quinta-feira, 19 de junho de 2025
quarta-feira, 18 de junho de 2025
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domingo, 1 de junho de 2025
sábado, 31 de maio de 2025
sexta-feira, 30 de maio de 2025
quinta-feira, 29 de maio de 2025
quarta-feira, 28 de maio de 2025
terça-feira, 27 de maio de 2025
Review: ⚔️ Witchcraft - 'Idag' (2025, Heavy Psych Sounds) ⚔️
Com vinte e
cinco anos de existência, os suecos Witchcraft ostentam hoje o invejável
estatuto de banda histórica. Depois de um início fulgurante, produtivo e
triunfante, onde a formação nórdica nos presenteou com o lançamento de três
emblemáticos álbuns, imensamente reverenciados, editados num intervalo temporal
de apenas três anos – escrevendo, assim, com incontornável destaque o nome da
banda em letras garrafais na numerosa lista dos herdeiros de Black Sabbath
– que tive o privilégio de experienciar ao vivo no já longínquo verão espanhol
de 2009 durante a inesquecível e saudosa segunda edição do Festival de Rock
y Psicodelia Castell de Guadalest, os druidas Witchcraft mergulharam num inesperado,
estranho e evolutivo processo de desinspiração musical, um conflito de
identidade cujo pináculo foi alcançado com o fabrico do largamente incompreendido
‘Black Metal’ em 2020, semeando um crescente sentimento de desconfiança e
desalento no seio da sua populosa legião de seguidores. É então que a banda,
como que num súbito despertar de uma longa hibernação, reaparece com a promessa
deixada pelo seu líder Magnus Pelander de que o novo álbum que se
avizinhava mostraria o melhor lado de Witchcraft e recuperaria a sua gloriosa
reputação junto dos fãs. E assim aconteceu. ‘Idag’ representa o tão
ansiado regresso às velhas raízes dos suecos e o acordar de uma banda lendária que
passou demasiado tempo à margem das apreciações elogiosas. Com o carimbo da companhia
discográfica romana Heavy Psych Sounds e exteriorizado sob os formatos
LP, CD e digital, este sétimo trabalho da banda originária da cidade de Örebro
é forjado no intenso fogo de um sisudo, denso, tenso e amaldiçoado Proto-Doom
de trevosas ressonâncias Black Sabbath’icas e Pentagram’icas, e posteriormente
arrefecido num pastoral, rústico, acústico e medieval Folk de clima
outonal. Alternando entre malfadadas, intimistas e romancistas baladas de desarmante
beleza gótica e pesadas, fibrosas e umbrosas galopadas de espadas e lanças
empunhadas, ‘Idag’ é um álbum sepulcral, melancólico e escultural, de enfeitiçante
envolvência nocturna, abraçado pelo obscurantismo e marcado pelo ocultismo, que
é tocado à bruxuleante luz das lavaredas dançantes de uma fogueira que deflagra
na negra intimidade da noite, num bosque silencioso e sob o olhar atento de intimidantes
corujas, cujas faúlhas crepitantes, incandescentes e esvoaçantes se perdem e
apagam a caminho da Lua cheia. A sua sonoridade poética, profética e pagã –
repleta de diabruras que nos seduzem e conduzem ao lado eclipsado da
religiosidade – anoitece e estarrece o nosso espírito. Sorumbática, fascinante
e enigmática, esta nova obra de Witchcraft representa tudo aquilo por
que há tanto tantos ansiavam. Um contador de histórias, trovador e conquistador, que, num feitiço inquebrável, nos absorve e comove da primeira à derradeira canção. Bailem compenetrados e de
corpos desnudos e transpirados à irresistível boleia de uma guitarra feiticeira
que se meneia em volumosos, líricos, lamentosos e rugosos riffs de onde
são escoados ácidos, serpenteantes e alucinados solos, um baixo de reverberação
altiva, carrancuda, nervuda e opressiva, uma bateria bailante, ritmada e
provocante de pratos flamejantes e tambores troantes, e uma voz vampírica,
melódica e embruxada de pele pálida, avinagrada e enregelada, cantada em duas línguas
(sueca e inglesa). A portada de ‘Idag’ dá palco à belíssima pintura do
ilustrador sueco John Bauer (1882–1918) denominada “En riddare red
fram”. Comunguem este sacramento de Witchcraft e deixem-se cair na
sua tentação. Este é um ritual que nos incendeia de paixão. Um registo que toca
a perfeição. Reconvertam-se a esta religião.
