segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

💽 Black Sabbath - 'Paranoid' @ Regent Sound Studio (1970)

Review: ⚡ Pastor - 'Unveil' (2019) ⚡

Os druidas austríacos Pastor acabam de provocar em mim uma estranha sensação de paladar agridoce com a publicação de um comunicado em tudo inesperado e se sentimentos contrastados. Se por um lado, aquele seu longo silêncio que se seguira ao lançamento do seu irrepreensível álbum de estreia ‘Evoke’ brotado no já distante verão de 2015 (review aqui) parecia amadurecer as suspeitas do término deste projecto, o lançamento surpresa de um segundo e – infelizmente – derradeiro álbum deixara-me boquiaberto e de coração ofegante. ‘Unveil’ representa assim a despedida oficializada de uma banda que, apesar da sua curta discografia, imortalizara em mim uma posição de grande destaque por entre as mais consagradas referências musicais. Justificando este cessar de actividade há muito anunciada de Pastor com a inteira dedicação dos seus membros no desenvolvimento criativo de projectos paralelos, o quarteto natural da cidade-capital de Viena não deixara de se reunir para presentear todos os seus seguidores com a gravação de um novo álbum (e que álbum!) que fora ontem integralmente disponibilizado no exclusivo formato digital – e com a sempre simpática possibilidade de download gratuito – através da sua página de Bandcamp oficial. Expelido de um caldeirão em intensa, esverdeada e borbulhante ebulição onde coabitam um electrizante, erosivo, dinâmico e excitante Heavy Psych à boa moda dos norte-americanos Witch, um tenebroso, obscuro, luciférico e poderoso Proto-Doom de ressonância Black Sabbath’ica, e ainda um rutilante, combativo, altivo e flamejante Heavy Metal de raiz tradicional a homenagear vultosos nomes como Judas Priest ou Iron Maiden, este ‘Unveil’ é um álbum inteiramente lavrado à minha imagem. De incontida euforia transudada por todos os meus poros, sou violentamente arremessado para o epicentro de um alucinante, ciclónico e endiabrado vórtice que me subtrai toda a lucidez e atesta de uma saturada adrenalina. A sua impactante sonoridade é fervida e locomovida a virilidade, destreza, esperteza e celeridade. Uma incessante e voraz cavalgada à rédea solta que nos faz resvalar nas costuras fronteiriças da sanidade. Entrem em explosiva e prazerosa erupção perante a simbiótica e orgásmica conjugação entre duas guitarras aparentadas e dialogantes que se engrandecem, revigoram e enegrecem na ascensão de monstruosos, dominantes, inquisidores e ostentosos Riffs de onde florescem, gritam e se endoidecem ziguezagueantes, sónicos, frenéticos e esvoaçantes solos, um baixo monolítico de linhas possantes, sísmicas, tensas e perturbantes, uma bateria impetuosa e rumorosa que irrompe em desenfreadas, arrojadas, selváticas e enlouquecedoras galopadas de consumo impróprio para cardíacos, e uma voz de tonalidade acidificada, escarpada, diabrina e azedada que completa toda esta profunda efervescência onde todos os nossos sentidos mergulham e se perdem. Chego ao final de ‘Unveil’ espiritual, sensorial e fisicamente extenuado por vivenciá-lo de forma tão submissa e apaixonada. O tranquilo e contemplativo silêncio que se lhe segue deixara o meu olhar lacrimejante a destoar com um vibrante sorriso no rosto. Que esta sua tão estonteante, turbulenta e pujante vivacidade seja glorificada e continuada nos restantes projectos destes austríacos. Nunca uma despedida soara tão triunfante como esta que Pastor nos deixara. Chegou a hora do rebanho seguir o seu próprio caminho.

