica e delirada – que partilha o ADN com outras bandas
como Colour Haze, Rotor, Sungrazer, The Machine, My
Sleeping Karma e Mother Engine – tanto nos afaga e refresca com suavizantes,
anestésicas e atordoantes brisas suspiradas pelos astros, como nos euforiza,
eteriza e escalda num banho de imersão em incandescente magma de um gorgolejante
vulcão em inesgotável erupção. Na sagrada composição deste LSD sonoro dialogam
entre si uma guitarra mística de tapeçaria persa que floresce cheirosos, irresistíveis
e oleosos Riffs de onde esvoaçam ácidos, ziguezagueantes e delirados solos
rubricados a consumada beleza, um bafejante baixo baloiçado a magnetizantes, fluídas
e ondulantes linhas desenhadas e engrossadas a negrito, uma bateria estimulante
pregueada a uma batida criativa, imersiva e enleante, e ainda quiméricos sintetizadores
que sulfatam toda a fantasista atmosfera do álbum com vapores celestiais. São
37 minutos de transformadora, emancipadora e constante levitação pelos maravilhosos
firmamentos siderais que se desdobram pela infinidade fora. Uma aturdida
hipnose que nos subtrai a lucidez sensorial e naufraga nos intermináveis
oceanos do nosso Cosmos interior. Não vai ser nada fácil despertar disto.
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➥ Psychedelic Salad Records
➥ Interstellar Smoke Records
quarta-feira, 18 de maio de 2022
terça-feira, 17 de maio de 2022
Review: 🪐 Earthless + MaidaVale + The Black Wizards 🪐
Deixando as
preocupações pandémicas – bem como os guarda-chuvas molhados – às portas do Hard
Club, o público compareceu no passado domingo em grande número para lotar a
sala e experienciar ao vivo os nossos The Black Wizards, as suecas MaidaVale,
e uma das bandas mais excitantes das duas últimas décadas, aqui em estreia no interior de uma sala portuguesa, os californianos Earthless num evento promovido pela Garboyl Lives.
Regressados de
uma pequena tour com ponto de paragem em seis países europeus, os já
carismáticos The Black Wizards subiam a palco – numa remodelação estrutural
que os reduzira de quarteto a tridente – para principiar uma noite que viria a
tornar-se inolvidável. De copos de cerveja transbordante, olhar cintilante e um
genuíno sorriso estampado no rosto, pairava na atmosfera uma generalizada, palpável
e incontrolável satisfação de regressar à catarse que é vivenciar música ao
vivo e, que durante tanto tempo, disso estivemos privados. Foi já com uma sala
bastante populosa que o agora power-trio português – numa forma
invejável, devo antecipar – dava início à sua feitiçaria de essência afrodisíaca.
De bússolas apontadas a um empolgante, vulcânico, ritualístico e embriagante Heavy
Psych que se aventura e desventura pelas idosas, sinuosos e poeirentas estradas
de um serpenteante, libidinoso, lustroso e contagiante Heavy Blues, a
sonoridade – trajada a vistoso revivalismo e fervilhada em efeito Fuzz –
destes três feiticeiros de instrumentos submersos num caldeirão em chamejante
ebulição provocaram em todos nós todo um extasiante deslumbramento impossível de
quebrar. Nas asas de uma guitarra tóxica que se balanceia e formoseia em estonteantes
Riffs de onde são vertidos alucinógenos solos, um imponente baixo Rickenbacker
reverberado a linhas fibrosas, uma bateria aparatosa de baquetas em polvorosa,
e melodiosos vocais que sobrevoam o restante instrumental, viveu-se uma perfeita
e absorvente comunhão com esta talentosa banda que decidira – e bem! – coroar a
recta final da sua gloriosa performance com uma surpreendente versão cover
da ilustre e majestosa “21st Century Schizoid Man” originária dos
titânicos britânicos King Crimson, que não deixara ninguém indiferente.
Antes de virar as costas ao Hard Club, foi igualmente gratificante “tertuliar” com as diversas
caras amistosas que fui encontrando e reencontrando por ali. Mais uns brindes
de cerveja entre amigos, um olhar planador pela mesa do merch, e uns derradeiros
abraços com a garantia deixada de um “até já”. Porque afinal de contas, falamos
todos a mesma língua.