segunda-feira, 26 de maio de 2025
domingo, 25 de maio de 2025
sábado, 24 de maio de 2025
quinta-feira, 22 de maio de 2025
Review: 🌅 Causa Sui - 'In Flux' (2025, El Paraiso Records) 🌅
Em cada anúncio
da produção de um novo álbum dos escandinavos Causa Sui vejo um renovado
motivo para sorrir e fazer explodir toda uma pirotecnia emocional. Tem sido assim ao longo das duas últimas décadas. Desde
2005 que a banda dinamarquesa – domiciliada na cidade de Odense –
materializa todos os seus já numerosos rasgos de inesgotável criatividade,
ostentando uma invejável fertilidade musical que resulta numa considerável,
admirável e heterogénea discografia detentora de um amplo espectro sonoro que viaja
o ouvinte de imersivos, anestésicos e deíficos estádios contemplativos até
outros mais fogosos, vibrantes, rugosos e agressivos. ‘In Flux’ – o novíssimo
álbum do quarteto, editado pela insuspeita El Paraiso Records através
dos formatos LP (entretanto já esgotado), CD e digital – representa mais uma sagrada
peregrinação de Causa Sui pelos vastos oceanos da introspecção. Um
bálsamo de consagração espiritual que comungamos e nos faz vogar pelas sossegadas,
mornas e translúcidas águas de um reconfortante, arejado, ensolarado e
deslumbrante Psychedelic Rock de suor latino entrelaçado num relaxante, hipnótico,
exótico e dançante Krautrock de inspiração germânica. Radiante, fluído, acetinado e enfeitiçante,
‘In Flux’ é uma obra de estonteante e desarmante beleza ambiental – de clima
estival e sabor tropical – que nos ancora num imperturbável estado de ataráxica
sonolência. A sua sonoridade letárgica, nirvânica e seráfica – herdeira de
bandas como Grateful Dead, Santana, Malo, The Mermen, CAN, Agitation Free e Gila
– seduz, circunda e conduz o imaginário do ouvinte pelas paradisíacas praias –
de afago mental e luzência virginal – onde reluz um dilatado e amarelecido Sol de
bafo quente, grasnam gaivotas que sobrevoam todo um imenso mar azul-turquesa de
ondas que desmaiam numa lenta rebentação espumosa, e se estende um extenso areal
de coloração bronzeada e textura aveludada onde enterramos os nossos pés e
arremessamos o olhar embriagado até onde a vista pode alcançar. Um polposo,
fresco, alaranjado e delicioso cocktail que ingerimos enquanto
perseguimos com o olhar maravilhado surfistas golpear, ziguezaguear e cavalgar
a crista das ondas durante um mágico crepúsculo que nos inunda de luz solar e de
uma inapagável sensação de pleno bem-estar. De lucidez embaciada e tomados por
uma leve embriaguez que nos eteriza e canaliza através de um delirante caleidoscópio
rodopiado a lisérgico psicadelismo, somos cativados e gravitados em órbita de
uma guitarra bailante que se espreguiça em acordes repetitivos, esponjosos, odorosos
e lenitivos, um baixo vagabundo de linhas ondeantes, sombreadas, delicadas e
magnetizantes, uma bateria cerimonial de ritmos desinibidos, acrobáticos, jazzísticos
e tribais, e um envolvente teclado de frescas, doces, leves e romanescas harmonias.
‘In Flux’ é um registo edénico, dirigido a fluidez, ligeireza, subtileza e
placidez. Filho de um ofuscante experimentalismo colhido no jardim cósmico,
este novo álbum de Causa Sui é um poderoso narcótico que nos liberta
numa transcendência divina. Um registo ternurento, meloso, lustroso e temulento
– habitado por atmosferas atraentes e misteriosas que se vão desvelando e
esclarecendo vagarosa e progressivamente – que nos massaja e viaja pelas perpétuas
planícies da reflexão. Destaco, com vaidade, o límpido e sublime tema "Moledo" que faz uma merecida alusão ao SonicBlast (festival português do qual
sou orgulhosamente parceiro media e que tem lugar todos os verões na costa norte
de Portugal, gozando hoje de uma crescente reputação mundial) pelo qual a banda
nutre uma incomensurável estima, agora corporizada e imortalizada na sua música.
