domingo, 2 de fevereiro de 2025
sexta-feira, 31 de janeiro de 2025
Review: 🔥 Weed Demon - 'The Doom Scroll' (2025) 🔥
Com uma década
de demoníaca actividade, os norte-americanos Weed Demon sobem novamente
ao altar para liderar mais uma liturgia canábica que ninguém recusará comungar.
‘The Doom Scroll’ dá nome ao terceiro álbum deste potente quarteto domiciliado
na cidade de Columbus (capital do estado norte-americano de Ohio)
e a sua esverdeada, malfadada e intoxicante exalação pode ser a partir de hoje inalada
através dos formatos LP (este com a exclusiva adição da afamada faixa bónus “Willy
the Pimp” em homenagem ao extravagante Frank Zappa) e digital com o
carimbo editorial da italiana Electric Valley Records. Findada a
intrigante, esotérica, dramática e enfeitiçante introdução magicada por cerimoniosos sintetizadores
que nos viajam ao lado eclipsado da religiosidade, os poderosos Weed Demon
explodem numa intensa combustão de negrura, rudeza e robustez, oxigenada por um
monolítico, demolidor, esfíngico e inquisidor Doom Metal e um pantanoso,
resinoso, corrosivo e fogoso Sludge Metal, só apagada pela ornamentada,
relaxada, breve e incensada passagem instrumental – elegante e tristemente tricotada pela
açucarada melancolia do Blues – que fecha as cortinas a este impiedoso
álbum de alma profanada. Germinada e desenvolvida na sombra de vultosas
referências como Black Sabbath, Sleep, The Melvins, Weedeater,
Bongzilla, Windhand e Belzebong, a rugosa, viscosa, fumegante
e montanhosa sonoridade de Weed Demon – com altíssimo teor de THC
– chega aos nossos pulmões e narcotiza a nossa lucidez à boleia de uma guitarra
Tony Iommi’esca que se enegrece, enrijece e adensa numa temida marcha
militar de volumosos, oleosos e enfáticos riffs de onde escoam e ziguezagueiam
luzidios, ácidos e esguios solos, um possante baixo de pesada, obscura e
fibrada reverberação, uma inflamada bateria metralhada a sísmica impetuosidade,
e vocais assanhados de pele urticante, flamejante e espinhosa, ocasionalmente
perseguidos e substituídos por uma ecoante, fantasmagórica, etérea e hipnótica
voz de nitidez e limpidez feminina. ‘The Doom Scroll’ é um álbum infernal, dominado pelo fervor, vigor e pela arrogância. Uma monstruosa, sequiosa e
furiosa avalanche que nos atropela e sepulta nas abissais profundezas da negrura
cósmica. Incinerem-se nele.
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quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
quarta-feira, 29 de janeiro de 2025
terça-feira, 28 de janeiro de 2025
segunda-feira, 27 de janeiro de 2025
domingo, 26 de janeiro de 2025
sexta-feira, 24 de janeiro de 2025
Review: 🌵 Rose City Band - 'Sol y Sombra' (2025, Thrill Jockey) 🌵
Devo começar
por revelar que o meu olhar dilata e incendeia sempre que vejo o anúncio do lançamento
de um novo álbum desta apaixonante banda norte-americana superiormente capitaneada
pelo talentoso multi-instrumentista Ripley Johnson (Wooden Shjips / Moon Duo), e este seu quinto trabalho de longa duração intitulado ‘Sol
y Sombra’ – descortinado na íntegra hoje mesmo através dos formatos LP, CD
e digital pela mão da Thrill Jockey – não foi excepção. Em todos os
álbuns de Rose City Band reside um mélico e anestésico sentimento de
pura nostalgia que me absorve, comove e amolece o coração. Uma estranha, mas
reconfortante, sensação que me faz sentir saudades do que não vivi. Natural da
cidade de Portland (Oregon, EUA), este adorável quinteto
passeia-se livre, sossegada e graciosamente a trote de um relaxado, ritmado,
quente e condimentado Country Rock de ornamentada moldura Western,
caleidoscópica coloração psicadélica, elegante roupagem clássica e atmosfera marcadamente
Americana (uma amálgama de géneros musicais onde confluem o Folk,
o Country, o Rhythm & Blues e o Rock & Roll) que deleita
e jornadeia o ouvinte por entre açucaradas, íntimas e honestas baladas – tanto ensolaradas,
quanto anoitecidas – que se serpenteiam pelos longos desfiladeiros da nossa
alma. Montados num idoso cavalo sonolento, de ritmo pausado, que trilha o
infindável e bronzeado tapete arenoso do deserto, de olhar içado e cravado no inalcançável
Sol crepuscular – debruçado sobre as rochosas montanhas que recortam o longínquo
horizonte – que vai derretendo numa vasta palete de tons purpúreos que vão amadurecendo,
enegrecendo e entregando aos esponjosos braços da noite com vista desabrigada
para o frondoso e luminoso jardim cósmico, vagueamos – levemente embriagados e
pesadamente apaixonados – pela introspectiva, lenitiva, agradável e imersiva musicalidade
de ‘Sol y Sombra’. Uma libertadora, solitária e transformadora passeata
pelo velho deserto, onde a natureza está entregue a ela mesma, driblando
imponentes saguaros que se espreguiçam na direcção dos céus vítreos, aspirando
a fresca e aromatizada brisa, bebericando ardente tequila e naufragando,
absortos, nas areias movediças dos nossos pensamentos. De sorriso esculpido no
rosto, cabeça bailante e olhar sonhador, embarcamos nesta gratificante viagem de
afago mental, principiada na bocejante madrugada do amarelecido verão e com destino incerto
para lá do Sol posto, à aliciante boleia de uma voz sussurrante que nos acaricia,
um baixo pulsante que nos aquece, uma guitarra ziguezagueante que nos enternece,
um arrepiante pedal steel que nos desarma, uma bateria simplista que nos
galopa em slow-motion. ‘Sol y Sombra’ é um álbum melancolicamente belo.