segunda-feira, 16 de maio de 2022
domingo, 15 de maio de 2022
sábado, 14 de maio de 2022
sexta-feira, 13 de maio de 2022
quinta-feira, 12 de maio de 2022
Review: ⚜️ The Bateleurs - 'The Sun In The Tenth House' (2022) ⚜️
Da
cidade-capital portuguesa de Lisboa chega-nos a odorosa, vibrante e
esplendorosa elegância desabrochada pelo muito aguardado álbum de estreia do
quarteto The Bateleurs. Intitulado ‘The Sun In The Tenth House’
e lançado hoje mesmo através do selo discográfico espanhol Milanamúsica
Records nos formatos digital e CD, este primeiro trabalho de longa duração
da banda lisboeta desprende um melódico, enérgico, fascinante e afrodisíaco Blues
Rock de mãos dadas a um chamejante, fibroso, ostentoso e empolgante Classic
Rock banhado a ouro setentista. Contando ainda com coloridos laivos de
um serpenteante, estruturado, aprumado e provocante Progressive Rock de doce perfume revivalista – aliado a um enleante, festivo, emotivo e contagiante Soul
– a texturizada, charmosa e apimentada sonoridade de The Bateleurs
aponta a mira a clássicas referências como Led Zeppelin, Deep Purple,
Janis Joplin e Ike & Tina Turner, bem como desfila lado a lado
com outras da contemporaneidade como Rival Sons, Blues Pills, Siena
Root, Heavy Feather e The Mothercrow. Um fluído pêndulo que ricocheteia
entre fogosas cavalgadas desbravadas à rédea solta e harmoniosas baladas polvilhadas
a mélica e açucarada ternura. Na lista de ingredientes que compõem este
irresistível glamour de moldura citadina e brilho cabaresco, perfilam-se
uma formosa guitarra de sotaque Jimmy Page’esco que se
envaidece na hábil condução de voluptuosos, oleosos, carismáticos e majestosos Riffs,
e enlouquece na libertação de extravagantes, orgiásticos, bombásticos e rodopiantes
solos, um baixo groovy reverberado a linhas elásticas, ondulantes,
palpitantes e hipnóticas, um maravilhoso teclado Jon Lord’esco
de pomposos, frescos, principescos e aquosos bailados, uma circense bateria de
vistosas acrobacias, executadas a inventiva, excitante e expressiva maestria, e
uma voz impactante, encorpada e liderante – de pele hidratada, radiosa, felina
e aveludada, e um longo alcance megafónico – que capitaneia com emocionante destreza
e triunfante beleza toda esta caprichada obra. De estender ainda elogiosas
palavras pelo místico artwork, que aponta os
seus créditos autorais aos ilustradores russos Rotten Fantom. Este é um
álbum recheado de um libidinoso requinte que nos faz cair na sua tentação. Um
registo luxuoso que se passeia gloriosamente entre a rudeza e a delicadeza, a euforia
e a letargia, o aristocrático e o selvático. Revolvam-se e consomam-se prazerosamente
nas intensas lavaredas rugidas pelos The Bateleurs, e vivenciem com
imoderada exaltação todo o dourado fulgor de um dos mais fortes candidatos a melhor álbum português do ano.
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➥ Milanamúsica Records
quarta-feira, 11 de maio de 2022
terça-feira, 10 de maio de 2022
segunda-feira, 9 de maio de 2022
domingo, 8 de maio de 2022
sexta-feira, 6 de maio de 2022
Review: 🛶 Da Captain Trips - 'Maths of the Elements' (2022) 🛶
O adorável quarteto
italiano Da Captain Trips está de regresso – cinco anos depois de
lançado o maravilhoso ‘Adventures in the Upside Down’ (aqui
descrito e elogiado) – com o seu novíssimo trabalho de longa duração ‘Maths
of the Elements’, carimbado a duas mãos com os selos editoriais das
companhias discográficas locais Vincebus Eruptum Recordings (em formato vinil)
e da BloodRock Records (em formato CD). Tal como a sua denominação assim
o sugere, ‘Maths of the Elements’ é inteiramente dedicado à
natureza e aos seus respectivos elementos clássicos. Conduzido por um sublime, mavioso,
cheiroso e ensolarado Psychedelic Rock – de chakras alinhados com os budistas
germânicos de instrumentos empunhados My Sleeping Karma – que nos
faroliza e eteriza ao longo de todo este deslumbrante sonho acordado, o quarto
álbum de Da Captain Trips passeia-se pelos verdejantes rios que estriam
a Terra, pelos bronzeados desertos que se alongam até onde a vista pode alcançar,
pelas rochosas montanhas que recortam o longínquo horizonte, pelas rosadas nuvens
que pincelam a tela crepuscular, pelos marulhantes oceanos que transudam toda
uma refrescante brisa a maresia e pelos endeusados céus de tonalidade
azul-turquesa que pavimentam todo o hall de entrada para o Cosmos.
Soterrados nas abissais profundezas da introspecção e mumificados num
inapagável estádio de nirvânica sedução, somos velejados pela reconfortante maré
de ‘Maths of the Elements’ e desaguados nas douradas praias do
paraíso. Na génese de toda esta sonhadora, gratificante e transformadora
digressão em sagrada comunhão com a natureza, surfa uma comovente guitarra de acordes
contemplativos, milagrosos, luminosos e imersivos, bafeja um baixo reflexivo de
linhas murmurantes, fluídas, serpenteadas e bailantes, tiquetaqueia uma hipnótica
bateria de refinada orientação rítmica e sobrevoa um onírico teclado de
harmoniosos, quiméricos e aquosos mugidos condimentados e empoeirados a misticismo celestial.
Este é um álbum xamânico, balsâmico e transcendente, emoldurado a resplandecente
beatitude. Percam-se e encontrem-se pelos edénicos jardins de Da Captain
Trips, e banhem-se de luz e cor neste vistoso arco-íris de inefáveis deleites.
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➥ BloodRock Records
➥ Vincebus Eruptum Recordings