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domingo, 29 de dezembro de 2019

🎖 Groovy 50th Birthday Grand Funk Railroad - 'Grand Funk' (1969)

🏜 Chelsea Wolfe

©️ Kristin Cofer / chelsewolfe.net

🥁 Cozy Powell (29/12/1947 🎗 05/04/1998)

📸 Fin Costello

Review: ⚡ Moonstone - 'Moonstone' (2019) ⚡

Do insuspeito território polaco chega-nos mais uma imponente, esverdeada e fumarenta avalanche Doom’esca. Depois de tidas em conta referências de vulto como Belzebong, Dopelord, Major Kong e Spaceslug, e outras de notabilização emergente como Seedium, Shine e Tortuga, o lado mais psicotrópico do Doom Metal local conta agora com o forte contributo dos jovens Moonstone que acabam de se estrear com o seu homónimo e impactante álbum de estreia. Oficialmente lançado pelo pequeno selo discográfico polaco Galactic SmokeHouse sob a forma física de CD, este pujante power-trio natural da cidade sulista de Cracóvia detona um lodacento, nublado, narcotizado, monolítico, granítico e imponente Stoner Doom de bússolas apontadas a bandas consagradas como Black Sabbath, Pentagram, Sleep, Saint Vitus, Electric Wizard e Bongzilla. Sombreada, amortalhada e mortificada por uma atmosfera distópica e dantesca, a intrigante, encarvoada, densa, tensa e encorpada sonoridade de ‘Moonstone’ provoca no ouvinte toda uma saturada, profunda e pesada narcose que lhe seda os sentidos e o sepulta num perfeito estádio de imperturbável prostração. De pálpebras desmaiadas, olhar eclipsado, lucidez esgotada e cabeça balanceada e arremessada de ombro em ombro, somos hipnotizados e orientados pela profana temulência vaporizada e doutrinada por Moonstone. Deixem-se absorver e embevecer por entre a viscosa, misteriosa e nebulosa reverberação tricotada por uma imponente guitarra de massivos, portentosos, enigmáticos e altivos Riffs de onde transudam alucinados, ácidos e atordoados solos ungidos a THC (Tetraidrocanabinol), sobrecarregada por um dominante baixo de linhas concentradas, demoradas, magnetizantes e musculadas, cadenciada por uma polvorosa bateria de revigorante ritmicidade e explosiva luminosidade, e ainda assombrada por uma voz gélida, distorcida e fantasmagórica que sobrevoa com profética liderança toda a enlutada e inebriada ambiência de ‘Moonstone’. Participem neste ocultista e intriguista ritual de celebração e adoração pagã, e comunguem todo o fogoso negrume de um dos álbuns mais chocantes do ano.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Review: ⚡ El Jefazo - 'Simbiosis' (2019) ⚡

Depois de em 2016 ter sido lançado o seu impactante e homónimo álbum de estreia (review aqui), o tridente ofensivo peruano El Jefazo – enraizado na cidade-capital de Lima – reaparece agora com a eclosão do seu segundo registo de longa duração, apelidado de ‘Simbiosis’ e unicamente exteriorizado até à data em formato digital através da sua página de Bandcamp oficial (ainda que com a garantia de um lançamento ultra-limitado em formato de vinil agendado para o início do próximo ano de 2020 através do influente selo discográfico local Necio Records). Tal como acontece com o seu antecessor, ‘Simbiosis’ vem atormentado, fervido e amotinado por um fumarento, tenso, denso e monolítico Stoner Doom de elevada toxicidade aliado a um rutilante, intenso, acelerado e provocante Punk Rock à boa moda dos míticos californianos Black Flag. A sua sonoridade é climatizada e apimentada por um ardente, massivo e absorvente negrume que tanto nos alcooliza, nebuliza e insensibiliza num febril estádio de profunda lisergia, como nos pontapeia, inflama e esporeia numa sensorial erupção de fervilhante euforia. Numa incessante galopada à rédea solta somos enfeitiçados e arrastados pela massiva imponência instrumental de El Jefazo à alucinante boleia de uma guitarra mastodôntica que se enegrece, avoluma e endurece em protuberantes, imperiosos, tenebrosos e intrigantes Riffs de veneração Black Sabbath’ica e se esmera na emancipação e condução de delirantes, luminosos, ácidos e atordoantes solos de ofuscante, gélida e penetrante resplandecência, um baixo murmurante de ressonância consistente, embrumada, carregada e trovejante, e uma incisiva e violenta bateria que explode a galope de uma ritmicidade fogosa, sísmica, enérgica e polvorosa. São 34 minutos de uma inquisidora, rumorosa e avassaladora cavalaria pesada que nos atropela de forma impiedosa. De salientar ainda o extravagante artwork de natureza Sci-Fi superiormente pensado, esboçado e colorido pela inventiva e habilidosa ilustradora de origem peruana Andrea Nakasato. Este é um álbum tremendamente vultoso, pungente e vigoroso que se agiganta em nós, e nos escurece e estremece com toda a sua bruta virilidade. Arremessem o escudo e as armas ao chão, e deixem-se derrotar perante o granítico fervor rugido por um dos álbuns mais corpulentos e turbulentos de 2019.