Percam-se e encontrem-se numa compenetrada dança pelos serpenteios enleantes
deste ritualista ‘In Flux’. Este é provavelmente o álbum mais zen de Causa
Sui e seguramente um dos mais bonitos e agradáveis da sua imaculada
discografia.
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quarta-feira, 21 de maio de 2025
terça-feira, 20 de maio de 2025
segunda-feira, 19 de maio de 2025
Review: 🌵 El Saguaro - 'Enthusiecstasy' EP (2025, Pink Tank Recs) 🌵
Portugal tem uma nova
banda de que se orgulhar. Domiciliada em Lisboa, a recém-nascida e muito
promissora banda El Saguaro acaba de desabrochar o seu fabuloso EP de
estreia denominado ‘Enthusiecstasy’ e
editado pela germânica Pink Tank Records através de uma ultra-limitada,
colorida e magistral edição em vinil (prensagem de apenas 300 cópias) e do
formato digital. Farolizada por um torneado, oleoso, estiloso e musculado Heavy
Blues de tracção setentista que dá as mãos a um fogoso, ritmado, apimentado e libidinoso Heavy
Psych de salgado sabor oceânico, a tropical, estival, exótica e afrodisíaca
sonoridade deste irreverente tridente presta uma bonita homenagem a clássicas
referências como Jimi Hendrix, Santana, Grand Funk Railroad,
Cactus, Steppenwolf, Leaf Hound e Pappo’s Blues,
assim como a outras bandas da contemporaneidade como Radio Moscow, The
Heavy Eyes, Amplified Heat, Prisma Circus, Cachemira, Joy, The Black Wizards e The Dues. De rédeas firmemente empunhadas, texanas empoeiradas,
esporas ensanguentadas, pele bronzeada e visão encandeada pelo refulgente Sol
debruçado nas longínquas montanhas que recortam o inalcançável firmamento,
cavalgamos pelas tisnadas, quentes e aveludadas areias do deserto, contornando
imponentes cactos que se espreguiçam na direcção do imenso e desanuviado céu
azul-turquesa, e inalando a fresca, aromatizada e revitalizante brisa ventilada
pela noite estrelada que se avizinha. ‘Enthusiecstasy’ é um queimante trago
de tequila misturada com alucinante mescalina que nos prazenteia e incendeia
numa fervura de boas vibrações. Um saloon situado e isolado no coração
do deserto solitário onde nos refrescamos, relaxamos e regeneramos antes de saltarmos novamente para as costas do cavalo e vogarmos os arenosos e aventurosos mares. Compartimentado por
quatro apaixonantes temas de almas aparentadas e condimentado por uma aura de
forte odor vintage, este arrebatador EP é soberbamente musicado por uma
guitarra sexy que se evidencia na condução de chamejantes, picantes, eróticos e
viciantes riffs e na centrifugação de um colorido caleidoscópio de solos
borbulhantes, ácidos, alucinados e electrizantes, um baixo groovy de
linhas hipnotizantes, encaracoladas, fibradas e serpenteantes, uma bateria funky
de ritmos provocantes, vibrantes, desembaraçados e cativantes, e uma assanhada,
felina, áspera e galante voz cantada em dois idiomas. De destacar ainda o
inacreditável artwork onde o nosso olhar se perde, naufraga e não mais
vem à tona – de créditos apontados à brilhante ilustradora portuguesa Echo Echo Illustrations – que confere a este deslumbrante EP um dos mais belos rostos
que me recordo de ver num disco, fazendo dele uma obra de compra obrigatória. São 24 minutos de inapagável encantamento que
nos faz salivar e recostar num autêntico oásis espiritual. ‘Enthusiecstasy’
é um registo verdadeiramente irresistível, de corpo reptiliano e intensa
sedução, que só peca pela sua curta duração. Um dos mais fortes candidatos a EP
do ano está aqui, na religiosa e espirituosa efervescência de El Saguaro. Banhem-se
e bronzeiem-se na sua alta radiação ultravioleta.
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