Um registo terno, gentil e delicado que nos faz sorrir de lágrimas nos olhos. Bronzeiem-se
na sua luzência medicinal e reconfortem-se na sua paradisíaca serenidade. Não
quero despertar deste sonho sublimemente musicado.
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quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
quarta-feira, 22 de janeiro de 2025
terça-feira, 21 de janeiro de 2025
segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
domingo, 19 de janeiro de 2025
sexta-feira, 17 de janeiro de 2025
Review: 🐊 Krokofant - '6' (2025, Is It Jazz? Records) 🐊
O ano musical de 2025 principia da melhor maneira com o lançamento do muito aguardado sexto álbum da irreverente e sensacional formação norueguesa Krokofant – recém metamorfoseada de quinteto para tridente – pela mão do jovem selo discográfico local Is It Jazz? Records nos formatos LP, CD e digital. Em ‘6’ este dinâmico power-trio eclode numa sónica, simbiótica e triunfante improvisação, ostentando toda uma liberdade, virtuosidade e sagacidade criativa ao serviço de um imaginativo, magnetizante, empolgante e explosivo Jazz Fusion de sofisticado sotaque Avant-garde’sco – que colhe inspiração em clássicas referências dos 70’s como Mahavishnu Orchestra, Return to Forever, Soft Machine e Nucleus – com indiscretas aproximações aos territórios do tenso e dramático Heavy Prog de carregadas feições King Crimson’eanas e do exótico e carnavalesco Jazz Funk de paladar The Eleventh House feat. Larry Coryell. Conduzida através de sinuosas, cerebrais e aventurosas composições que se vão desatando e desvelando de forma subtil, versátil e gradual, a camaleónica, enfeitiçante e psicotrópica sonoridade deste novo registo de Krokofant – o meu favorito da banda, devo confessar – inebria, inflama e rodopia o ouvinte do primeiro ao derradeiro tema. Um excitante, ciclónico, catatónico e estonteante bacanal, de convergência e divergência instrumental, superiormente capitaneado por uma incrível guitarra – fiel discípula de John Abercrombie – de enleantes, reptilianos, insanos e ondeantes riffs que desaguam em angulosos, derrapantes, espaventosos e alucinantes solos de arquitectura labiríntica, uma bateria bombástica de influência Billy Cobham'ica que agarra firmemente as rédeas do protagonismo à esponjosa boleia de ritmos intrépidos, rebuscados, extravagantes e acrobáticos, um saxofone esdrúxulo de caligrafia John Coltrane’sca que se evidencia em sopros esquizofrénicos, ziguezagueantes, desassossegados e devaneantes, um baixo elástico de linhas polposas, flexuosas e proeminentes e um enigmático sintetizador de narcotizante odor cósmico. São 45 minutos alimentados a delirante, caleidoscópico e electrizante psicadelismo jazzístico que nos empoeira o olhar de matéria estelar e faz salivar abundantemente os ouvidos. ‘6’ é um álbum verdadeiramente sensual, buliçoso, fervoroso e irresistível que nos conserva fascinados, extasiados e rendidos ao longo de todo o seu serpenteante corpo temporal. Uma obra venerável, irretocável e magistral que toca as fronteiras da perfeição. Este é um disco inteiramente pensado, organizado e executado à minha imagem. Embarquem nesta radical montanha-russa em constante mutação e vivenciem – de emoções em debandada – toda a vibrante, alucinógena e contagiante fogosidade de Krokofant.
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