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 Necio Records

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

🎁 May Blitz - "The 25th of December 1969" (The 2nd Of May, 1971)

🎅 Lemmy Kilmister

Review: ⚡ Domo - 'Domonautas Vol.1' (2019) ⚡

Da cidade portuária e ensolarada de Alicante (situada no sudeste de Espanha) chega-nos o novo trabalho de longa duração de Domo, designado de ‘Domonautas Vol.1’ e que fora muito recentemente lançado sob a forma física de vinil pela mão do selo discográfico alemão Clostridium Records. Depois de no seu já longínquo álbum de estreia (‘Domo’, 2011), por mim aqui desconstruído e reverenciado, terem indagado pelo universo de um electrizante, psicotrópico e viajante Heavy Psych revestido e empoeirado a negrume cósmico, estes espanhóis não só remodelaram a base elementar da sua formação – passando de trio a quarteto – como são hoje influenciados e norteados por uma outra estrela orientadora que os desenraizara das suas filosofias passadas e encaminhara para os místicos domínios de um hipnótico, intrigante e épico Heavy Prog de pés soterrados nos desertos árabes e olhar içado na vertiginosa direcção dos astros. Simbolizando o primeiro capítulo de uma auspiciosa odisseia continuada já no próximo ano de 2020 com o anunciado lançamento do seu sucessor, ‘Domonautas Vol.1’ adjectiva-se como uma obra bafejada e emoldurada a uma religiosa sublimidade e banhada a uma resplandecente maviosidade que prontamente nos converte em seus devotos discípulos. Aureolada por uma altiva, pomposa e lustrosa sonoridade que nos faroliza, magnetiza e canoniza pela arenosa, tisnada e revoltosa ondulação de um vasto oceano desértico pincelado a tonalidade sépia, este renovado registo de Domo vem comprovar e ostentar todo o seu avançado estado de simbiótica maturação enquanto banda. Envolvidos e revolvidos pela sua redentora, consagrada e catalisadora musicalidade, somos colhidos e absorvidos pelas dialogantes danças exuberantemente manifestadas por duas guitarras faraónicas de tirânicos, messiânicos e opulentos Riffs de onde trepam e brotam desconcertantes, magnânimos e atordoantes solos de ofuscante beleza, pela vultosa e rumorosa reverberação de um baixo tonificado e sombreado a linhas pujantes, sinuosas e possantes, pela cintilante explosividade detonada por uma bateria de emocionante, inventiva e estimulante ritmicidade, e ainda pela egrégia liderança de uma voz fervilhante, furiosa e infernal – perseguida por um ecoante e translúcido coro angelical – que confere a ‘Domonautas Vol.1’ toda uma provocante ardência que nos cauteriza e euforiza. O mirífico artwork de natureza profética e homérica é da inconfundível autoria do talentoso ilustrador holandês Maarten Donders. Estamos na honrosa presença de um álbum verdadeiramente influente que ganha volumetria e simetria com o acumular de audições. Um disco fabuloso – de essência aliciante, principesca, romanesca e triunfante – que recoloca Domo numa destacada e prestigiada posição entre os mais consagrados nomes do panorama underground europeu.

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

🥁 Ringo Starr // Beatles

🧰 David Gilmour // Pink Floyd

# Rory Gallagher // Taste (1969)

Review: ⚡ OKO - 'Haze' EP (2019) ⚡

Da cidade costeira de Adelaide (situada na Austrália) – habitat natural de bandas como Jungle City e Stone Eyes – chega-nos o maravilhoso EP de estreia do jovem power-trio instrumental OKO. Intitulado de ‘Haze’ e oficialmente lançado no final do passado mês de Novembro através das mais variadas plataformas digitais, este irresistível registo de curta duração prende um deslumbrante, perfumado, ensolarado e extasiante Psychedelic Rock de bafagem veraneia e luminância diamantina que – de forma fluida, demorada e discreta – se desenvolve e revolve num flamejante, açucarado, inebriado e provocante Heavy Psych chamejando e atestado de endorfina. A sua sonoridade imensamente mística e paradisíaca – alicerçada numa evolutiva, ataráxica e criativa jam de simetria, textura e melosidade a fazer lembrar os afamados germânicos Colour Haze – provoca no ouvinte toda uma meditativa, lenitiva e prazerosa levitação que o eteriza e magnetiza na direcção de um imperturbável transe espiritual. De olhar semi-cerrado, sorriso perpetuado no rosto e alma intensamente arrebatada somos embalados e narcotizados pelas afagantes, oceânicas e apaziguantes brisas sonoras de OKO, que – de forma delicada e progressiva – se encaminham para um vulcânico clímax capaz de nos eclodir numa expressiva erupção de pura euforia. São 15 minutos integralmente climatizados e bronzeados por uma fascinante e desarmante maviosidade brilhantemente dedilhada por uma sedutora guitarra de maravilhosos, enternecedores e harmoniosos acordes tingidos a lisergia e de onde florescem envolventes, ofuscantes e edénicos solos de beleza ímpar, densamente sombreada por um baixo viril de linhas desenhadas e curvadas a robustez, exuberância e lubricidade, e incessantemente tiquetaqueada por uma estimulante bateria que combina a sensibilidade com a impetuosidade e a tranquilidade com a ferocidade. De enaltecer ainda o esfíngico artwork de natureza minimalista, mas imensamente ritualista e devocional – concebido pelo ilustrador e guitarrista da banda Nick Nancarrow – que transpusera para o campo visual toda a desértica e profética digressão que este EP faroliza no imaginário do ouvinte. ‘Haze’ é um registo verdadeiramente afrodisíaco que me absorvera e comovera sem qualquer inibição. Um trabalho banhado a uma magistral e estival sublimidade que me namorara e instigara a apontá-lo como um dos mais impactantes EP’s brotados no fértil solo de 2019. Agora, destes australianos espero que num futuro muito próximo com o lançamento de um registo de longa duração possam estancar esta minha ininterrupta salivação por eles causada.

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domingo, 22 de dezembro de 2019

💋 Cher, 1969

🌈 Pink Floyd '67

🏄‍♀️ Califórnia, 1964

Review: ⚡ Visdom - 'White Heart' (2019) ⚡

Depois de já no distante ano de 2015 terem apresentado o seu álbum de estreia ‘Black Soul’, os germânicos Visdom – sediados na cidade de Mainz – lançam agora o seu incrível sucessor apelidado de ‘White Heart’ e formatado tanto em digital como vinil. Baseado num enérgico e renhido braço de ferro entre um musculado, harmonioso, ostentoso e torneado Heavy Blues de aroma revivalista e um poderoso, imponente, dinâmico e fogoso Heavy Rock de tração setentista que discretamente se aproxima dos territórios de um majestoso, galopante e imperioso Heavy Metal de raiz e cariz tradicionalista, este ‘White Heart’ equilibra-se por entre uma arrebatadora e sedutora melosidade que nos recolhe as pálpebras e esculpe um sorriso no rosto, e uma desarmante, vibrante e empolgante ferocidade que nos pontapeia o ritmo cardíaco e destrava violentamente a cabeça na sua alucinante perseguição. De inspirações apontadas aos clássicos britânicos Wishbone Ash, Black Sabbath, Deep Purple e aos contemporâneos suecos Graveyard, a requintada, melódica e fibrada sonoridade deste talentoso colectivo alemão expressa-se de uma tal forma exuberante, emocionante e eloquente, que me cativara e empolgara do primeiro ao derradeiro tema. São 29 minutos inteiramente apimentados, chamejados e norteados por uma fineza, nobreza e simetria consumadas que nos aguçam e empolam os sentidos, e revestem a alma de uma pesada e profunda fascinação. Superiormente pensado e executado por duas primorosas guitarras gémeas que se agigantam e embevecem em apaixonantes, grandiosos, caprichosos e triunfantes Riffs que imediatamente nos remetem para fabulosas narrativas trazidas da idade média, e se entrançam e envaidecem em dialogantes, excêntricos, aristocráticos e serpenteantes solos de beleza e destreza sublimes, um sombreado baixo balanceado a linhas volumosas, espessas, ondeantes e rumorosas, um litúrgico e carismático teclado Jon Lord’eano de extravagantes, pomposos e gloriosos bailados, uma cavalgante, combativa e incessante bateria locomovida a sensibilidade, sagacidade, avidez e tecnicidade, e ainda por uma erótica voz de tonalidade oleosa, calorosa, áspera e melodiosa que se incendeia e formoseia de forma livre e graciosa por toda a atmosfera deste estupendo álbum, ‘White Heart’ adjectiva-se como um registo inteiramente lavrado à minha imagem, que apenas peca pela sua curta duração. Todos os ingredientes sonoros são colocados no tempo e porção certos. Deixem-se intrigar, enamorar e euforizar pela vulcânica lubricidade hasteada pelos Visdom, e experienciem com destravada, intensa e emocionada extroversão todo o vistoso e portentoso esplendor de um álbum irretocável, que figurará seguramente por entre os mais elogiados e premiados registos nascidos no presente ano de 2019.

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quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

🍁 Black Sabbath

🔌 Windhand - 'Eternal Return' (Demos)

Review: ⚡ Stones Of Babylon - 'Hanging Gardens' (2019) ⚡

Da cidade de Lisboa chegam-nos as ressonâncias babilónicas do rumoroso power-trio Stones Of Babylon com a apresentação do seu imaculado primeiro trabalho de longa duração ‘Hanging Gardens’. Com o lançamento oficial tanto em formato de CD como digital agendado para o próximo dia 27 de dezembro pela mão do influente selo discográfico português Raging Planet, este impactante álbum de estreia vem governado e assombrado por um poderoso, místico, hipnótico e religioso Mantra Doom de envergadura imperial, extravagância arábica e execução plenamente instrumental que nos escancara os imponentes portais da velha e paradisíaca cidade da Babilónia com toda a sua azáfama mercantil, frondosos jardins suspensos e uma opulenta majestosidade capaz de pasmar e cegar o Homem contemporâneo. A sua sonoridade mirífica, intrigante e ritualística – de orações apontadas aos excêntricos Deuses que norteavam a crença da civilização babilónica – tem o dom de nos ampliar as pupilas, dilatar as narinas e prontamente converter em seus devotos peregrinos. Embebidos numa meditativa hipnose que nos magnetiza, eteriza e passeia pelos ensolarados, arenosos, tisnados e fantasiosos desertos da espiritualidade interior, somos sombreados e enfeitiçados por uma pérsica, deífica e edénica guitarra que se agiganta e tiraniza em Riffs monolíticos, dançantes, deslumbrantes e graníticos de onde espreitam e timidamente se vislumbram contemplativos, ácidos e embriagados solos, um sísmico, obscuro e vigoroso baixo de pulsante, densa, tensa e ondeante reverberação, e uma polvorosa, musculada e estrondosa bateria de ritmicidade ardente, cintilante, volumosa e galopante que tiquetaqueia, vergasteia e faroliza toda esta sagrada romaria de olhar cravado no horizonte onde se debruça um sol vigilante, intenso e bafejante. De distribuir elogiosas palavras também pelo magnífico artwork da autoria do produtivo, criativo e talentoso ilustrador português Soares Artwork que traduzira com irrepreensível lealdade para o domínio visual tudo aquilo que a profética musicalidade de Stones Of Babylon hasteia e amuralha no imaginário do ouvinte. São 47 minutos de uma imersiva liturgia que nos mantém a ela atracados do primeiro ao derradeiro tema. Uma quimérica viagem no tempo até à mitológica ancestralidade do Médio Oriente, de alma atestada e anestesiada de fascinada devoção e toda uma épica narrativa cinematográfica a timonar a nossa imaginação. Deixem-se empoeirar pelo enigmático misticismo de ‘Hanging Gardens’ e comungar um dos álbuns mais messiânicos e narcotizantes de 2019.

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